Capítulo VII (Parte IV)

1.4K 97 10
                                    


Sentindo a respiração dele sobre as pálpebras que havia abaixado rapidamente, para esconder o pânico que a invadira, Anahí estava envergonhada da onda de alívio que tomou conta de si ao lembra-se de aqueles olhos brilhantes e cor de âmbar eram cegos e não podiam desvendar o segredo que de um coração que batia apressado de esperança, mas que não conseguia se livrar do peso da dúvida.

Tomando o silêncio de Anahí como permissão, Alfonso colocou as mãos espalmadas sobre a sua cabeça e começou a deslizá-las vagarosamente para baixo, traçando a curva das maçãs do rosto, a inclinação dos ombros delicados, continuando ao longo dos braços que ela conservava soltos e imóveis ao lado do corpo.

Com as emoções num verdadeiro turbilhão, sentindo-se assustada como um passarinho preso numa armadilha, Anahí imaginava, em pânico, se aquele grego, tão experiente, que antes escolhia as suas companheiras entre as mulheres mais lindas e sofisticadas do mundo, fazia uma ideia da sensualidade e do desejo que suas mãos despertavam nela, à medida em que deslizavam, suavemente, ao longo da coxa. Será que ele percebia o estrago que provocava em seus nervos à flor da pele, quando se demorava mais em ponto, como se os pensamentos dele tivessem se desviado do que fazia?

- Você é mais esbelta do que Belinda, apesar de ter a mesma altura também se parece com ela fisicamente?

- Tanto quanto uma cópia desbotada se parece com o original – ela respondeu, sentindo pela primeira vez na vida ter que admitir isso.

Essa resposta corajosa despertou nele uma reação que surpreendeu Anahí. Abruptamente seus braços a envolveram, puxando-a de encontro ao peito musculoso com uma força assustadora.

- Por que está se diminuindo tanto? – ele perguntou num murmúrio entre terno e zangado, que a fez corar, confusa. – Eu me recuso a acreditar que uma pessoa que tem os cabelos macios como seda, cuja pele tem a textura do veludo e o perfume atordoante de uma rosa branca, cujo corpo treme de encontro ao meu, traindo uma natureza tão apaixonada quanto o "meltemi", o vento tempestuoso que refresca o calor de nossos verões quentes e secos, possa ser menos que perfeita. "Parakalo!" – ele gemeu de repente. – Tenha pena do meu sofrimento...deixe-me provar a sua doçura!

Alfonso apossou-se dos lábios de Anahí num movimento rápido, com a precisão de uma abelha à procura do néctar, e beijou-a até que ela se sentiu exausta, desgastada pelo mar tempestuoso de uma paixão turbulenta.

A felicidade de Anahí não diminuiu durante as horas que se seguiram. Juntos, eles dançaram ao som da música dos violinos e das flautas, e ouviram as canções de amor que a habilidade do tocador de "bouzouki" tornava intoleravelmente emocionantes, despertando dor e prazer nos corações de seus ouvintes, transformando a simpatia em amizade, e inflamando a paixão até quase o ponto de virar amor.

O cansaço foi completamente esquecido quando todos se sentaram para comer. No meio de uma atmosfera de alegria, os ovos vermelhos foram distribuídos, e uma competição animada começou, cada um batendo seu ovo no do vizinho, até que só sobrou um deles com a casca vermelha inteira. Depois disso, foi servida uma sopa deliciosa, e em seguida os carneiros que estavam sendo assados em espetos colocados sobre um braseiro.

Anahí ouviu o riso de Alfonso soar, em resposta à brincadeira de um dos convidados. Rapidamente ela virou a cabeça na direção do som tão pouco conhecido, uma exclamação de surpresa saindo de seus lábios entreabertos, e foi imobilizada pela visão dos olhos cor de oliva, atentos como os de um caçador, e que pareciam deixar um rastro de fogo sobre o seu rostinho feliz.

- Você me parece cansada,"elika" – ele brincou, causando um choque em Anahí ao fingir que não podia enxergar.

Ela corou, imaginando se ele realmente a achava tão doce quanto o mel grego, e ficou vermelha como um pimentão quando ouviu o marido confidenciar, em tom de intimidade:

- Nossos convidados entenderão perfeitamente se os deixarmos agora... – Sem lhe dar chance de protestar, Alfonso levantou-se, puxando-a pela mão.

– "Kalispera", meus amigos! – falou em voz alta para a multidão que sorria abertamente. – Ou melhor, "hereti", pois já é quase manhã! Minha noiva está cansada e espero que nos desculpem por nos retirarmos agora.

- "Endaksi! Endaksi" !

Os gritos de aprovação os acompanharam quando, com a mão do marido pousada de leve sobre o seu ombro, Anahí guiou-o na direção da casa, a boca saca, o rosto corado e as emoções num verdadeiro turbilhão. Apesar de confusa, ela estava ansiosa, e muito de sua timidez tinha desaparecido sob as carícias leves, os murmúrios tranquilizadores, os beijos rápidos e o vinho grego, com a qual fora bombardeada durante aquelas horas de sonho.

Um tremor súbito percorreu seu corpo quando, num acordo silencioso, passaram sem se deter pela porta de seu quarto, na direção da suíte nupcial. O "sperveri" brilhava à luz da lua, tão delicado quanto uma teia de aranha, e Anahí parou no meio do quarto com a cabeça baixa, sentindo-se mais uma vez culposamente grata pela cegueira que impedia Alfonso de ver sua enorme timidez.

- Não tenha medo de mim, "agape mou" – ele murmurou virando-a de frente para ele, os olhos cor de oliva brilhando como os de um gato na escuridão. – Eu vou ser delicado, prometo!

Seu toque fez uma torrente de emoções escaldantes percorrer o seu corpo gelado.

- Oh, Alfonso... – ela sussurrou, caindo nos braços dele como uma criança confiante. – Agora que sei que você me ama, o único medo que tenho é de perdê-lo! Nikos disse que você tem o toque de Midas...Por favor, eu lhe imploro, dê-me amor... Ensine-me a transformar em ouro o que não tem valor!

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora