passos largos

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Eu corria a passos largos tentando desviar de todos os galhos, troncos e pedras que insistiam em tentar atrapalhar o meu caminho. Minha respiração denunciava o meu cansaço. Eu não havia parado por mais de trinta minutos e acredito que já havia ganhado uma boa distancia do grupo que estava atrás de mim.

Tudo indicava que o meu próximo confronto seria com a minha prima Odete e Catarina ficaria para depois, já que seguiu em frente com o outro grupo.

Eu realmente estava dando trabalho para ela.

Acho que ela nunca imaginou que seria tão difícil capturar um recém-adulto, ingênuo e totalmente despreparado.

Parei de correr sentindo como se meus pulmões quisessem explodir. Encostado em um arvore eu tentava recuperar o folego enquanto cada parte do meu corpo doía. O suor encharcava toda a minha roupa, mas eu tentava ignorar aquela incomoda sensação.

Eu estava longe por enquanto, eles não vinham com tanta pressa quanto eu estava, então não me encontrariam se eu continuasse seguindo em frente, mas eu não podia fugir para sempre.
Não, eu não podia.

Não seria assim tão difícil deter Odete, certo? Errado. Ela não estava sozinha dessa vez, ela vinha acompanhada de um grupo de sete e eu não estava nem um pouco pronto para um confronto físico. Calebe me alertou sobre os poderes dele, segundo ele ela é capaz de provocar dor em alguém apenas com o poder da mente, eu não fazia ideia de como isso funcionava, mas dor era a ultima coisa que eu queria sentir naquele momento.

-- Você acha mesmo que pode continuar fugindo? – Jeremy perguntou.

Ele estava sentado com sobre um tronco úmido e pútrido.

-- Enquanto eu tiver forças para isso.

-- Jimi, aceita logo que esse é o fim. – Ele me olhou com pena. – Eu já estou cansado desse jogo e quero acabar com isso logo.

Eu às vezes ficava confuso com Jeremy, em determinados momentos ele decidia me ajudar e em outros ele queria que eu me deixasse capturar.  Meneei a cabeça incrédulo com suas palavras, ele não poderia aceitar que estava morto e me deixar em paz? Eu não iria terminar aquele jogo do jeito dele, pois eu era forte. Sim eu era forte.

Eu sou forte.

As vezes eu duvidava disso. Duvidava que eu pudesse acabar com Catarina e os outros, duvidava que poderia impedir Jeremy de me possuir, duvidava de que que era capaz de fazer muita coisa, mas tudo o que aconteceu foi prova o suficiente para eu perceber que eu era bem mais do que simplesmente um órfão de dezoito anos solitário e frágil.

Eu era a vitima e eu sabia disso, mas não podia me permitir agir como uma. O que aconteceu era evitável, mas não foi evitado.

Aconteceu.

Agora eu estava sozinho e precisava lutar se quisesse continuar vivo e era o que eu faria. Enquanto houvesse forças, enquanto o meu coração batesse, eu iria lutar.

Eu vou lutar.

Eles até podem ganhar, mas não seria por fraqueza minha.

-- Não se preocupe Jeremy, esse jogo vai acabar, mas entre todas as possibilidades possíveis, você não se sairá bem no final.

Continuei correndo. Eu não podia ser alcançado, não agora. Eu estava despreparado e precisava de tempo para preparar um a ofensiva útil.
Desta vez eu não tinha nenhum plano.

Eu precisava enfrentar umas oito pessoas, sendo uma dessas uma bruxa capaz de derrubar com o poder da mente. Eu estava cansado e machucado, e sozinho, e fraco, e... Eram tantas as coisas que podiam contribuir para o meu fracasso.

Pensa.
Pensa.
Pensa.

Nada é impossível.

Seria preciso derrubar um de cada vez. Como?

Armadilhas? Não sei montar armadilhas e tentar seria uma grande perda de tempo.

Pensa.
Pensa.

-- Você acha mesmo que vai poder lutar contra eles?

Jeremy fingia correr ao meu lado, mas ao olhar os seus pés eu podia ver que não tocavam o chão.

-- eu não sei o que eu posso fazer, mas sei o que eu não posso e o que eu não posso é esperar sentado para ver como isso vai terminar.

-- Admiro essa sua vontade de continuar vivo, Jimi. – Ele flutuou até a minha frente e eu parei de correr, pois ele tapou minha visão. – Nós realmente somos irmãos. Somente um Rily tem tanta persistência.

Ele tinha razão, éramos realmente persistentes, tanto eu em fugir quanto eles em me caçar.

-- Sim Jeremy, somos irmãos, então você sabe por que eu não vou parar.

-- Eu me enganei com você. – Ele girava em torno de mim. – Pensei que seria mais fácil, que você se entregaria, que não lutaria e aqui estamos nós, quilômetros e quilômetros de distancia de onde tudo isso começou, pessoas morreram, você ficou mais forte, eu também. Quem diria que o pequeno Jimi seria tão perigoso?

-- Só quero que isso acabe.

-- Vai acabar hoje Jimi. Você será capturado, o feitiço da minha mãe será conjurado e eu e você seremos um só. – Ele parou de frente para mim. – Minha mente e o seu corpo. – Sorriu. – Isso vai ser espetacular.

-- se acontecer, não será por fraqueza minha, agora saia da minha frente, porque eu tenho que matar a sua prima. – Falei passando por ele e seguindo em frente.

-- Você acha que consegue?

-- Eu vou tentar.

Ele sorriu e desapareceu.

No fundo eu sabia que ali seria o final. Eu não sairia bem dessa, mas faria o possível para conseguir.
Eu não morreria sem lutar.





O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora