Quando chegamos no hospital tentei não ficar muito próxima e dar apoio para a família a distância, Clara já havia acordado quando chegamos, ela está devastada.
Angélica já estava debilitada antes de eu terminar com Lauren a senhora passou por dois infartos a anos atrás, ela já tinha bastante idade e pelo que entendi ela dormiu e não acordou mais.
Pelas coisas que Mike fala para a esposa pelo menos ela não estava sentindo nenhuma dor nos últimos dias, mesmo sem ficar andando por ai, ela estava em uma fase tranquila.
Não vi Lauren chorar, e isso me preocupa, porque sei que quando ela desabar vai ser horrível.
Sei que os budistas lidam com o luto de uma forma diferente, e tenho quase certeza que ela vai tentar seguir isso à risca agora que está tão próxima da religião.
- Camila. – Lauren chamou minha atenção. Estamos indo para o estacionamento para ir à casa de Lauren, decidiram que o velório vai começar daqui algumas horas. – Você não precisa fazer isso, pode ir para casa, eu sei que você está cansada.
- Eu vou com vocês, não precisa se preocupar com isso. – Tentei não soar rude. – Na verdade eu até já mandei uma mensagem para Karla levar uma roupa para mim na sua casa, preciso tomar um banho e vestir algo descente. – Ela ficou me analisando sem falar nada por um tempo.
- Tudo bem. – Se deu por vencida e eu dei um sorriso fraco. – Obrigado por isso. – Não falei nada e indiquei que ela fosse na frente.
Lauren pegou a chave do carro de Chris, mesmo ainda um pouco embriagada. Vamos na frente para arrumar algumas coisas na sua casa, Mike já cuidou de todo o resto e agora estão resolvendo as documentações de óbito.
Não poderia deixar minha ex ir sozinha em casa, pelo que parece ela estava na casa dos Jauregui essa noite. Quando saímos do hospital já estava começando a ficar claro. Taylor veio com a gente, está sentada no banco trás em silencio.
Mão de Lauren está na marcha e me permiti mais uma vez juntar a minha a sua e fazer um carinho fraco, no começo ela hesitou um pouco mas depois retribuiu mais uma vez.
(...)
Um nó se formou em minha garganta quando entramos na casa dos Jauregui. Ela estava gelada, ao contrário do lado de fora. Não parecia o ambiente que sempre foi alegre e preenchido por alguma risada.
- Taylor acho melhor você tomar um banho para me ajudar a arrumar as coisas. – Falou com a irmã que concordou entre algumas fungadas. – Não chore tanto por favor.
- O que você quer fazer? – Perguntei quando a outra garota entrou no corretor. – Vim para te ajudar.
- Eu preciso pegar algumas coisas para minha mãe, alguns documentos da minha avó. – Explicou e eu concordei. – Você pode fazer isso enquanto eu tomo banho? Vai agilizar muito as coisas. – Concordei. – Eu vou pegar a pasta de papeis e você separa.
- Tá bom. – Concordei vendo ela entrar no escritório do seu pai. Me sentei no sofá e comecei a esperar ela voltar.
Demorou cerca de cinco minutos até ela voltar com uma grande caixa. Indicou o nome de todos os papeis necessário e avisou que iria tomar banho. Concordei e comecei a olhar tudo.
Não demorou tanto até eu achar todos os documentos necessários para o velório e enterro. Me sentia estranha em procurar essas coisas.
Organizei todos que precisava e os que não precisava voltei para dentro da caixa. E me sentei mais uma vez esperando Lauren voltar. Até que a campainha da casa me assustou. Quando abri a porta me deparei com minha irmã.
- Trouxe sua roupa. – Dei espaço para que ela entrasse. – Como Lauren e o resto da Família está? Onde está todo mundo?
- Estão aqui apenas Lauren e Taylor, precisávamos pegar alguns documentos para o velório e enterro. – Ela concordou com o olhar antes de me fitar. – Pode responder minha pergunta. – Sabia bem me comunicar com Karla.
- Antonella foi embora para casa quando soube que você estava com a Lauren. – Não disse nada. – Mas não se importe com isso, acho que nesse momento você é a pessoa certa.
- Para que? – Perguntei confusa, afinal Antonella é amiga da minha irmã e ela sempre fala para eu não ficar em cima de Lauren. – Não entendi.
- Você é a pessoa certa para dar apoio a Lauren. É a pessoa que melhor conhece ela... Então tente fazer a coisa certa dessa vez. Confio em você.
- Karla. – Minha ex apareceu já com outra roupa e os olhos inchados, deve ter passado no quarto onde sua avó dormia.
- Ei Branquela, como está? Sei que é uma pergunta retorica. – Andou até ela e deu um abraço. – Eu sinto muito.
- Enquanto vocês conversam, eu posso tomar banho aqui no banheiro do corredor? – Perguntei vendo Lauren concordar. Conheço essa casa como a minha.
(...)
Praticamente todos nossos amigos estão aqui. Clara não sai um momento sequer do lado do caixão. Lauren está próxima da mãe dando apoio ainda não vi ela chorar de verdade, apenas algumas lagrimas salientes saíram de seus olhos.
Consigo me lembrar de quando perdi meu avô a quatro anos, foi um dos momentos mais horríveis da minha vida, e se vão fosse Lauren ao meu lado eu não conseguiria sair do fundo do poço que entrei.
Antonella chegou a alguns minutos e está próxima a Lauren o que me incomoda um pouco, mas eu não tenho direito de reclamar sobre isso.
- Parece que só foi eu chegar para coisas ruins acontecerem. – Veronica falou do meu lado chamando minha atenção. – Angélica era um amor de pessoa.
- Não fale essas coisas. – Neguei com a cabeça. – Eu não quero nem te perguntar o que você passou na África, para não ficar te fazendo relembrar.
- Na verdade eu preciso falar sobre. – Pelo pouco que sei da passagem dela pela África ela viu bastantes coisas ruins. É muitas pessoas não gostam de falar. – Porque está me olhando assim? Mas não aqui.
- Deculpe, estou surpresa por querer falar comigo sobre isso. – Veronica tem sua namorada, Lauren e minha irmã como melhores amigas e querer conversar comigo me surpreende.
- É bom ter ouvintes diferentes. – Deu um sorriso fraco. – Nunca fomos tão próximas.
- Camila. – Desviei minha atenção de Veronica e olhei para Lauren que me chamava. – Eu posso falar com você? – Quase não ouvi de tão baixo que ela falou. Concordei meio atordoada com aquilo. – Lá fora.
- Ok. – Concordei. – Depois a gente continua de onde parou Veronica. – Achei legal ela querer minha ajuda, seja apenas para uma conversa ou qualquer coisa.
Indiquei para ela andar na minha frente e segui o rumo, andamos pelo meio de algumas pessoas que falavam uma palavra de conforto e ela sempre agradecia com olhar.
- Então sobre o que você quer falar comigo? – Perguntei quando ela sentou em um banco. Afastada de onde estava sendo o velório.
- Eu precisava sair daquela bagunça, minha cabeça está a mil. – Confessou sem me olhar. – Acho que vou desabar a qualquer minuto. – Completou finalmente me olhando.
- Então você quer ficar sozinha? – Perguntei sem entender muito bem o que ela havia dito. – Se quiser eu posso ir..
- Não.. – Falou segurando meu braço antes que eu levantasse. Não foi um toque forte mas estremeci com o mesmo. – Eu quero que você fique.
- Ér.. tudo bem. – Concordei vendo ela agradecer com o olhar. – Mas você quer ficar conversando ou em silencio?
- Em silencio seria ótimo. – Disse com um leve sorriso me fazendo sorrir também antes de concordar.
Não sei exatamente por quanto tempo ficamos ali, mas estava muito bom, não tinha nenhum toque ou nada do tipo, apenas apreciava sua companhia. Vez ou outra olhava para ela e via ela mirando o horizonte. Me permiti prestar atenção em seus traços.
As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.
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Destiny
Fanfictionre·des·co·brir. (re- + descobrir) verbo transitivo Tornar a descobrir.