O Jackson me fita sério com seu olhar misterioso, profundo e familiar. Ele já estava o fazendo havia alguns segundos e isso estava me trazendo um certo desconforto.
-Você é meio vesga.
Ele diz e solta um ar que estava preso, seguido de uma longa e alta gargalhada.
-Isso é sério, Jackson?!- reviro meus olhos.
Nós estávamos no meu novo lar. Eu estava morrendo de preguiça pra arrumar as coisas no seu devido lugar e entimei ao Jackson a vir. E, bom, ele veio.
-Eu nunca vi tanta roupa na minha vida.- diz. -Estou chocado. Olha só, dizem que vermelho combina comigo.- ele põe um vestido perto do corpo e eu reviro os olhos, puxando-o logo em seguida.
-Esse vai para a pilha de doação.- dobro o vestido. -Pega aquele sapato de corrida ali e põe lá dentro. Aquele tênis amarelo também vai pra doação.
-Mimimi!- ele faz uma voz irritante e um fantoche com a mão. -Você vive dando ordens.- ele bufa e faz o que eu mando.
-E você sempre acaba fazendo.- pisco e rio.
Ele me olha desafiador e vai se aproximando balançando os dedos das mãos.
-A não.- vou me afastando bem devagar. -A. Não. Não. Mesmo.
Ele sorri maroto e começa a correr atrás de mim para tentar fazer cócegas.
Só me alcançou quando estava jogada no chão, me contorcendo de dar risadas.-Sai daqui, Jackson! Isso foi uma ordem!- rio ainda mais.
Ele segura meus pulsos e prende minhas pernas nas suas e então, aquilo que era para ser divertido, passou a ficar tenso, com um climão.
O Jackson sorri fraco e eu retribuo.
Merda.
Tudo ao nosso redor se cala e até as estrelas lá fora param para nos ouvir.
Alguém à minha esquerda limpa a garganta, fazendo com que a gente se afaste.
-Trouxe comida japonesa!- Tássia ergue as sacolas.
-Nossa heroína!- o Jackson se aproxima dela. -É roupa que não acaba mais...- ele pega sua janta japonesa, se senta no chão e começa a comer.
Dou uma pausa na arrumação também. A semana foi super cansativa; acabei de me divorciar e isso consome metade dos meus pensamentos. Estou tentando organizar a minha casa, mas eu sempre preciso viajar!
Tanto é que coincidentemente, encontrei o Mattew, o Breno e o Victor no aeroporto.
-Eu pretendo acabar isso o quanto antes.- digo. -Quero poder dormir na minha cama!- coloco as mãos nas costas e me jogo para trás.
Limpo os lábios, bebo o refrigerante e volto a arrumar minhas coisas.
-O chão parece ser agradável.
-Jackson.- olho para ele. -O chão é a minha única opção e eu não estou em posição de reclamar.
-Eu não estou em posição de reclamar!- ele me imita.
-Como você consegue ser tão irritante?!- dobro um short e coloco na parte onde ficam os jeans.
-Você me acha irritante, Tassinha?
-Só de vez em quando, Jackson.
Eu rio baixinho de dentro do closet.
-Sim, gente!- volto para perto deles. -Vocês ficam com os jeans e eu separo as roupas que vão para a doação. Só falta isso e os sapatos.
Eles me ajudam a organizar as coisas e meia noite é o horário em que o Jackson dobra sua última peça de roupa.
Ele olha para a Tássia, olha pra mim e revira os olhos.-Já deu.- bufa e se levanta. -Vai embora agora, Tassinha?
-Vou sim. Se importa, Mel?- ela se levanta.
-Não.- sorrio. -Aliás, o Jackson vai quebrar meu galho te levando pra casa!- suspiro.
A Tássia recolhe seus pertences e eu os levo até a porta.
-Muito obrigada, gente!- beijo a bochecha da Tássia.
-Estamos aqui pra isso, Melzinha!- ela beija minha bochecha.
-Ela tá, eu não.- o Jackson ri e beija o topo da minha cabeça. -Se cuida e verifica debaixo da cama pra não ter monstro.- ele balança os dedos e eu reviro os olhos.
-Eu não tenho cama, seu maduro...- resmungo e ele ri. -Até logo!- dou um tchauzinho. -E não se peguem no elevador!- grito e eles gargalham.
-Pode deixar!- o Jackson responde e quando as portas estão se fechando ele finge agarrar a Tássia.
Ou pelo menos eu acho.
Tranco o meu apartamento e respiro fundo novamente, finalmente finalizando o meu closet.
As peças que ficaram para a doação, permaneceram no canto do quarto. Nem banho eu tomei. Me joguei numa cama improvisada e durmo.
Acordei assustada e pingando de suor. Era de madrugada quando despertei de um pesadelo com o Peter.
Lavo meu rosto, bebo um copo de água gelada e me jogo na cama improvisada pra mexer no celular. O Breno estava off e por que diabos eu estava vendo isso?!
-Não, Melissa!- respiro fundo e tento manter meu controle. -Você é mais que isso.
Bloqueio o celular, apago a luz e fito o teto, contando ovelhinhas para cair no sono.
***
Seis da manhã o meu despertador apitou.
Tomo um banho muito gelado (já que eu ainda não tenho chuveiro quente) e visto uma roupa de malhar.Me olho no espelho. Cara limpíssma e tão leve quanto uma pena.
Amo ficar assim. Me sinto ótima.
Amarro meu cabelo num rabo de cavalo firme e alto, coloco fones de ouvido e saio do prédio no pique.
Me alongo do lado de fora e começo a correr.
Não morava perto de uma praia, mas morava perto de um lugar sossegado. Graças a Deus.
Quando já havia corrido o suficiente, paro para respirar e descansar as pernas. Estava completa e totalmente ofegante.
Respiro fundo e suspiro alto. Amo suspirar alto. Dá ideia de alívio, sabe?
Sentada, na minha, vejo do outro lado, num ponto um pouco distante, um homem.
O Peter, para ser mais exata.
Arregalo os olhos e sinto meu coração no pique da corrida, mas três vezes mais.
De lá, ele sorri e eu pude me lembrar de cada cena daquele dia. Do seu toque e da minha rendição por desistência, depois de muito lutar.
Por um tempo eu passei a ter nojo de mim mesma e o Peter voltou das profundezas do inferno. Com certeza o diabo expulsou ele de lá. Não é possível.
-Você n-não é real.- resmungo. -É coisa da sua cabeça, Melissa Cavalcantti.-bufo.
Me levanto com o objetivo de voltar para casa, ainda escutando música. Para ser mais exata, Katy Perry aos gritos.
Vou assoviando e na metade da música começo a correr novamente.
Faço isso até um puxão no meu braço me fazer parar e encarar os olhos cheios de fúria e ódio. Ele sorri como a morte.
-É bom te ver, Melissa.
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O Idiota do Meu Marido
ChickLitMelissa e Breno voltaram. Casados e com problemas que, para resolvê-los, precisarão apagar o passado porque só assim, o amor deles prevalecerá.