Capítulo 6

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Após o meu interrogatório, fui levado pelos guardas para uma câmara de gás, muito parecida com aquelas utilizadas na Segunda Guerra Mundial. A princípio pensei que eles fossem me matar ,mas vi uma placa dizendo que aquela câmara não era mais utilizada para fins letais ,o que era bom para mim ,óbvio. Aquilo deveria ser uma câmara de gás sonífero e daí seria levado para a tão famosa prisão. Uma vez dentro da câmara, ela logo foi acionada e o gás tomou conta do ambiente. Acho engraçado o fato do gás utilizado ter um cheiro doce e agradável, como se a instituição coreana tivesse a obrigação de conceder uma memória boa antes de mandar as pessoas para o seu “inferno”. O gás fez efeito rápido e minha visão logo escureceu.

Os sonhos voltaram ,os mesmos sonhos que me atormentavam há no mínimo 56 anos. Eu estava numa sala ,uma cena de chacina, três mortos. Um homem e duas mulheres, ele foi espancado e enforcado, uma delas morta por overdose forçada e a outra com um tiro na parte de trás da cabeça ,nesse sonho misturam-se memórias e eu logo me vi num prédio em chamas que implodiu diversas vezes me derrubando e na última implosão me jogou num abismo onde a luz se afastava de mim. Então os rostos apareceram , os rostos daqueles que eu havia decepcionado, falhado, deixado morrer, um após o outro e então a figura dos rostos se despedaça e se transformam em destrossos que caem junto comigo ,mas eu ainda escuto suas vozes: "Você nos matou" , "Você nos matou" , "VOCÊ NOS MATOU !" . Então eu sou soterrado ,mas logo os escombros se transformam nos céus cinzentos e escuros dos campos de batalha , as vozes se transformam em tiros e explosões e então tudo silencia. Abro os olhos ,mas não consigo me mexer, respiro ,mas não sinto o ar chegar em meus pulmões e então percebo que eu ainda estou soterrado.

Um impacto forte me acordou. Sentia meu rosto latejar, provavelmente teria sido um soco, minha visão e meus outros sentidos estava entrando em foco. Havia muito barulho, sons de mais alguém sendo espancado ao lado, a luminosidade era baixa, entretanto não estava conseguindo fazer mais considerações, pois tinha um infeliz me acertando com o que agora enxergava ser uma cadeira de aço. “Sério? Uma cadeira” pensei na hora. O meu agressor era um guarda de estatura mediana, perto dele havia uma mesa com um martelo, um pé de cabra, um chicote feito com ferragens e soqueiras. Também havia mais um homem na cela onde eu estava acorrentado, ele fez um sinal e o homem com a cadeira parou de me agredir, daí foram amarrados fios metálicos em meus braços e em seguida um aparelho foi ligado. Pude sentir a corrente elétrica percorrendo meu corpo. Ser eletrocutado era uma experiência singular, não podia descrever a sensação que a eletricidade me provia, parece que os efeitos remanescentes do gás sonífero foram dissipados com a passagem dos elétrons, então eu quebrei as correntes que me prendiam, retirei os fios condutores e me aproveitei da surpresa dos homens para eliminá-los. O que estava me batendo com a cadeira tentou de maneira desajeitada me bater ,mas eu desviei, segurei seu braço e o joguei no chão ainda segurando seu braço, por fim pisei com força em sua garganta, destroçando sua traquéia e tireóide. O segundo homem veio armado com o chicote de ferragens e eu peguei a cadeira de aço, ele tentou me acertar, porém o chicote enrolou na cadeira e eu consegui puxá-lo, desequilibrando-o. Por fim eu segurei seu pescoço, apertando-o um pouco e perguntei em coreano :

— Que dia é hoje ? - pude perceber que ainda estava com minha máscara, pois minha voz ainda soava distorcida

— Do…mingo, 23/06/70 - o homem respondeu

— Onde ficam as plantas desse lugar ? - perguntei

— Se…tor ,admi…nistra…tivo - o homem respondeu e eu terminei de enforcá-lo

Terminado isso eu saí da cela onde estava - ela não estava trancada - e pude ver que a prisão estava cheia de dententos, todos fora de suas celas, a maioria estava brigando e alguns outros assistindo. As celas da prisão eram dispostas em andares com finos corredores que ficavam de frente para as celas. Tinha um portão bem a frente, estava fechado. Ali deveria ser a saída. “23 de Junho, tenho até 23 de Setembro, exatos três meses, para conhecer o lugar, criar um plano de fuga, achar o engenheiro e enfim sair dali” pensei enquanto observava a briga generalizada e procurava por algum sistema de vigilância. Apesar do aspecto rústico do lugar, eu percebi a presença de câmeras de segurança muito bem posicionadas, diminuindo os pontos cegos.

A Mulher - As Crônicas do Sexto Equinox- Livro DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora