Capítulo XI (Parte IV)

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Num tom de voz que a vez estremecer, assustada, ele ordenou:

- Você não deve sair do meu lado, entendeu? Sua voz me faz ver, e eu dependo de suas instruções para me movimentar. Não quero ser puxado por aí como se fosse uma mula com tapa-olhos. Portanto, a sua presença me é imprescindível.

No entanto, quando caminhavam por uma sala cheia de casacos e estolas de pele, a atitude de Alfonso já havia se suavizado, talvez por causa da docilidade e obediência de Anahí. Com tristeza, ela reparou numa pela de raposa prateada, jogada sobre um sofá, o que dava a impressão de que o animal estava vivo e dormia pacificamente. Estremecendo, virou-lhe as costas, dando de frente com outra prova da crueldade com que os homens tratam os animais e da vontade que as mulheres têm de ser invejadas, mimadas e admiradas a qualquer custo!

Com um grito deliciado, Belinda deslizou os braços pelas mangas de um casaco longo de lince, apertando-o de encontro ao corpo, ao mesmo tempo em que fazia pose e admirava seu reflexo no espelho. Cheia de uma inveja que a fazia até gaguejar, disse para a irmã:

- Este casaco... não é simplesmente do outro mundo?

- Os animais que foram massacrados para que esse casaco pudesse ser feito já são mesmo de outro mundo – Anahí respondeu com uma aspereza que fez as sobrancelhas de Alfonso se erguerem.

- Você estava falando sério, quando disse que não gosta de peles? – Ele parecia tão quanto um caçador que deparou com um animal estranho, totalmente desconhecido.

- Não gostar é um modo muito fraco de descrever o que sinto a respeito da destruição dos animais selvagens, sem razão nenhuma, a não ser providenciar mais um símbolo de status para um bando de mulheres estragadas por mimos – Anahí declarou, cheia de repugnância pela atmosfera de crueldade dada pelas fileiras e fileiras de cabides, onde estavam pendurados os restos de animais que já haviam sido magníficos.

Achando difícil enfrentar a indignação da irmã, que geralmente era tão calma e meiga, Belinda comentou com aspereza:

- Que ridículo! – Então, com medo de que a atitude de Anahí a privasse do casaco que apertava de encontro ao corpo, como uma mulher possessa, disse: - Não se esqueça de que muitos animais, especialmente o mink, são criados com o único fim de serem...

- Assassinados? – Anahí perguntou, doente com a ideia de Belinda de que, se havia muitos daqueles animaizinhos, o destino deles não tinha a menor importância.

Levada pela melhor das intenções, Helen interrompeu a discussão, aproximando-se de Anahí com um casaco curto nas mãos. Depois, demonstrando que não conhecia nem um pouco o temperamento sensível de sua cliente, pediu-lhe para examinar com atenção o casaco, macio como veludo, e feito inteiramente com peles de veadinhos recém-nascidos.

- Como você sente aversão por peles, talvez se interesse por esse casaco... Ele foi feito, sob encomenda, para uma de nossas clientes, mas, se gostar, podemos mandar fazer um exatamente nas suas medidas. – Sem esperar pela resposta de Anahí, Helen aproximou-se mais com o casaco, convidando-a a passar os dedos pela pele macia. – Como pode ver, foi feito com as melhores peles. Só os filhotes sadios, sem nenhuma marca no corpo, são separados para serem abatidos.

Guiado pela exclamação horrorizada de Anahí, Alfonso estendeu a mão e agarrou seus dedos trêmulos. Mas em vez de lhe dar o conforto que ela esperava, zombou com ironia:

- Acho melhor pararmos, Helen, antes que a minha esposa resolva sacrificar a própria pele para salvar os veadinhos da extinção. – Puxando Anahí de lado, ele murmurou, de modo que só ela ouvisse: - Sabe, seus protestos seriam mais convincentes se eu não tivesse escutado seus cochichos com Nikos. – De um modo abrupto, que a assustou, o murmúrio dele transformou-se num som sibilante: - Será que você precisa tornar evidente, para todo mundo, que prefere a companhia de qualquer pessoa à minha...até mesmo a de um criado?

Com desprezo, soltou a mão dela e girou nos calcanhares, ordenando:

- Pegue o casaco que desejar, Belinda. Você merece uma recompensa por admitir que a felicidade de uma mulher está ligada à excitação de ver vitrines e comprar tudo o que o marido pode pagar. Pelo menos, você não é orgulhosa demais para se recusar a ser mimada e acarinhada, nem tão teimosa a ponto de não reconhecer que a mulher é uma bandeja de prata, destinada a servir apenas maçãs de ouro!

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora