O Túmulo de Jeremy Rily

171 24 1
                                    

Eu precisava de um banho. Subi as escadas e pedi para Calebe me esperar por alguns minutos, eu queria relaxar um pouco, para poder digerir toda essa historia de bruxos.

Então era isso o que éramos?

Bruxos.

Eu ainda estava confuso sobre o assunto, afinal éramos seres sobrenaturais? Ou essa coisa toda fazia parte da natureza? Nós éramos deste mundo, ou viemos de algum lugar?

Permiti as aguas tirarem todo o suor do meu corpo enquanto em minha cabeça as palavras ficavam ecoando, me deixando cada vez mais afundado naquela sensação estranha de insegurança, medo e confusão.
Bruxo.

Eu era um bruxo.

Jeremy era um bruxo e agora um fantasma.

Quais seriam os dons de Odete? E os de Otto? E quanto a Catarina?
Eu sabia tão pouco sobre mim, sabia tão pouco sobre eles, alias o que realmente eu sabia?

Sai do chuveiro e enrolei uma toalha branca ao redor da cintura. Fui para frente do espelho.

Eu estava horrível.

A pouca barba que eu tinha estava por fazer, e crescia estranhamente em meu rosto, fios distantes um do outro, uma pequena quantidade no queixo um pouco mais volumosa e um bigode fino. Minha pele estava marcada por hematomas deixados pelo acidente do dia anterior.

Peguei uma gilete qualquer e tirei aquele projeto de barba e troquei os curativos da testa e dos braços e do ombro.

Sai do banheiro um pouco mais apresentável, apesar de começar a sentir as dores resultantes de toda a agitação do dia. Condenei-me por não ter o habito de praticar esportes.
Procurei no guarda roupas de Ed uma roupa que eu pudesse usar e que não ficasse tão grande. Por que eu tinha que ser tão baixinho?

Desci as escadas vestindo uma calça de moletom preta, cujas barras estavam dobradas para eu não pisar, e uma camisa social branca que chegava até meus joelhos de tão grande que era.

Cheguei a cozinha e Calebe estava cozinhando alguma coisa, só então me dei conta que eu não comia a horas.

-- Achei que estaria com fome. – Ele disse. – E biscoitos não iria resolver nada. – riu.

-- Obrigado.

Sentei-me a mesa novamente. Eu estava cansado, precisava dormir, mas eu precisava saber sobre o que realmente importava.

-- Você falou que cada bruxo tem um dom. – Comecei. – O seu é de cura. Quais são os deles?

-- O’donel era uma conjuradora, é tipo uma... Feiticeira. Fala uma ou duas palavrinhas e as coisas acontecem. Catarina também é conjuradora, não tão forte como a velha era, mas é perigosa. Odel é a mais inútil da família.

-- Ela esta morta. – Falei ao notar que ele disse que ela é e não que ela era. Obviamente ele não sabia do ocorrido.

-- Odel?

-- Sim. Eu a matei. Descobri um novo dom.

-- Serio! – Falou interessado. – E qual é? O que você pode fazer?

-- Eu não sei bem... É como se alguma coisa tomasse conta de mim e as coisas mudam, a minha voz, o meu jeito... Aí eu olho pra pessoa e ela começa a fazer tudo o que eu quero que faça, basta eu ordenar.

-- Um influenciador. – Ele falou daquele jeito de que sabe das coisas. – É um dom muito poderoso.

-- Qual era o dom dela? – Decidi mudar o foco do assunto antes que ele me perguntasse como tudo aconteceu.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora