Estar apaixonado é como estar sob o efeito de alguma droga entorpecente. Você não liga para onde está ou para o que está fazendo. Seu humor muda quando está sob os efeitos do amor, assim como quando se está drogado. Um viciado desenvolve uma relação de afeto e proteção com a sua substância, coisas que também podem ser observadas em casais por aí, o ponto é: quando o viciado é separado de sua droga, o mundo parece ter se tornado um lugar mais sombrio e ele próprio se vê como uma "versão barata" de si mesmo. Lógico que uma relação de dependência química é uma situação horrível, completamente o oposto de se sentir apaixonado. Entretanto, essas pequenas semelhanças ajudam a entender os fatos a seguir.
As coisas começaram a acontecer um mês depois de Caroline conseguir seu próprio apartamento. Ela estava muito feliz porque agora tinha um espaço físico seguro para montar e organizar toda a investigação sobre o seu passado, também aquele apartamento era um local onde ela poderia deixar a "agente C4R0L1N3" e ser Caroline, não necessariamente com a presença de Erick para isso, mas era algo muito bem vindo. Nas missões que se seguiram Erick estava agindo de maneira protetora com Caroline, algumas vezes com razão. As vezes Caroline achava isso bastante bonito e fofo, mas na maioria das vezes era algo que a incomodava. Eles já tinham conversado sobre isso, mas não chegaram a uma solução e nesse pequeno contexto que aconteceu a próxima missão deles.
Erick estava na sala de missões com o major Bones. Ele estava o elogiando pelo bom resultado que o programa de treinamento dele estava apresentando. Havia algumas críticas quanto ao treino de resistência contra interrogatórios. Erick replicou dizendo:
— As pessoas fazem de tudo para sobreviver, para salvar suas vidas. É algo natural, entretanto, nessa linha se trabalho, não podemos nos dar ao luxo disso. Nossos agentes devem estar preparados para morrer em vez de entregar quaisquer informações. Não importa as circunstâncias
— Nossa, eu entendo completamente e até concordo, mas tente maneirar um pouco - o major Bones respondeu
— Se alguém quer ser o melhor, tem que estar preparado para o pior - Erick respondeu, lembrando de tudo que já havia passado até ali
— Nossa, se importa se eu usar isso como o lema dessa organização? - William Bones perguntou
— Não, contanto que deixem claro que essa frase é minha - Erick respondeu e acrescentou - qual é a missão?
— Missão de busca e captura. Cid nos informou que um engenheiro e um agente, ambos disfarçados, estarão indo para uma festa em Moscou onde entregarão informações sobre a arma satélite que os soviéticos estão tentando construir. Sua missão é trazer ambos para interrogatório - William disse
— Certo - Erick respondeu e saiu da sala
Caroline estava de folga, mas Cid também havia deixado a agente informada, desse modo ela e Erick trabalhariam juntos. O hacker também compartilhou com Caroline uma teoria sua. Segundo ele, o mais lógico era pensar que o engenheiro teria as informações e o agente seria seu guarda costas. Não há necessidade de mandar os dois disfarçados se ambos vão reportar para a mesma pessoa e esta é do próprio governo. Isso levou Cid à pergunta: "Por que os disfarces?". Ele acreditava que na verdade o agente era a pessoa que possuía a informação e o engenheiro era um bode expiatório. Caroline concordava com Cid e fez a captura do agente a sua missão.
Uma vez em Moscou, Erick e Caroline estavam em posição. Eles pretendiam agir antes dos alvos entrarem na festa, demorou um tempo, todavia eles conseguiram identificar o engenheiro e o agente. Estavam prontos para agir. Erick sugeriu eles interceptarem os alvos simultaneamente, mas Caroline já havia saído em direção ao agente. Apesar de os dois serem os melhores agentes no mundo da espionagem, isso não compensava a falta de sincronia que eles apresentaram naquele momento e isso gerou uma perseguição. O engenheiro correu, ele ia em direção à festa e chamaria por reforços. Caroline perseguia o agente, ele a estava levando para longe do engenheiro. Era um dilema. O que Erick faria? Seguir o engenheiro ou o agente? Missão ou emoção? Como ele tinha medo de que algo acontecesse a Caroline, ele seguiu a ela e ao agente. A perseguição se seguiu por alguns bairros, entrando em casas alheias até se tornar uma perseguição que ia de telhados em telhados. Erick ouvia o som da polícia se aproximando.
Em determinado momento Caroline atirou na panturrilha do agente, bem no momento em que ele estava no meio de um pulo. O agente também jogou uma granada que assim que a bala o atingiu, ela explodiu e da perspectiva de Erick parecia que a explosão havia consumido Caroline. Ele ficou desesperado e foi ver se ela realmente havia sido atingida, ele chegou bem a tempo de vê-la subindo da beirada do prédio onde ele estava. Erick a ajudou a se levantar e ambos fugiram dali rapidamente. Quando estavam seguros, Erick tirou a máscara e disse:
— O que você estava pensando? Nunca mais, nunca mais faça uma coisa dessas de novo! - ele dizia isso numa mistura de chateação, medo e preocupação, entretanto só a chateação foi perceptível
— Como é que é? - Caroline retrucou - eu sou uma agente, a melhor daqui. Eu corro esse tipo de risco muito antes de você aparecer na minha vida - em sua voz também transparecia a irritação que sentia, mesmo que esse não fosse o único sentimento por trás de suas palavras
— Agora que eu estou aqui, você não precisa - Erick respondeu - você é preciosa para mim, deixe eu te proteger
— Erick, eu não sou ela, ou muito menos ele … - Caroline começou , mas Erick a interrompeu
— Caroline…. - ele disse, ela, entretanto, retomou a fala
— Eu não sou Angelina Silverstoon ou Steve Ozborn - ela dizia e ia aumentando o tom de voz - Eu NÃO preciso de proteção! NÃO estou sob a sua tutela! Você NÃO É responsável pela minha segurança…
— JÁ CHEGA! - Erick gritou
Caroline nunca o tinha visto sequer levantar a voz. Tinha um brilho diferente em seus olhos, ele clarearam. Eram marrons escuro e agora estavam castanhos claro e pareciam clarear cada vez mais. Isso a surpreendeu e a assustou um pouco. Erick cerrou os punhos e os olhos, respirou profundamente e quando abriu os olhos novamente eles estavam da cor normal, mas seu semblante mostrava sinais de raiva. Ele disse:
— Eu tenho lidado melhor com meu passado desde que estamos juntos, mas isso, eles ainda são uma zona muito delicada e você está pisando nela de maneira muito, muito, muito descuidada - ele dizia buscando soar calmo, mas não estava indo tão bem
Caroline sentia um turbilhão de emoções. Estava chateada com as atitudes superprotetoras de Erick, estava irritada porque o agente fugiu, levemente curiosa sobre o brilho nos olhos de Erick, mas nada disso chegava perto da raiva e fúria que sentia por ter recebido aquele grito. Aquilo realmente a tirou do sério e ela realmente estava repensando a sua situação com Erick. Caroline deixou a raiva vir ao rosto, mas fez questão de manter seu tom de voz o mais frio e impessoal possível, ela disse enquanto o encarava:
— Eu acredito que você precisa lembrar com quem você está falando e reavaliar as suas ações. Fique sabendo que eu não sou como algumas mulheres por aí que ficam murchas e assustadas quando alguém como você tem a "brilhante" ideia de levantar a voz.
— Como é? - Erick perguntou
— Está na hora de você ir agente X, você tem que reportar o seu fracasso para o seu chefe - ela respondeu, acrescentando em seguida - talvez devesse construir um mostruário para essa missão - então ela lhe virou as coisas e foi embora.
Assim como um viciado se sente ameaçado quando terceiros começam a atrapalhar seu uso da substância, o qual se torna seu propósito, alguém apaixonado pode se sentir ameaçado quando a pessoa que ama parece estar atrapalhado em seus objetivos pessoais. Normalmente o esperado é que o casal converse sobre isso e cheguem a uma solução que agrade aos dois e que a família do viciado o coloque em uma clinica de reabilitação para ele ser tratado. O ponto é que o apaixonado em questão não admite interferências em seus objetivos.
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A Mulher - As Crônicas do Sexto Equinox- Livro Dois
RomanceEu queria esquecer meu passado, ela, achar o seu. Será que temos chance de construir um futuro juntos ? Só lendo para descobrir ...