A acusação era tão injusta que Anahí ficou sem palavras para se defender. Era compreensível que Alfonso estivesse com a consciência pesada, pois não se pode esperar que um homem que está a ponto de se divorciar da esposa, para se casar com outra, sinta-se totalmente inocente.
Mas essa tentativa de jogar a culpa de tudo sobre ela era realmente imperdoável!
- Sinto muito, mas não posso fazer nada, se a sua consciência o condena, Alfonso – ela disse com calma, caminhando para a porta. – Já cooperei até onde podia, e se agora você está querendo uma absolvição, deve ir procura-la em outro lugar.
Antes de ir para o seu quarto Anahí passou pela sala de estar, para pegar seu frasquinho de perfume. A caixa ainda estava em cima da mesa, mas quando ela levantou a tampa viu, com desgosto, que a metade do líquido havia se derramado sobre o forro de cetim verde pálido. Examinando melhor o frasquinho, Anahí constatou que ele estava destampado, apesar de ela ser capaz de jurar que o tampara com todo o cuidado, antes de recolocá-lo em seu ninho de cetim.
Aborrecida com a própria falta de cuidado, enxugou-o e tampou-o novamente, a cabeça cheia de lembranças das horas felizes que havia passado com Alfonso na Cidade Velha. Com saudade, lembrou-se da divertida tolerância que ele havia demonstrado, quando percebeu que ela estava percorrendo os bazares à procura de presentes baratos; do modo
como Alfonso rira com vontade, depois de assistir à sua primeira tentativa de fazer negócio, quando comprara uma esponja pelo preço que o bazar ao lado oferecia duas!
Será que então ele sabia que o nosso casamento estava para terminar? Anahí pensou, com uma lágrima triste escorrendo pelo rosto. Aquele casamento havia começado com a chuva da boa sorte caindo sobre a capela, no dia em que fora celebrado, tinha continuado de tempestade em tempestade, a não ser pelos breves momentos de felicidade, tão intensa que chegava a ser dolorida. Na certa ele sabia, e por isso havia escolhido aquele perfume para ela: a fragrância retirada de uma rosa esmagada e espezinhada!
Vagarosamente ela voltou para o seu quarto e abriu uma gaveta para guardar o frasco de perfume, dando com um pacotinho que continha o presente que havia comprado para Alfonso, algum tempo atrás, e do qual tinha se esquecido completamente. Cuidadosamente desfez o embrulho e olhou para o objeto que estava na palma de sua mão: uma borboleta verde clara, feita de ônix, um material delicadamente veiado, muito comum naquelas ilhas. Com um dedo, Anahí traçou a curva de uma asa entreaberta, imaginando se aquilo traria a mente dele o voo das borboletas do bosque, que ele tanto gostava de admirar, quando ainda tinha o dom da visão.
Num impulso, resolveu entregar a borboleta a Alfonso, como uma lembrança, pois ela já tinha a sua: uma parte da qual nunca se separaria, o filho infinitamente precioso que carregava no ventre. Só o pensamento de dar à luz o filho, ou filha, de Alfonso, trouxe um sorriso de felicidade a seus lábios, um sorriso que desapareceu quando ela caminhou até a janela que dava para o jardim e viu o marido deitado numa espreguiçadeira, aparentemente cochilando à sombra de uma árvore. Como se o destino tivesse resolvido acabar de vez com as esperanças de Anahí, Belinda apareceu, andando na ponta dos pés, na direção dele. Com uma confiança que só podia ter nascido do fato de se saber querida, ela inclinou-se para beijá-lo no rosto.
Com um soluço de dor, Anahí virou as costas para a janela, tendo ainda na mente a imagem de Alfonso levantando-se rapidamente para abraçar Belinda e capturar sua boca, num beijo longo e ardente.
Durante o resto do dia evitou o marido, fazendo longos passeios solitários pela praia, descansando de vez em quando nos recantos mais escondidos do jardim. Não almoçou, pois sabia que estava angustiada demais para comer, e quando finalmente arrastou o corpo exausto para o refúgio do seu quarto, decidiu que pediria a Cris para lhe mandar alguma coisa numa bandeja, pois não queria ter que se submeter à tortura de jantar com Alfonso e Belinda.
Mas quando, atendendo a seu pedido, Cris lhe mandou uma bandeja com um prato de polvo cozido, ela percebeu que, mesmo correndo o risco de privar seu bebê de alimentação, não poderia comer aquilo.
- Leve isto daqui, Lira! – pediu, enjoada pela lembrança de um polvo marrom e selvagem sendo retirado do mar e jogado com força no chão, para ser em seguida esfregado com movimentos circulares de encontro a uma rocha, até expelir um líquido espumoso e adquirir as cores cinza brilhante, que mostrava aos experientes pescadores que ele estava pronto para ir para a panela. – Traga-me um pouco de pão e queijo. E um copo de leite também, por favor.
O sorriso com que Lira acolheu suas palavras quase fez Anahí entrar em pânico. Além de serem muito francas, aquelas camponesas gregas eram difíceis de enganar, e ela já sentira, várias vezes, os olhos especulativos de Cris sobre seus seios arredondados e a barriga levemente aumentada.
Seria um verdadeiro desastre se agora uma delas deixasse escapar um comentário que revelasse a Alfonso que a esposa, que mal podia tolerar, estava grávida de um filho que ele não desejava.
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A Substituta (Adaptada)
Fiksi Penggemar"Pecaminosamente rico e bonito, pecaminosamente atraente!" Assim a irmã de Anahí, Belinda, descreveu Alfonso Herrera, o grego de quem estava noiva. Mas havia um problema: Belinda agora havia fisgado um peixe maior e não estava mais interessada em A...