Capítulo VIII - (Parte III)

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O rubor se espalhou pelo corpo de Anahí, que continuava nos braços do marido, trêmula da cabeça aos pés, profundamente envergonhada de sua fraqueza, mas apaixonada demais para se afastar dele. A possessividade daquele grego a assustava um pouco e, tímida, ela escondeu o rosto de encontro ao peito másculo. A certeza de que ele sabia a razão que a levara a ter um gesto tão infantil veio quando ouviu seu riso baixo e grave e sentiu seus dedos procurando-lhe o queixo.

Inclinando a cabeça de Anahí para trás, até que ela teve a impressão de que seria devorada pelo fogo que ardia em seus olhos, Alfonso lembrou com delicadeza :

- É uma pena que eu não possa ver a sua nudez, meu anjo. E se eu pudesse, tenho certeza que a sua relutância em me mostrar seu corpo adorável me deixaria pasmo. Afinal, não existe mesmo nada de chocante em um corpo nu. Adão e Eva viviam nus, e basta a gente ver o desembaraço com que agem as crianças pequenas, quando estão sem roupas, para perceber que as noções de decência que nos levam a cobrir o corpo não são próprias do homem e da mulher, mas nos foram inculcadas.

Naquele momento Anahí não poderia, por nada no mundo, dizer ao marido que considerava sua agressividade masculina suficiente, quando estava vestido, e que a nudez a aumentava ainda mais. Nem poderia lhe dizer que as roupas serviam para manter um mínimo de decoro entre duas pessoas que se sentiam atraídas fisicamente, refreando o impulso de passar os dias e as noites fazendo amor... como ele parecia ter a intenção de fazer. E como ela queria que ele fizesse!

Este pensamento foi tão chocante para Anahí, que teve o mesmo efeito de um banho de água fria. Abruptamente ela voltou ao normal e, raciocinando com frieza, viu-se como uma mulher sem moral, sujeitando-se de boa vontade a ser um brinquedo nas mãos daquele conquistador profissional, um homem que insistia em reclamar seus direitos de marido, mas que não escondia o fato de que ainda estava apaixonado pela irmã dela!

Cheia de desprezo por si mesma, Anahí livrou-se dos braços do marido de um salto, afastando-se o máximo possível da cama nupcial e do "sperveri" que a envolvia.

Na mesma hora Alfonso pulou da cama, um Colosso nu, decidido a mostrar quem era o senhor ali.

- Não me toque! – Anahí gritou, zangada. – Eu devia estar louca...

As palavras saíam aos arrancos de seus lábios, enquanto ela vestia apressadamente um penhor e amarrava o cinto com força, com se aquele gesto a protegesse de alguma coisa.

No entanto, fazendo uso de seu extraordinário instinto para descobrir onde ela estava, Alfonso avançou rapidamente e agarrou-a pelos ombros, prendendo-a de encontro à parede.

- Louca, por ter gostado de fazer amor comigo? – Ele a sacudiu com força, sem dó. – Reconheça, Anahí, que você gostou. Eu sei disso! Eu poderia entender melhor essa atitude tola se nós não fôssemos casados legalmente...

- Nosso casamento não passa de uma farsa, de algo completamente sem validade! E pensar que eu costumava achar que o amor e o casamento andavam juntos! Mas, para você, o matrimônio não significa mais do que um contrato de negócios frio e sem sentimentos, que não tem nada a ver com o coração!

- O fato de nosso casamento não ter passado pelo ritual costumeiro do namoro e do noivado, nem ter tido nenhuma dessas bobagens românticas que as mulheres tanto gostam, não a torna menos minha mulher – ele murmurou, num tom de voz grave e perigoso. – Não há motivo para que sua consciência de puritana se sinta ofendida só porque você descobriu que tem um marido com todas as qualidades de um amante experiente!

A arrogância e o convencimento dele era demais, mesmo para um deus grego, e despertaram em Anahí uma raiva que ela não estava acostumada a sentir normalmente. Numa voz tensa e cortante, replicou:

- Não duvido que o tipo de mulher com que você está acostumado a conviver ache que um homem tem que ser bonito, ou rico, quem sabe até mesmo autoritário, para ser atraente. Mas eu não sinto nenhuma atração pelos homens sem imaginação, que só pensam em satisfazer seus próprios desejos. Eu gosto da calma, da gentileza e do senso de humanidade...e dou muita importância, também, à capacidade de rir de si mesmo. – Anahí fez uma pequena pausa antes de concluir, baixinho: - E posso lhe garantir que você, infelizmente, não tem nenhuma dessas qualidades.

Ela teria achado cômica a expressão de surpresa do marido, se o ambiente não estivesse tão pesado, tão cheio de tensão, por causa de suas emoções conflitantes. Já devia fazer muitos anos que o senhor de Karios não ouvia uma crítica. Ele havia lutado, com unhas e dentes, para abrir seu caminho rumo ao sucesso, mostrando coragem e uma determinação fria e audaciosa, o que lhe dava o respeito até mesmo de seus inimigos, no mundo cruel e impessoal dos negócios. E era, por isso, provavelmente, que o desprezo dela o havia atingido.

- Maldita! – Alfonso xingou com voz rouca, puxando-a com brutalidade de encontro ao corpo musculoso.

Então, enfurecido pela barreira de algodão que ela colocara entre ambos, arrancou o penhoar dos ombros esbeltos e frágeis, num único puxão. Colocando depois as mãos espalmadas nas costas da esposa, aproximou-a tanto de si, que nem mesmo um suspiro passaria entre seus corpos nus.

- Não tente me ensinar boas maneiras, minha professorinha inglesa. Os homens da Grécia, a terra dos patriarcas, ainda insistem em ser os senhores da casa e exigem que suas esposas continuem escravas dos seus desejos! Eu preciso de você agora, meu anjo, por isso não lute contra mim – ordenou, roçando com os lábios a boca trêmula de Anahí. – Deixe que a nossa relação sexual seja um motivo de prazer, e não um castigo.

Anahí resistiu com todas as forças que lhe restavam, sabendo que estava derrotada antes mesmo de começar. Mas, levada por seu espírito indomável e pela coragem do desespero, além de uma boa dose de orgulho, não foi capaz de ceder sem luta.

No entanto, todos os seus esforços foram em vão, pois Alfonso levantou-a nos braços com a maior facilidade e, sentindo o gosto salgado das lágrimas de Anahí nos lábios que colara aos dela, caminhou para a cama, onde a depositou gentilmente.

- Eu o odeio! – ela soluçou. – Quase tanto quanto odeio a mim mesma...

- Pois então, não deixe de me odiar, meu anjo – ele murmurou com zombaria – porque eu adoro o modo como você me odeia...

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora