Capítulo III (Parte II)

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A leve batida na porta de seu quarto assustou-a, tirando-a de seu transe.

- Entre! – pediu com a voz completamente rouca, e repetiu a ordem depois de clarear a garganta .

Uma mocinha entrou e, curvou-se numa mesura, cumprimentou com timidez:

-"Kalispera". Meu nome é Lira, e me mandaram subir para ajudar a senhorita a desfazer as malas.

- Obrigada, Lira. – Anahí forçou um sorriso. – Mas não é preciso desfazer a minha mala, pois só vou precisar de minha camisola e da escova de dentes, que estão na frasqueira.

- Oh, mas... – Lira começou a protestar, depois parou, corando embaraçada.

- O que foi?- Anahí sabia exatamente como a garota estava se sentindo e, com um sorriso, continuou - Por favor, não fique embaraçada. O que ia me dizer?

- É que o "Poncho" está esperando a senhorita para jantar – a mocinha disse, encorajada. - E quando o vi, ele estava tão...impaciente! – Ela se interrompeu, tapando a boca como se estivesse espantada com o próprio atrevimento.

Mas Lira não deve ter sentido nem a metade do espanto de Anahí.

- O "Poncho" está esperando por mim? – perguntou, ficando em pé. – Mas eu nunca pensei...

Em pânico, ela percorreu o quarto com os olhos, à procura de uma inspiração. Não sabia o que devia fazer, falar, ou vestir! Então, como um balde de água fria, a consciência de que podia descer para jantar até nua, que ele nunca ficaria sabendo, a não ser que lhe contassem, atingiu Anahí.

Sua aparência externa não tinha a mínima importância. O que importava é que ia ter a oportunidade de explicar a Alfonso Herrera a sua participação naquele drama. Poderia lhe dizer que, se soubesse da verdade, jamais teria dado a notícia do rompimento de seu noivado com Belinda daquele modo cruel e sem tato.

Apressada, Anahí correu para o banheiro, para lavar o rosto com água fria e tentar apagar os traços de lágrimas. Depois, resignada com o fato de que não teria tempo para trocar de roupa, passou rapidamente um pente pelos cabelos, antes de sair do quarto.

Cris estava atravessando o hall, carregando uma bandeja de prata coberta por uma campânula, também de prata, quando ela acabou de descer a escada. Apesar de não falar inglês, a grega conseguiu, por meio de gestos, dizer-lhe que estava a caminho da sala de jantar. Assim , Anahí acompanhou-a vagarosamente, dando-se tempo para controlar a respiração, que estava ofegante por causa da pressa com descera do primeiro andar.

Alfonso já estava sentado à mesa, com Nikos ao lado, quando ela entrou, e foi com o coração apertado que Anahí notou o tom embaraçado que havia na voz dele, quando lhe disse:

- Obrigado por ter vindo, Srta. Puente. Como está é a primeira vez que vou jantar acompanhado, desde que perdi a visão, devo lhe pedir para me desculpar, se por acaso eu deixar a gravata entrar na sopa.

Nikos percorreu com um olhar cheio de simpatia para o rosto vermelho de Anahí, enquanto a servia. Em seguida, serviu o patrão e afastou-se para trás da cadeira dele, onde ficou como um anjo da guarda, atento aos seus menores movimentos.

Anahí achou aquilo a coisa mais difícil que já tinha feito em sua vida: forçar uma colher de sopa atrás da outra, através da garganta dolorida com o esforço que fazia para não chorar, ao mesmo tempo em que tentava desviar os olhos que se voltavam sempre, como se estivessem hipnotizados, para a cabeceira da mesa, torcendo para que o grego moreno e orgulhoso não cometesse nenhum erro. Devagar e com cuidado ele tomava a sua própria sopa, até quase esvaziar o prato.

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora