seremos um

129 21 0
                                    

Até ali as ultimas vinte e quatro horas haviam sido as mais sonolentas da minha vida, nunca dormi tanto quanto naquela viagem. Eu estava realmente cansado.

Acordei o relógio na parede marcava cinco e meia da manha, Calebe adormecido na cama ao lado, roncava como um animal, o que possivelmente foi a causa do meu despertar aquele dia.

Levantei e depois de uma espreguiçada, muito boa, fui direto ao banheiro fazer a rotineira higiene matinal. Ao me olhar no espelho e observar as roupas largas no corpo percebi que eu parecia uma criança brincando com as roupas do pai fingindo ser adulto.

-- Preciso de roupas. – meu estomago roncou. – E comer alguma coisa.

Sai do quarto tentando fazer o mínimo barulho possível para não acordar o meu amigo dorminhoco. O dono do estabelecimento se encontrava sentado em uma cadeira na varanda, ele era um senhor de idade, pele morena, cabelos grisalhos e rosto cansado. Segurava na mão uma revista qualquer e foleava como se estivesse apenas observando as imagens e ignorando qualquer palavra ali escrita. Decidi me aproximar e pedir informação sobre onde havia um aloja de roupas.
Dez minutos e cinco quadras depois e eu estava de frente a uma lojinha de roupas ainda  fechada devido o horário. Na esquina afrente eu avistei uma lanchonete aberta e ouvindo as reclamações do meu estomago me encaminhei até lá.

Não era uma cidade grande e muito menos agitada. Devia ter seus dez mil habitantes e ou talvez menos, as ruas calmas se estendiam até a rodovia e ali mesmo acabavam. Não tinha prédios altos, não tinha grandes lojas ou redes de fast food conhecidas, tudo era simples e familiar. Os carros não corriam apressados, o transito quase não existia. Eu gostaria de ter vivido na pequena cidade que se chamava Santa Amélia.

Fiquei um tempo observando tudo ali enquanto comia alguma coisa bem gordurosa. Esqueci completamente dos rapazes e de todo o resto. Em minha mente apenas o silencio dominava a turbulência que se formou no meu inconsciente naqueles dias.

A moça usando um vestido branco e um avental preto, uniforme da lanchonete, surgiu sentando-se na cadeira em minha frente de repente. Ela era uma menina simpática, de talvez dezessete anos, que me atendeu dez minutos antes com um sorriso encantador. Seus cabelos amarrados em um rabo de cavalo caiam até o meio das costas, eram castanhos como os seus olhos que ficavam escondidos detrás de óculos de um grau um tanto forte. Ela era realmente uma garota muito bonita, porem ao se sentar de surpresa de frente para mim, seu rosto não expressava o mesmo sorriso de antes, agora trazia um ar maquiavélico e sarcástico, um sorriso que eu conhecia muito bem, um sorriso que eu vi muitas vezes. O sorriso que somente ele tinha.

-- Como foi sua noite maninho? – Jeremy, que se encontrava controlando o frágil corpo da bela garçonete perguntou se acomodando na cadeira.

-- O que você quer? – Fui ríspido.

-- Achei que já estava obvio o suficiente as minhas intenções aqui. – Ele sorria e me fitava com os olhos brancos. – Jimi... Antes eu queria torturar um pouco você, esperar  você sentir tanta dor até o momento em que você me imploraria pelo fim, mas... – Ele desviou os olhos dos meus e olhou minha testa. – Estando preso ai dentro, pude conhecer um pouco mais sobre você. – Ele/ela fez um biquinho. – Sua vida foi tão solitária. Seu pai, ou melhor, nosso pai tirou você do mundo, escondeu você de tudo. É como aqueles contos de fadas onde a princesa esta presa em um castelo sendo guardada por um dragão esperando um príncipe encantado para tira-la de lá. – Ele sorriu cinicamente. – O castelo era a sua casa, o dragão era o Diógenes. – Gargalhou ao falar isso e depois se recompôs para terminar as comparações. – E o príncipe... – sorriu com o canto da boca, estendeu a mão em minha direção. – Prazer, Jeremy Rily.

Eu já me sentia habituado a ter aquele idiota me perturbando, eu estava com pena da garota que ele possuiu, ainda me lembro da dor que é ter uma lembrança controlando os seus movimentos, mas Jeremy estar ali, significava que eu estava indo bem em minha tentativa de fugir de Catarina e evitar que ela faça um feitiço que tornasse dele o meu corpo.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora