Durante o resto do dia Anahí se escondeu em seu quarto, trêmula como um animalzinho preso em uma armadilha. Seu nervosismo não melhorou em nada quando Cris e Lira entraram e começaram a transferir suas coisas para a suíte nupcial. No fim, não conseguiu mais aguentar e, numa atitude quase histérica, colocou-as para fora, fechando a porta com força.
Não comeu nada durante tarde toda, e só o pensamento de ter que descer para o jantar preparado com todo o carinho por Cris, em homenagem aos noivos, deixava-a doente. Sabia que, por mais que se esforçasse, não conseguiria partilhar aquela refeição com um homem de corpo e alma marcados, um homem cuja infância amarga o deixara convencido de que todas as mulheres eram mercenárias, cujo afeto nunca era dado livremente, mas só em troca de alguma coisa! Um homem que tinha alcançado o sucesso, levado por uma fria determinação e uma desconfiança cínica e total por seus semelhantes!
Vagarosamente, a escuridão da noite tomou conta de tudo. Olhando pela janela, Anahí contemplou, maravilhada ,as inúmeras luzinhas que pareciam sobrevoar a superfície azulada do mar, mas que na realidade não passavam das lanternas de acetileno, amarradas na proa dos "grigri",os barquinhos vermelhos que saíam todas as noites do porto, à procura de polvos e lulas.
A batida na porta ecoou através do quarto silencioso com um tiro, assustando-a.
- Vá embora! – O pedido espontâneo saiu aos trancos de seus lábios frios. – Não quero falar com ninguém!
Anahí não havia pensado em trancar a porta, pois os criados sempre pediam licença para entrar. Mas a pessoa que estava ali, evidentemente não tinha intenção de ser ignorada. A maçaneta girou, a porta abriu e uma figura alta entrou no quarto. Antes mesmo de ouvir sua voz, e la já sabia que era Alfonso.
- Você vai ter que me guiar, pois não conheço a disposição dos móveis deste quarto – ele disse delicadamente, sem o menor tom de comando na voz. Parecia tão vulnerável, tão dependente de sua cooperação, que Anahí teve de sufocar a vontade que tinha de recusar ajuda.
- Estou sentada ao lado da janela – orientou, esforçando-se para falar com calma. – E não existe nada entre nós.
Com uma segurança que mostrava claramente a confiança total que tinha nela, Alfonso avançou na direção de sua voz com tanta rapidez que ela não pôde evitar uma exclamação de surpresa.
- Eu sou como uma abelha atraída pelo perfume das flores – ele explicou. – E nenhum perfume é tão gostoso quanto o das rosas. Use-o sempre – pediu, parando a poucos centímetros de onde Anahí estava – não mude nunca. Para mim, ele se transformou em uma característica sua, algo que só associo a você.
- Uma vez que este é o único perfume que tenho – ela lhe disse cerimoniosamente, desconfiada daquela mudança de atitude e do charme que a estava deixando mole – um presente de aniversário extravagante da minha irmã, sou forçada a usá-lo com cuidado, e só em ocasiões especiais.
- E que ocasião mais poderia ser mais especial do que o dia do seu casamento? – Alfonso perguntou suavemente, sorrindo com uma ternura que a fascinou.
- O ... que você quer ? – ela quis saber, lembrando-se com amargura de que ele era um homem diabólico e que aquele ar de bondade só podia ser fingimento.
- Eu vim lhe pedir desculpas – ele murmurou, num tom que fez Anahí se arrepiar da cabeça aos pés. – Quero que me perdoe e tente não dar importância aos comentários que faço, levado pela frustração e pela dor. Eu tento combater a depressão que às vezes toma conta de mim, e quase sempre consigo. Mas hoje – continuou, passando a mão pela testa num gesto de desânimo e cansaço – a cerimônia do nosso casamento, as pessoas, o barulho deixaram-me tão tenso que não pude suportar. Não posso lhe dizer quanto sinto, Anahí, ter descarregado a minha frustração em você.
Em toda a sua vida, Anahí nunca havia conseguido resistir a um pedido daqueles, principalmente quando feito com tanta ternura e humildade. Mas naquele momento ela hesitou , pois uma vozinha interior a avisava para tratar com cautela o homem que tinha o seu coração nas mãos. Ainda estava indecisa, sem saber que atitude tomar, quando ouviu o som distante de uma canção, que chegava através da janela aberta. Era uma canção alegre, cantada por muitas vozes e acompanhada pela música de flautas, violinos, cítaras e bandolins.
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A Substituta (Adaptada)
Fanfic"Pecaminosamente rico e bonito, pecaminosamente atraente!" Assim a irmã de Anahí, Belinda, descreveu Alfonso Herrera, o grego de quem estava noiva. Mas havia um problema: Belinda agora havia fisgado um peixe maior e não estava mais interessada em A...