Seis horas antes do acidente

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o carro no jardim da casa. A observei por um tempo.
Era a minha casa. As paredes de vidro, as portas de madeira, a varanda e o lago.
Sim.
Tinha um lago.

Sorri por um instante.
As lembranças do meu pai e eu brincando e correndo no jardim vieram de repente. Eu era muito pequeno e ele sorria enquanto fingia não conseguir me alcançar em uma brincadeira de pega.
Outra lembrança veio logo em seguida.

Eu estava na varanda da casa desenhando com canetão no vidro, nesta época eu era um pouco mais grandinho, mas ainda desenhava muito mal, Diógenes surgiu do outro lado do vidro com uma “cara de poucos amigos” e reclamou. Eu lembro que ele me fez limpar a vidraça momentos depois.

Depois outra cena surgiu dos confins da mente, desta vez Ed estacionou o seu carro no jardim, quase no mesmo lugar onde eu estava agora, desceu e seguiu na direção da casa com alguns papeis na mão.  Ele cumprimentou meu pai que o esperava na varanda. Eu via tudo da sala pelo vidro fingindo indiferença a sua presença ali, quando no fundo estava muito feliz pela visita.
Os dois entraram e depois de por os papei sobre a mesinha de centro ele bagunçou meus cabelos enquanto dizia um “oi passarinho”, apelido que aprendeu com meu pai.

Isto havia acontecido três meses antes daquele dia. Nós quatro estávamos juntos. Eu, meu pai, Ed e Diógenes.
Mas agora eles estão mortos.

Afastei os pensamentos ruins e desci do veiculo.
O cheiro do bosque me dominou. Era a perfeita combinação de madeira e terra molhada. O vento estava leve e as arvores estavam calmas. Senti-me em paz.
Senti-me em casa.

Andei para o interior da residência a passos largos. Eu estava com pressa, teria de voltar rápido.
A porta estava aberta.

-- Diógenes.

Não houve resposta.
A sala estava vazia e a casa silenciosa.

-- Deve estar dormindo. – Pensei em voz alta, afinal ainda era muito cedo.
O sol havia acabado de surgir. O clima ainda estava frio, a grama ainda úmida de orvalho.
Subi as escadas em direção aos quartos. O barulho dos meus passos ecoava pela casa.

Toc toc

-- Diógenes! – O chamei batendo a porta do seu quarto.
Nenhuma resposta.

Toc toc.

O chamei mais uma vez e novamente silencio.

Girei a maçaneta e a porta se abriu.
Ninguém estava no quarto e nem no banheiro, mas a cama ainda estava bagunçada, o que estranhei. Ele sempre foi organizado demais.
Olhei pela janela lá fora, para ver se ele estava no píer. As vezes ele sentava lá e ficava horas alimentando os peixes do lago, mas ele não estava lá.

-- Deve estar na cozinha. – Pensei novamente em oz alta.

Antes de descer para verificar fui até meu quarto.

Aproveitei para tomar um banho e trocar de roupas. Eu ainda estava usando as roupas de Ed, elas ficavam bem folgadas no meu corpo, pois ele era maior do que eu, mas no Calebe ficaram na medida certa. Bem... Algumas.
Calebe era maior do que Ed.

Agora vestido com uma camisa branca escondida debaixo de um camisete xadrez vermelho e preto, uma calça jeans, sapato cano longo ocre e os cabelos molhados penteados para trás, desci em direção a cozinha.
Deparei-me com a cozinha arrumada e Diógenes não estava lá.
Voltei para a sala.

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