Na chuva

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“O homem de asas esta vindo.”

A voz sussurrava em minha cabeça.

“O home de asas esta perto.”

Disse outra voz ainda em sussurro.

“O homem de asas saiu do fogo.”

Outra voz.

“Ele não se queimou.”
“Ele não está queimando.”
“Não está queimando.”
“Ele está aqui.”
“Está perto.”

Elas se misturavam e falavam desordenadamente. Umas mais altas outras mais baixas.

“O homem de asas.”
“Não queima.”
“Ele não queima”
“Ele está vindo.”
“Ele nos quer.”

Havia medo em todas elas.

“Ele é a morte.”
“A morte.”
“Ele está  desperto.”
“Está  vindo.”

O que estava acontecendo?

“Está  perto.”
“O homem de asas saiu do fogo e quer sangue.”
“Ele está com sede e fome.”

Abri os olhos

-- O homem de asas? – Sussurrei para mim mesmo.

O que significava aquele sonho idiota?

Foi apenas um sonho.
Foi apenas um sonho.

Respirei fundo tentando esquecer os sussurros que ainda pareciam falar em meus ouvidos.

Uma trovoada me tirou dos pensamentos. Olhei pela janela, a chuva caia violenta lá fora. Relâmpagos, ventos e trovões.

Levantei. O relógio digital ao lado da cama marcava duas da manha. Desci as escadas e fui para a sala. A casa estava silenciosa, apenas o som da tempestade lá fora podia ser ouvido.

Me sentei no sofá e me encolhi ali.
Dormi por umas quatro horas apenas, mas aquilo já foi o suficiente. Eu me sentia melhor.

O homem de asas.

Aquelas vozes estranhas ainda pareciam estar lá. Que sonho foi aquele? O que poderia significar?
Apenas um sonho.
Era apenas um sonho.

Ed.

Suspirei. Ali estava aquele pensamento novamente.

Eu estive apenas uma vez ali naquela casa. Eu e meu pai fomos passar um final de semana na casa de Ed, porque os dois tinham um projeto pra fazer e eu achei uma boa desculpa pra sair um pouco da minha casa.
Foram dois dias muito bons. Eu passei a maior parte do tempo explorando o bosque porque os dois não saiam do escritório.

Eu vi poucos fantasmas na casa dele. Senti falta deles, os fantasmas já eram tão comuns que quando não apareciam eu sentia como se nada estivesse normal.

Certa tarde eu andava pelo bosque. O chão úmido e escorregadio repleto de folhas em decomposição. Eu havia visto uma lebre branca e corri atrás dela, o animal não me deixou aproximar o que já era de se esperar, mas mesmo assim eu tentei.

Acabei tropeçando em um graveto qualquer e fui ao chão, não foi uma queda violenta. Levantei-me sorrindo, eu não fazia ideia de onde vinha toda aquela alegria.

Perto de uma das arvores havia uma mulher.

Vestido negro, o tecido dançava suavemente no ar como se estivesse submerso em agua, assim como os cabelos pretos e cumpridos. A pele pálida e o rosto fino. Olhos brancos.
Eu sorri para ela.

Eu devia ter meus quinze anos de idade, apesar de um infantil senso de diversão.

Eu já havia visto muitos fantasmas, mas nenhum tão lindo quanto ela.
Aproximei-me admirado com sua extraordinária beleza.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora