epílogo

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Acordei com o vento frio da manhã. O sol ainda não havia nascido, mas o céu já estava claro, senti meus pulsos doerem. A minha frente um tecido azul dançava conforme o vento o chicoteava de leve. Meus olhos subiram e encontraram os dela.

Catarina estava com os cabelos loiros soltos sobre os ombros e os olhos azuis dela me fitavam tão profundamente, que tive medo de estar roubando a minha alma.

-- Catarina.

-- Olá docinho. – disse com um sorriso cordial e abaixando-se em minha frente.

Eu estava de joelhos em sua frente e as amarras apertavam os meus pulsos. Odete estava um pouco afastada olhando para nós de forma cuidadosa, os outros homens dormiam ao redor do que restou da cabana.

-- Estamos aqui. – Falei. – Faça o que tem de ser feito.

-- Sim eu irei fazer. – Ela tentou tocar o meu rosto e eu recuei. – Não tenha pressa meu pequeno, tudo ao seu tempo.

Fitei com ódio. Eu queria matar ela, definitivamente eu queria. Catarina matou o meu pai, foi até a minha casa, me enganou, matou o meu amigo e o meu mordomo, eu não podia perdoa-la por isso. Não por isso e nem por nada.

-- Você me odeia eu sei, mas tente ver as coisas do meu ponto de vista. – Ela falou me olhando de uma forma dócil e sarcástica ao mesmo tempo. – Jeremy é meu filho, e eu apenas quero ele de volta.

-- Que bela mãe você é. – Falei desafiando-a. – Sacrificando um filho para ter o outro de volta. – Ri. – Isso faz muito sentido, certo?

-- Jimi, tente entender, eu e você não dividimos o nosso tempo juntos, eu não te vi crescer, você nem mesmo sabia que eu existo. Como posso amar você?

-- Não pode. – falei.

Ela não podia me amar. Não depois do que fez, eu jamais aceitaria o amor dela, eu jamais perdoaria ela, eu mataria ela se tivesse a chance.

-- Não, não posso. – O seu rosto mudou de dócil para maldoso em um único segundo. – Não quero. Eu tive dois filhos, mas agora tenho apenas um e não é você Jimi Vanguid.

Sorri de canto.

-- Eu, nem mãe tive.

Ela começou a falar algumas palavras em um dialeto estranho. Seus olhos não desgrudavam dos meus. O vento calmo repentinamente começou a intensificar e a ficar mais gélido. Odete via tudo de longe e nem mesmo se movia. Catarina fechou os olhos e eu desviei o olhar dela para a sua cintura.

Deixei um sorriso escapar enquanto eu já bolava um plano.

Pendurado em seu sinto que ficava na altura da barriga havia uma pequena adaga antiga, eu não sabia o real motivo de Catarina andar com uma lamina na cintura, mas aquilo iria ser útil a mim.

As palavras delas se intensificavam cada vez mais e uma leve pressão surgiu em minha cabeça. Apertei os olhos tentando me livrar do desconforto, mas foi inútil. 

Ela estava conjurando alguma coisa, era a mesma língua que a velha O’donel gritava quando tentaram possuir o meu corpo a primeira vez.

-- O homem de asas. – Novamente o sussurro.

Abri os olhos e tão rápido como um flash o ambiente ao meu redor ficou escuro e depois claro novamente. O que estava acontecendo? Esse feitiço era diferente do outro.  Alguma coisa mudou, em mim talvez.

Fitei a adaga em sua cintura, eu precisava de foco, mas minha mente parecia querer fugir para outro lugar, um turbilhão de pensamentos passava por minha cabeça, pensamentos que eu não conseguia focar, que eu não conseguia me concentrar em entender. Joguei minha cabeça contra o rosto dela, minha testa acertou o seu nariz com força e eu aproveitei para tirar a adaga de sua cintura. Ela pendeu para traz e caiu, Odete se moveu em sua direção, mas Catarina pediu para ela ficar onde estava.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora