Capítulo XIV (Parte III)

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Perguntas, respostas, explicações, tudo foi esquecido por aquele grego impaciente, que não podia tolerar mais um momento de espera. Anahí foi abraçada com força, esmagada de encontro ao corpo rijo e musculoso, que tremia de ansiedade e desejo, e beijada até que a sede que ele sentia de sua doçura fosse saciada. Então, antes que as respostas apaixonadas dela despertassem mais ainda o seu desejo, Alfonso dominou com esforço sua paixão, segurando Anahí bem junto a si, mas completamente imóvel.

- Eu adoro você, "Annie" – jurou, com voz rouca de emoção. – Tudo o que eu tenho é seu, para você fazer o que quiser. Então, por que você ainda mantém uma certa reserva, por que não se entrega totalmente a mim? Onde posso encontrar a chave capaz de abrir esse cantinho secreto de sua alma?

Anahí não fingiu que não entendia o que ele queria dizer.

- Eu amo você demais, Alfonso – disse com voz trêmula – mas a confiança não chega de uma hora para outra... Há pouco tempo, você estava apaixonado por Belinda... Eu mesma vi o modo como vocês se beijaram, na noite anterior à sua partida da ilha!

Ele soltou-a, envolvendo seu rosto ansioso com mãos carinhosas.

- Eu pensei que estivesse beijando você – contou com simplicidade. – Naquela mesma tarde, eu havia censurado você por sua frieza, por isso, quando senti seu perfume e percebi que dois lábios tinham se encostado em meu rosto, imaginei que aquele era o seu modo de me pedir desculpas. Além disso – continuou com voz dura – quero esclarecer uma coisa, definitivamente: eu nunca amei a sua irmã. Achei divertido alimentar a vaidade dela durante algum tempo, pois Belinda e aquele bando de gente estúpida, que são amigos dela, pareciam ter a certeza de que ela era uma espécie de sereia, que seria capaz de enfeitiçar qualquer homem que quisesse.

- Mas, e as cartas que você escreveu – Anahí protestou – as ameaças que você fez, quando Belinda se recusou a casar com você?

- Fiz aquilo para punir a sua irmã – Alfonso esclareceu calmamente, mostrando a parte vingativa de sua natureza grega. – Eu estava abismado com a completa falta de sensibilidade que ela mostrou ao romper o nosso noivado, e nem conseguia imaginar o efeito que uma atitude daquelas poderia ter sobre um homem na minha situação, que estivesse realmente apaixonado por ela. E resolvi castigá-la um pouquinho. Não posso lhe dizer quanto fiquei surpreso, quando recebi o recado de que uma certa srta. Puente estava esperando para ser apanhada, no aeroporto.

Quando, com os olhos brilhando, cheios de ternura, Anahí colocou-se nas pontas dos pés, para lhe dar um beijo de perdão, Alfonso rodeou a sua cintura com as mãos para puxá-la mais para perto. Mas logo parou, imobilizado pela surpresa.

- Há alguma coisa diferente em você!

Então, fechando os olhos, usou as mãos para explorar o corpo da esposa, em braile. O impacto causado pela sua descoberta foi tão grande, que durante alguns momentos ele permaneceu num verdadeiro estado de choque, sem conseguir pronunciar uma única palavra. Mas o rubor e o ar confuso de Anahí deram-lhe a resposta que ele queria.

- "Minha esposa será tão fértil quanto a videira. E meus filhos serão como as oliveiras em volta de minha mesa?"

Alfonso citou os versos como se fossem uma pergunta, com voz trêmula de emoção. E quando ela abaixou a cabeça, num gesto afirmativo, ele envolveu-a nos braços, aninhando-a de encontro ao peito com tanta ternura que Aahí se sentiu a mais amada das mulheres.

- Meu doce anjo! – Ele enterrou os lábios na curva delicada do pescoço da esposa, de modo que suas apaixonadas palavras saíram abafadas, misturando-se com as lágrimas que nenhum homem grego tem vergonha de derramar. – Perdoe-me pelo tormento que lhe causei. Se você deixar, eu juro que vou passar o resto dos meus dias tentando reparar o meu erro.

- Não, meu querido, não faça isso. – A tentativa de Anahí de brincar com o marido, provocando-o, foi frustrada pela tremenda emoção que ela sentia. – Por que perder tempo aprendendo a fazer penitência, quando você é capaz de fazer amor de um modo tão maravilhoso?

Na mesma hora, o corpo de Alfonso ficou rígido.

- Quer dizer que você não se importa mais de receber os meus carinhos grosseiros? Não sente mais nojo de mim, agora que posso ver?

Apesar de as palavras terem sido pronunciadas num tom de voz baixo e abafado, era impossível deixar de ver a dor que havia nelas; com uma exclamação de tristeza, Anahí rodeou o pescoço do marido com os braços.

- Eu menti para você, Alfonso! – assegurou com veemência, lágrimas de arrependimento escorrendo-lhe pelo rosto.

- Então, você mentiu para mim duas vezes – ele lembrou com severidade, levantando a cabeça e deixando que ela visse a expressão amorosa que havia em seus olhos e que demonstrava que ele já a perdoara. – Você me garantiu que seu rostinho era feioso. – Examinou-a durante alguns segundos, antes de continuar: - Sabe, uma vez Nikos comparou-a a um botão de rosa entreaberto, cheiroso e de pétalas aveludadas. A minha cegueira impediu que eu conhecesse mais do que o perfume interior, mas agora, "Annie", mal posso esperar para me perder no perfume, na visão e no toque de uma flor encantadora, a minha deliciosa Anahí Puente, o meu anjo!



*** THE END ***

A Substituta (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora