Caroline estava tendo o lapso de memória dela novamente. Dessa vez ela sentia mais do que as costumeiras dores que acompanhavam esse lapso de memória, seu corpo doía, tinha alguma coisa incomodando nos seus braços, ela tinha visto a silhueta de um homem, mas não havia aquilo no lapso de memória e Caroline sabia que não se tratava de uma nova parte do seu lapso vindo a tona, não sabia explicar, só sabia que aquilo não fazia parte do lapso. Então tudo escureceu.
Quando finalmente acordou, levou um pouco de tempo até sua visão entrar em foco, mas quando isso aconteceu ela percebeu que estava num quarto de um apartamento. A janela estava levemente aberta o que deixava o cômodo parcialmente iluminado, o quarto tinha um guarda roupa que ficava a esquerda, um criado mudo que estava ao lado da cama, à direita. Caroline também viu que havia um acesso intravenoso improvisado, feito com porta chapéus, a bolsa de soro (era o que parecia) parecia ser hospitalar, assim como a “mangueira” que levava o conteúdo da bolsa para as veias de Caroline, ela tirou o acesso do braco e percebeu que foram feitos curativos em seus braços, estavam bem feitos. Caroline tentou se levantar e sentiu todo o corpo doer, sua visão rodou um pouco, mas ela se forçou a ficar de pé tomando apoio no porta chapéus. “Onde é que eu estou?” ela se perguntava. A últimas coisa de que se lembrava era de ter conseguído a informação com o agente X ,depois ouviu o som de disparos simultâneos, o helicóptero rodopiou e daí ela foi bruscamente jogada contra a janela de um andar, bateu fortemente em algo e desmaiou. Agente X, ele fez aquilo, disso ela tinha certeza, mas quem a tinha salvo ?
Enquanto questionava essas coisas, ela chegou ao banheiro e pôde ver seu reflexo. Até que não estava tão mal quando pensava, havia um curativo na testa, no lado direito, fora isso seu rosto estava o mesmo. Caroline lavou o rosto e aproveitou para olhar os ferimentos. Assim ela tirou os curativos nos braços e viu que eles já estavam completamente curados, assim como o ferimento na testa, mas decidiu manter os curativos, era uma desculpa para continuar onde estava e se manter escondida. Caroline foi até a cozinha que dividia espaço com a sala, uma cozinha americana, na bancada havia uma pequena bandeja com estilhaços de vidro ensanguentados, aquilo estivera em seus ferimentos ? Quem os tirou ? Ela não sabia, mas iria descobrir.
Caroline foi andando até o final da cozinha, a geladeira estava à sua direita, alguma coisa instigava a curiosidade dela, como se houvesse algo para ser descoberto. Caroline saiu da cozinha e começou a procurar pelo apartamento. Achou sua arma, mas não seu comunicador, alguns livros de química e física e só, apenas naquele momento que Caroline se deu conta de algo: não haviam fotos no apartamento, era algo tão comum, fotos de família, amigos, viagens, qualquer coisa, mas o apartamento não tinham. Em sua busca, ela também tinha verificado todos os lugares, achou um violão que estava atrás da porta do quarto onde ela acordara, na sala achou um pequeno caderno amarelo, mas não olhou seu conteúdo e por fim olhou o guarda roupa e os armários da cozinha, no guarda roupa, as roupas lá presentes estavam com cheiro de morfo, na cozinha os armários estavam vazios, completamente. O que queria dizer que aquele apartamento estivera abandonado e agora, estava ocupado, mas por quem ?
Enquanto Caroline estava na cozinha, ela foi novamente até o final do cômodo, dessa vez ela percebeu que havia alguma coisa entre o fundo da geladeira e a parede, era um azulejo, mas só havia aquele azulejo alí, estava muito na cara que aquilo iria acionar algum compartimento secreto, assim como o do escritório do seu chefe. Caroline apertou o azulejo e a parede que estava na sua frente se abriu revelando um cômodo secreto. Assim que ela entrou no lugar as luzes ascenderam. O cômodo era simples, algumas poltronas e uma mesinha num canto junto com um frigobar e no centro do cômodo, mostruários. Caroline se aproximou do primeiro. Era um manequim vestido com com uma roupa que tinham algumas partes de couro, alguns detalhes verdes, juntamente com uma máscara com abertura só para os olhos e para o nariz, havia uma espada cujo cabo também tinha detalhes verdes e havia uma inscrição na lâmina “Yonoi”, o que significava aquilo, ela não sabia, mas passou para o mostruário ao lado. Aquele mostrava um manequim com uma armadura metálica, bem gasta, suja, mas algumas partes sugeriam que a cor original era verde, aquele manequim também estava usando uma máscara, parecida com a primeira que ela viu, a diferença era que esta estava amassada na parte esquerda e a outra não, também tinha uma espada naquele mostruário, mas não havia inscrição nela, todavia nesse segundo mostruário haviam jornais, ela leu as manchetes : “Vigilante mascarado salva soldados”, “Vigilante mascarado impede assalto a banco”, “Herói ou vigilante ?”,dentre outras manchetes parecidas, a maioria das matérias eram de uma tal Angelina Silverstoon, mas o que impressionou Caroline eram as datas, elas iam de 1912 até 1914. “Quem será o dono disso ?” ela se perguntava enquanto olhava o mostruário seguinte.
O terceiro mostruário também tinha um manequim, mas aquele estava vestido com uma mistura da armadura do mostruário anterior com roupas de soldado, mas a máscara se mantinha, naquele mostruário haviam armas antigas, uma espada e relatórios de soldados, todos diziam quase a mesma coisa: que haviam sido salvos por soldados mascarados, as datas dos relatórios eram de 1914-1919, duração da primeira guerra mundial. Haviam mais dois mostruários, estes pareciam ter sido montados mais recentemente. O quarto mostruário trazia um manequim vestido com roupas de soldado e uma máscara, dessa vez não havia espada, mas havia armas, granadas,uma metralhadora e mais relatórios de soldados dizendo que foram salvos por um soldado mascarado e que ele lutou ao lado do pelotão, as datas desse relatórios eram de 1939-1945, período da segunda guerra mundial. O quinto e último mostruário mostrava um manequim vestido com uma roupa laranja de prisão, um sobretudo e a máscara do agente X. Ela havia reconhecido a roupa de prisão, Inferno de Dante, a prisão conhecida por ser a mais segura, perigosa e secreta do mundo. Não era possível, ela estava na casa do agente X ?
— Vejo que já está bem melhor, Caroline - disse uma voz atrás dela, uma voz que ela conhecia,
Caroline se virou e viu Erick, ela cambaleou e ficou com as costas apoiadas para o mostruário. O rosto de Erick estava calmo,sereno e era isso que a preocupava. “Será que ele vai terminar o serviço agora ?” Caroline pensou, mas ele simplesmente virou e caminhando para fora do cômodo secreto, disse :
— Suponho que esteja com fome, venha, comprei material para fazer um almoço.
Dito isso ele saiu e depois de algum tempo ela também, mas ela estava com a sua arma em mãos, apontada para frente. Erick estava arrumando as compras nos armários, ele virou a cabeça na direção dela e depois voltou a se concentrar em arrumar as coisas.
— Acho que você não verificou sua arma, eu joguei fora a munição - ele disse calmamente
Caroline estava se sentindo um pouco envergonhada por ter cometido um deslize desses, mas ainda assim perguntou com voz firme:
— Há quanto tempo estou aqui ?
— Três dias, olha, essa cozinha é um pouco apertada, se quiser apontar uma arma descarregada para mim, fique a vontade, mas fique na sala, assim tenho mais espaço para cozinhar - ele disse
Caroline decidiu escutá-lo e saiu da cozinha. “Três dias, estou aqui a três dias, ele poderia ter me matado se quisesse”. Seja lá o que Erick estivesse cozinhando, o cheiro estava bom, só nesse momento percebeu o quão faminta estava, mas ainda assim continou a perguntar:
— Por quê você não me matou enquanto pôde ?
Erick parou e se virou para olhar para ela, então respondeu:
— Eu simplesmente não consegui, não que tenha tentado enquanto você estava inconsciente - ele respondeu e voltou sua atenção para a panela.
Os dois ficaram em silêncio, ele terminou de cozinhar o almoço, estrogonofe de frango, com arroz branco e batata palha, ele a serviu e ela foi comer no sofá, enquanto ele ficou comendo no balcão da cozinha. Caroline não podia negar, estava uma delícia, ela saboreou cada garfada. Percebendo isso Erick disse:
— Fique a vontade para se servir novamente, você passou três dias sem comer, deve estar com muita fome
Caroline repetiu o prato e novamente saboreou cada garfada, mas ela ainda utilizou esse momento para descobrir mais sobre Erick.
— Quem é você ? - ela perguntou
— Eu lhe disse, sou Erick - ele respondeu
— E eu sou a rainha da Inglaterra - Caroline respondeu com desdém
— Vida longa a rainha - Erick respondeu rindo
— Eu não estou de brincadeira, o que eu encontrei lá dentro sugere que você está vivo a muito mais tempo do que seu rosto diz - ela falou, séria
— Por que a gente não faz assim: você pergunta algo para mim, eu respondo e eu pergunto algo para você e você responde, é mais justo assim - ele disse, enquanto recolhia os pratos e os lavava
— Você tentou me matar, agora está falando de “justo” ? - ela perguntou verdadeiramente indignada
— Você também tentou me matar todas as vezes que lutamos, nessa última missão você tentou me acertar um tiro na cabeça, praticamente a queima roupa, então sim, acho que tenho respaldo para falar de “justo” - ele disse enquanto terminava de guardar os pratos. Parece que Caroline não tinha muita escolha.
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A Mulher - As Crônicas do Sexto Equinox- Livro Dois
RomanceEu queria esquecer meu passado, ela, achar o seu. Será que temos chance de construir um futuro juntos ? Só lendo para descobrir ...