Capítulo III (Parte III)

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O alívio que sentiu quando Nikos retirou os pratos fundos da mesa foi tão grande, que teve vontade de rir. Mas logo em seguida uma onda de pena a invadiu, pois Alfonso moveu a cabeça de tal forma que a luz caiu em cheio sobre a sua testa, mostrando as gotas de suor que a cobriam.

- A sua chegada foi realmente oportuna, Srta. Puente - ele disse de repente, com a voz firme.

- Foi mesmo?- ela conseguiu perguntar, com muito esforço.

- Foi, sim. Sabe, não pretendo passar o resto da minha vida como um eremita, e preciso treinar um pouco antes de reassumir o meu lugar na sociedade. E uma parte essencial do tratamento é adquirir confiança suficiente para comer na presença dos outros. – fez uma pequena pausa, depois continuou - Como não tenho nenhuma vontade de obrigar meus amigos a suportar as minhas falhas, a melhor coisa que podia me acontecer era arranjar uma cobaia para praticar... Alguém cuja opinião não tivesse a menor importância.

Anahí recebeu o insulto com uma calma que deixou Alfonso Herrera enraivecido, o que confirmou suas suspeitas de que ele tinha dito aquilo de propósito... e que demonstrava quanto a atitude de Belinda o magoara. O fato de ela entender o motivo por que ele fazia comentários tão maldosos ajudou-a muito, e Anahí chegou mesmo a aproveitar o restante da refeição, composta de pratos simples de peixe grelhado e carne de vaca, preparada por Cris à moda típica da Grécia.

No final, achando que não poderia deixar de elogiar o jantar, Anahí se dirigiu timidamente a Nikos:

- Sua esposa é uma cozinheira maravilhosa, Nikos. Por favor, diga-lhe que gostei muito de minha primeira refeição grega.

O sorriso de contentamento de Nikos foi de orelha a orelha, mas foi seu patrão quem respondeu, com total falta de delicadeza:

- Nós, gregos, podemos ser famosos pelo modo simples como vivemos, mas sempre consideramos uma arte preparar uma refeição, e uma cozinheira como Cris é um verdadeiro gênio. Já os ingleses dão mais importância ao ambiente que os cerca do que ao que comem. Chegam mesmo a passar fome, para viverem rodeados de luxo! É por isso que a maioria dos outros povos não dá muito valor à opinião deles, em outros assuntos.

Quando a refeição terminou, eles passaram para uma pequena sala de estar. Nikos serviu-lhes café e colocou uma bandeja com uma garrafa de "brandy", uma caixa de prata cheia de cigarros e um isqueiro em cima de uma mesinha ao lado da poltrona de seu patrão. Então retirou-se, deixando-os sozinhos.

Anahí tomou seu café lentamente, seguindo com os olhos cada um dos cuidadosos movimentos de Alfonso, sem perceber que segurava sua xícara com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Quando a mão máscula e bronzeada levantou a tampa da caixa e procurou, desajeitadamente, um cigarro, ela deve de se dominar para não ajudá-lo e seguir o instinto que lhe dizia para não interferir. No entanto, quando ele colocou um cigarro entre os lábios e aproximou o isqueiro acesso de sua ponta, não se conteve e levantou-se de um salto, temendo por sua segurança.

- Deixe que eu acendo para você!

- Não , obrigado! – Alfonso replicou cerimoniosamente. – Eu dou um jeito.

- Mas...

O isqueiro tocou a ponta do cigarro, acendendo-o.

- Eu sou um cego profissional, agora, Srta. Puente. – O grego inclinou-se para trás e deu uma tragada exagerada em seu cigarro. – Aprendi este truque algumas semanas atrás, quando ainda estava deitado em uma cama de hospital, com os olhos vendados. No começo, chamusquei várias vezes os dedos, e cheguei até a queimar os lençóis da cama uma vez, para desespero da enfermeira de plantão. Mas agora sou perfeitamente capaz de acender um cigarro sozinho.

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora