eis o plano

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Jeremy continuava a tagarelar todo tipo de coisa sentado no banco do carona ao meu lado. Eu já havia ate acostumado com sua presença ali, mesmo que vez ou outra eu acabava avançando-lhe olhares mortais por conta de seus comentários idiotas sobre tudo. Depois de duas horas e meia o ouvindo falar, percebi que quando ele disse que me faria companhia de agora em diante ele realmente não estava brincando.

Já eram quase dez da manha, o sol se mantinha brilhando forte no céu, a estrada não estava muito agitada, mas vez ou outra eu passava por um carro de passeio.

Apesar de ser uma indesejável companhia, Jeremy acabava por me fazer esquecer alguns problemas, mesmo sendo ele o principal motivo da maioria deles. Em seu corpo projetava-se a mesma roupa que eu estava usando, uma calça preta jeans, all star cano longo vermelho e uma camisa branca escondida debaixo de um moletom cinza. Ele era idêntico a mim.

Seus olhos alegres percorreram a linha do horizonte e eu o olhei com a velha sensação de raiva, o que ele estava fazendo ali, afinal?

-- Eu nunca fiz uma viagem assim sabia? – Falou se voltando para mim. – Estou adorando essa aventura.

-- Fale por si mesmo. – Respondi revirando os olhos. Não havia nada de bom naquela aventura.

Eu estava sozinho com o fantasma do meu irmão assassino e o mundo inteiro achando que eu era o responsável pelos atos que ele fez, isso sem contar que eles queriam se livrar de mim e substituir minha alma pela dele.

Apertei o acelerador enquanto Jeremy me incentivava a correr mais e mais. Olhei para ele com um pouco de fúria, eu só queria que ele ficasse quieto.

-- Não se preocupe. – Falou sorrindo para mim. – Se acontecer alguma coisa eu salvo você.

-- Eu não preciso da sua ajuda.

Ele revirou os olhos.

-- Vamos lá! – Falou erguendo as mãos em sinal de rendição. – Que tal se agente fizesse uma trégua?

-- Sim, claro. – Sorri fazendo-o arregalar os olhos surpreso. – Quando você desaparecer eu declaro paz. – Conclui fechando a cara.

Ele fingiu um suspiro.

-- Você não pode negar nossa irmandade pra sempre. – Falou se ajeitando no banco.

-- Não estou. – Falei seriamente. – Sei quem somos e o que somos um do outro, mas isso não nos faz amigos. Você não é meu amigo, você quer me matar.

-- Você usa palavras fortes. – Fingiu indignação.

-- Estou errado?

Um silencio preencheu o ambiente e ele manteve os olhos grudados a estrada.

O tempo foi se passando ao ponto de que o silencio de Jeremy já me incomodava mais do que ouvir a sua voz. Ele parecia uma estatua ali tentado, seu rosto não expressava emoção, seu corpo nem se movia, ele parecia uma fotografia de Jeremy.
Depois de quase uma hora naquele estado um sorriso brotou em seus lábios.

-- Vejo problemas afrente. – Falou se ajeitando no banco.

Segui os seus olhos que fitavam alguma coisa afrente. Droga. Um posto da policia federal, como eu ainda não havia percebido que estava tão perto.

Meu coração palpitava como se adrenalina fosse injetada em minhas veias, o medo de ser reconhecido pelos policiais me fez perder todos os sentidos. Freei o carro bruscamente pensando em voltar para trás, mas minha consciência me alertava que isso seria suspeito demais. Respirei fundo e acelerei um pouco o carro fazendo-o andar lentamente.
Me recordo as viagens que fiz com meu pai, nós sempre passávamos por esses postos policiais e raramente éramos parados, meu pai sempre dizia que eles só pegavam bandidos ou pessoas que corriam demais, nunca dei muita importância para o que ele falava quando estávamos perto desses postos, mas agora eu me via obrigado a seguir seus conselhos.
O que mais meu pai dizia?

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora