Treze horas antes do acidente

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Peguei as chaves do carro e dirigi rumo a minha casa.
Antes de sair escrevi um bilhete e deixei colado na porta para que Calebe, caso acordasse não se desesperasse ao se ver sozinho em um lugar estranho.

Diógenes deveria estar muito preocupado.
Eu pensei em ligar pra ele, mas tive medo de os telefones da casa estarem grampeados. Não sei se eles podiam fazer isso assim, tão fácil, mas eu vi em alguns filmes que eles ouviam as ligações de pessoas investigadas.

A estrada estava calma sem muito transito. O radio tocava uma musica lenta e estrangeira, que eu mal estava dando atenção. Naquele momento minha mente estava focada em duas pessoas, Diógenes e Calebe.

Calebe estava desacordado e completamente indefeso, em um lugar que para ele era completamente estranho. Diógenes, por sua idade, também não era capaz de se defender com êxito de um ataque violento e também estava sozinho. Eu estava totalmente perdido.

Nunca fui forte, nunca precisei ser o tipo de “cara” que simplesmente entra em uma briga e consegue e sair bem.
Não.
Eu me sentia frágil e ate certo ponto indefeso. Se não fosse a intervenção de Ed eu estaria morto agora. Porem eu precisava erguer a cabeça e lutar.
Eu não podia desistir.
Eu não iria desistir.

A policia estava atrás de mim, o mundo conhecia o meu rosto. A vingança de Catarina estava funcionando e eu não fazia ideia do que fazer.

Eu queria uma luz, mas simplesmente não podia ver a solução sozinho. Eu precisava de Diógenes. Somente ele poderia me dar uma direção. Nunca precisei ser independente, meu pai era quem cuidava de todos os problemas, ele cuidou bem de mim, mas me deixou fraco. Eu não sabia lidar com tudo aquilo sozinho e precisava de um guia.

O alerta da gasolina chamou minha atenção.

-- Droga! – Deixei a palavra escapar em um quase sussurro.

“temos previsão de chuva para esta manha”—Falava no radio, eu nem notei, mas o programa musical já havia acabado.

Dirigi por mais alguns minutos. A noite estava calma e de longe pude avistar as luzes de um posto de gasolina a beira da estrada. Olhei o relógio, já havia se passado duas horas desde que sai da casa de Ed.
Eu estava com fome.

Parei para abastecer.
Falei com o frentista tentando nao encara-lo com medo de ele me reconhecer. Entrei na conveniência logo em seguida. Eu estava de jeans claro e uma camiseta branca escondida debaixo de um moletom cinza. Coloquei o capuz para esconder o rosto e andei pelas prateleiras de cabeça baixa.

Peguei o que eu precisava e fui até o caixa.

Uma moça jovem lia uma revista de moda enquanto mascava um chiclete. Ela parecia absurdamente entediada e eu não a julgava, afinal só havia eu lá naquele momento.

-- Jimi.

Alguém chamou em um sussurro o meu nome.
Virei-me automaticamente para ver quem era enquanto a moça registrava a compra.
Não havia ninguém lá.

Voltei-me novamente para a atendente que agora me encarava com olhos estranhamente brancos me fazendo gelar.

-- Você é um fantasma? – Perguntei incrédulo e confuso.

Ela me olhava fixamente, totalmente imóvel. Esperei ela se desmaterializar, mas não aconteceu.

Um sorriso surgiu no canto de sua boca.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora