Só fachada

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― Dulce Maria! ― minha mãe disse em um tom alto quando eu passava pela sala de casa. 

Eu levei um susto ao ouvir sua voz, pois tentei entrar sem chamar atenção. 

― Pois não?  Aconteceu alguma coisa? ― respondi com calma, não queria discutir com ela logo cedo.   

― A senhorita sabe muito bem o que houve. ― Ela me examinou com o olhar. ― Posso saber onde você foi essa manhã? ― a sua entonação ficou firme.

― Eu fui na casa da Annie, não precisa ficar toda alterada.

― Pode ir visitar sua amiga, mas gostaria de ser avisada quando você sair. Não preciso dizer como o seu pai é, já que você o conhece bem. ― Minha mãe me analisou, sem desviar o olhar. ― Aliás, seu pai está providenciando um noivo para você.

― Como? ― Pisquei perplexa. ― Ele não pode fazer isso e também não tem esse direito ― retruquei um pouco exaltada. ― Eu já tenho dezenove anos, acredito que perante a lei já sou maior de idade.

― Eu sei disso. Porém, ele só quer o melhor para a sua vida, Dulce.

― Eu também posso cuidar do que é melhor para mim, ― disse zangada.

― E eu sei bem o melhor que ele quer, o status. ― Balancei a cabeça negativamente.

― O seu pai só quer um futuro bom para você. ― Ela olhou fixamente para mim.

― E eu não quero isso? Agora, se um futuro bom quer dizer que eu terei que casar com alguém que eu não goste ou ame, eu sinto muito. ― Suspirei.

― Eu não vou aceitar que o papai faça isso. ― As palavras escaparam em um tom alterado, já que eu estava exaltada com a conversa de nós duas.


Para mim, esse assunto não tinha mais sentido algum. Por isso, resolvi encerrar a conversa e voltar para o meu quarto. Talvez no meu quarto eu poderia ter um pouco de sossego, mas eu estava muito indignada. Como que o meu pai pode saber o que é melhor para mim? Somente eu tenho essa capacidade e para algumas pessoas dessa cidade isso não fazia sentido, mas para mim, sim. O meu pai tem muita influência nessa cidade e se eu decidir sair de casa para fazer alguma coisa que ele não aprovasse eu me daria mal, pois era só ele dizer algo e eu estaria ferrada. Por isso, eu estava guardando dinheiro para sair de casa. A vida aqui nessa casa está impossível, por isso fiz a única coisa que poderia me distrair nesse momento: liguei o computador para conversar com a Annie, minha melhor amiga. O aplicativo Bud-on era o que nós usamos para nos comunicarmos e servia para o celular também. Somente ela tinha o poder de desviar a minha atenção dessas coisas e eu estava necessitando muito de uma distração.

Annie: Dul, preciso te contar uma coisa :)

Você: Nossa, está feliz! O que foi loira?

Annie: Eu e o Poncho vamos ficar noivos s2

Você: Uau! Que demais, parabéns!!

Annie: Obrigada!! Eu nem acredito! <3

Você: Posso imaginar, mas me conta os detalhes?

Annie: Ai amiga, agora não posso

Annie: Depois falo todos os detalhes

Annie: Preciso ir... 

Você: Hum, ok. E aquele negócio do voluntariado que a gente conversou?

Annie: Não se preocupa, vamos fazer. Amanhã eu conto tudo para você sobre o noivado, beijos 

Você ;*


Ela não me deixou responder nada, quando pensei em dizer algo ela ficou offline. Observei que a minha outra amiga estava pelo chat e iniciei um papo com a Mai, porém eu esperava ansiosa para que o Ucker entrasse logo. A espera por ele estava grande, já era tarde da noite e nada dele. Quando o Ucker apareceu eu já estava me arrumando para dormir, ele havia demorado para falar comigo porque ele a mãe ficaram resolvendo umas coisas na mercearia deles. Antes da gente se despedir, marcamos de nos encontrar no dia seguinte e quando cada um desligou os aparelhos eletrônicos, eu me organizei para deitar. Porém no meio do caminho observei o meu reflexo no espelho. Os meus cabelos escuros contrastavam com a minha pele tão branca, embaixo dos meus olhos castanhos havia olheiras, eu precisava ter uma boa noite de sono, o que ultimamente não estava acontecendo, o meu nariz era fino e arrebitado e a boca fina. Nesse momento, examinando o meu reflexo eu precisava muito mais do que oito horas de sono.

― Está saindo cedo? Por quê? ― Minha mãe apareceu do nada quando eu passava pela sala, até levei um susto.

Encontros ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora