Capítulo 2

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A agente C4R0L1N3 estava voltando para o quartel general. Sua última missão tinha sido um sucesso, assim como todas as anteriores, ela tinha pego a maleta com o seu contato, um homem de sobretudo e chapéu e, como parte da missão, amarrou as pontas soltas. Agora ela estava indo de volta ao QG para treinar e se preparar para a próxima missão. Todavia, antes de continuar, ela tinha uma parada para fazer, o cemitério da cidade onde estava. Segundo suas pesquisas, lá havia uma mulher enterrada e, de acordo com os registros, ela havia prestado queixa do desaparecimento de sua filha, além de que a mulher, quando fez a ocorrência, tinha idade para ser a mãe da agente C4R0L1N3, quem sabe não fosse, era isso que a agente esperava.

Assim que chegou no cemitério, rapidamente achou o túmulo que procurava, parou e ficou olhando para as inscrições presentes na lápide da falecida mulher. Depois de um tempo a agente C4R0L1N3 disse:

- Eu espero que seja você, estou cansada de ficar procurando. Se realmente for você, espero que tenha deixado pistas sobre mim, sobre quem eu sou. Eu vou investigar mais, se realmente for você, eu voltarei

Após dizer essas palavras, a agente C4R0L1N3 deixou o cemitério. Ela tinha 20 anos e desde que se lembrava estava nessa vida de missões, "desde que se lembrava" não significava muita coisa, ela não se lembrava de nada antes da sua primeira missão. Para falar a verdade, ela tinha lapsos de memória e eles sempre eram os mesmos. Ela numa espécie de cama, amarrada, a luz estava forte, cegando-a, ela sentia dor, muita dor. Pelo canto do olho, no lado esquerdo conseguia ver alguns utensílios cirúrgicos, alguns deles ensanguentados, já do lado direito, ela podia ver que tinha algum tipo de bolsa que estava injetando algo, uma substância nela. Nesse momento, ela ouviu um barulho bem forte, como se fosse de uma porta sendo aberta com força, também conseguia ouvir uma voz feminina, mas não a compreendia, em seguida barulhos de tiros e depois, mais nada, tudo ficava branco e as memórias de sua primeira missão voltavam.

Esse lapso de memória atormentava a agente C4R0L1N3 durante muito tempo, mas nunca comprometeu as suas missões, só a fez ficar determinada em encontrar seu passado, ela por alguma razão achava que a voz feminina pertencia a sua mãe e desde os 14 anos, época da sua primeira missão, vinha tentando encontrá-la, mas sem sucesso. Enfim, a agente chegou ao QG e foi saudada pelo seu chefe, senhor I, que disse :

- Parabéns agente C4, mais uma missão completada com sucesso

- Qual a próxima missão ? - a agente respondeu sem nenhuma emoção na voz ou no rosto

- Você é direita, sem muito rodeio, gosto disso. Sua próxima missão é se infiltrar num complexo coreano e extrair todas informações presentes no sistema de computadores deles, e lembrando que... - o senhor I dizia, mas foi interrompido

- "Eu não existo, não sou ninguém" - a agente recitou a frase que ouviu vezes demais durante sua vida, ou o que se lembrava dela - Quando eu devo partir ?

- Amanhã pela manhã - o senhor I respondeu e agente C4R0L1N3 saiu para a sala de treinamento.

Enquanto ela estava a caminho da sala de treinamento, ela esbarrou de frente com Cid, um jovem agente, nerd, que ficava a cargo de ser o seu "anjo da guarda", no sentido de que ele ficava no QG e monitorava os sinais vitais dela, além de ser um exímio hacker e ajudá-la remotamente em campo, porém Cid era um tanto quanto sonso, coisa que irritava a agente C4R0L1N3, naquele caso em especial, sua atitude de sonso a deixou furiosa, pois ele era um pouco mais baixo que ela e ela estava usando um sapato que a deixava um pouco mais alta - não eram um salto alto, pois ela odiava - quando ele esbarrou nela, seu rosto ficou praticamente enterrado no decote que ela usava naquela noite e ela percebeu que ele não tinha tanta vontade de sair dali, por isso o agarrou pelo pescoço, levantou ele do chão e começou a enforcá-lo enquanto dizia :

- Nunca mais, nunca mais faça isso novamente ou eu vou te matar aqui mesmo. Estamos entendidos ?

- Sim... - Cid respondia com dificuldade

- Sim e... - A agente C4R0L1N3 disse apertando mais a garganta do outro agente

- Me... des...cul...pe, não... vai... mais... a...con...te...cer - ele disse e seu rosto já estava ficando roxo

Depois disso a agente C4R0L1N3 o soltou e seguiu caminho para a sala de treinamento. Aquele era o único lugar em que ela se sentia mais próxima de casa, ela não lembrava se tinha ou não uma casa. "casa" era só um termo para indicar que aquele lugar era o único que por algum motivo a fazia sentir-se conectada com o seu passado. Hoje a agente C4R0L1N3 iria treinar sozinha, ela já havia conquistado primeiro lugar nos ranks de melhor combatente e melhor atiradora e ninguém ousava desafiá-la, em parte por causa da sua habilidade e em parte porque temiam que ela os matasse no treinamento. A agente C4R0L1N3 tinha a fama de nunca facilitar, ela lutava pra valer mesmo num treinamento, mesmo que o treino fosse com algum recruta, ela não se importava.

"Perfeição é o mínimo necessário nesse trabalho", aquela era uma de suas frases que percorriam todo o QG em conversas sobre ela, com essa frase, liderança nos ranks e seu sucesso em todas as missões era fácil de compreender o porquê dela ser a agente de ouro, o motivo de orgulho do chefe, entretanto suas opiniões pessoais quanto à rentabilidade da agente C4R0L1N3 não impediam o senhor I de barrar a busca da agente pelo seu passado. "isso ainda vai acabar te matando" era o que ele sempre dizia a ela, mas nunca funcionava. Enquanto ela ainda mostrasse um rendimento excelente nas missões e mantivesse sua lealdade para com a causa deles, o senhor I não via problema nenhum em deixar a agente C4R0L1N3 correr de um lado para o outro atrás de seu passado, que mal sabia ela - ou assim o senhor I pensava - estava guardado bem fundo nas raízes da organização para qual ela trabalhava e ele era o diretor.

A Mulher - As Crônicas do Sexto Equinox- Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora