A Mulher - As Crônicas do Sexto Equinox- Livro Dois

Capítulo 38

Eu estava em meu apartamento em Saint Petter Bay. Havia passado algum tempo desde a discussão que tive com Caroline. Nunca tínhamos discutido até aquele nível, aquele episódio além de me custar Caroline, de certa forma, também tinha me custado valiosas informações sobre a arma satélite e possivelmente a localização dela. Essas duas coisas estavam me matando. Desde a minha "briga" com Caroline não falava com ela, nem ela comigo. Eu sentia a falta dela, mas as suas palavras ressoavam em minha mente e a cada vez que eu as ouvia sentia como se alguém estivesse me batendo. No meu apartamento as memórias dos bons momentos com Caroline estavam acabando comigo e eu tinha outras coisas para considerar.

Resolvi sair para tomar ar, refrescar os pensamentos. Que eu estava apegado a Caroline era um fato inegável. Isso, porém, estava tendo as suas consequências, tanto no meu relacionamento com ela quanto na minha missão prioritária. Meu apego a Caroline me fez deixar de lado minha missão para tentar protegê-la. Até quando isso iria se manter? Eu tinha uma responsabilidade, um dever, o qual não me refreei de fazer nem mesmo quando estive nos piores momentos de minha vida. Por que seria diferente agora? Caroline tinha razão, ela não era Angelina ou Steve, mas mesmo assim, todos que tinham proximidade comigo tiveram finais ruins, talvez Victor fosse a única exceção. Kamara-sama, Steve e Angelina foram mortos, Montemelo havia se tornando um inimigo, Kelly e Milena eu não tinha a mínima ideia de onde estavam, isso supondo que ainda estivessem vivas, Trevor, muito provavelmente morto pelo seu câncer. Eu não queria que nada disso também acontecesse com Caroline, junto com isso eu também não podia negligenciar minha missão.

Quanto mais eu pensava, mais sólida se tornava a ideia de que eu não poderia cumprir a minha missão, proteger Caroline e ser feliz, eu teria que abrir mão de alguma coisa. Era uma conta simples, se por acaso minha escolha for deixar minha missão de lado e ser feliz com Caroline, ela iria continuar buscando seu passado, a arma satélite seria construída e isso traria a morte de milhares de inocentes em conflitos devastadores até que só restassem a União Soviética. Não era a escolha certa, nada que custasse a vida de milhares de inocentes poderia ser a escolha certa. Por outro lado, se eu seguisse minha missão, isso significaria deixar Caroline de lado, deixar que sua busca pelo seu passado a levasse ao redor do mundo e até o seu túmulo. Não, eu já vi a habilidade de Caroline, ela não iria morrer, mas mesmo assim, para seguir com a minha missão eu teria que romper todos os laços com ela e isso me devastaria, a devastaria. Não, não, não, aquela também não era a opção certa. Então qual seria?

Toda essa dúvida me mostrava o quanto meu apego a Caroline estava afetando meu julgamento, eu realmente estava ponderando entre continuar minha missão e salvar vidas ou ser feliz, amar, viver... "Chega Erick! Chega! Você não pode fazer isso, se abandonar sua missão quem garante que vai protegê-la? Você não protegeu seus amigos que moravam na mesma cidade que você, qual a garantia de proteger Caroline? E quem garante que ela vai querer ficar com você após o que aconteceu em Moscou? Se você abandonar tudo o que vem fazendo até agora, então as mortes de Kamara-sama, Steve e Angelina serão em vão" esses pensamentos rodeavam a minha mente, lançando-a em extrema confusão. Eu sequer tinha noção de para onde estava indo até que prestei atenção ao meu redor. Eu estava na frente da lapide de Steve Ozborn.

- Eu queria que você estivesse aqui meu amigo. Queria poder saber o que fazer, eu sei as consequências das escolhas que tenho a frente, mas nenhuma delas me parece certa, nas duas alguém se fere. O que eu faço? - eu disse em direção à lapide, sabendo que estava falando sozinho

Apesar de perguntar o que fazer, eu sabia o que tinha de ser feito. Eu queria, entretanto, que alguém me dissesse o contrário, que a escolha que eu faria era a errada, mas eu estava sozinho. Dessa vez a culpa por arruinar minha vida seria minha. Saí do cemitério com o coração mil vezes mais pesado do que quando entrei. Fui ao QG, mandei a seguinte mensagem para Cid, afim de que ele a entregasse à Caroline: "Precisamos conversar, me encontre em casa. GB" , a sigla "GB" era para meu codinome, "Good Boy", o qual eu sentia um pouco de vergonha. Demorou dois dias para eu receber uma resposta, a qual foi: "Estarei aí em breve. BG", a sigla "BG" era para o codinome de Caroline. Durante os dois dias que antecederam a sua resposta, eu planejei tudo e sofri com isso, não me agradava da escolha que estava fazendo, mas... na verdade, eu não tenho justificativa, não para isso.