Em carne e osso

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A viagem durou a tarde e a noite toda. Eu estava cansado demais e acabei perdendo tempo.

Estacionei o carro no jardim. Não era a viatura policial, eu a havia trocado com uma mulher na estrada, claro que eu usei a minha influencia nela. A convenci de trocar os carros, e a obriguei a dizer que foi obrigada a ficar com a viatura, para não gerar problemas para ela.

Não sei se isso foi o certo a fazer, não sei se funcionou e nem mesmo sei se ela chegou a fazer o que eu ordenei. O fato é que eu não fazia a mínima ideia de por quanto tempo eles podiam ficar hipnotizados, ou se depois de um tempo simplesmente acordavam sem memoria, ou, com lembranças, enfim, não me importei afinal Calebe era a minha única preocupação.

Decidi me desfazer da viatura, pois eles podiam rastreá-la com seus equipamentos, eu não sabia se era possível, mas prevenir é melhor do que remediar.

Desci do veiculo azul e velho, e fui a passos largos em direção da porta. Eram sete da manha, ainda estava frio apesar de o sol já raiar.

Girei a maçaneta e a porta abriu. – Mau sinal, eu havia trancado ela?
Entrei em uma sala de estar silenciosa e sofisticada. Reprimi qualquer lembrança que aquele lugar pudesse despertar. Calebe.

Foco em Calebe.

Subi para o quarto em que com muita dificuldade o levei no dia em que chegamos. Calebe era um homem pesado, então não foi muito fácil arrasta-lo pela casa.

Abri a porta do quarto de hospede, onde o deixei e adentrei o quarto luxuoso e confortável.

Calebe não estava lá.

A cama estava bagunçada e havia roupas pelo chão, sujas de sangue e rasgadas. Eram as roupas dele.
Fui até o banheiro, seria possível ele ter se recuperado?

Estava vazio.

-- Calebe!

Minha respiração começou a demonstrar sinais de euforia. E se Jeremy o tiver possuído e o levou dali? E se ele estivesse morto agora? E se acordou assustado com o ambiente estranho e fugiu? E se... ? E se... ?
Calebe onde você esta?

O barulho metálico de algo caindo no chão vindo lá debaixo ecoou pela casa.

A cozinha. – Pensei ao reconhecer o barulho de panela caindo.

Desci as escadas correndo.  Eu tinha certeza que era Calebe, não sei explicar, mas eu sabia que Jeremy não estava ali. Quando ele estava em algum lugar, era como se o ar ficasse pesado, o ambiente escuro, figurativamente falando, mas apesar de eu estar com um pouco de medo sobre quem eu iria encontrar, eu estava otimista que era Calebe.

Adentrei a cozinha as pressas e parei logo na porta.

Ele estava de pé entre a pia e a mesa, que ficava no centro da cozinha. Usava as roupas de Ed, reconheci a calça de moletom e a camisa branca. Estava limpo e com os cabelos penteados para traz. Não demonstrava nenhum hematoma. Parecia estar ótimo. Em uma das mãos segurava um pacote de biscoito aberto em outra um como de leite.
Ele me notou ali e abriu um grande sorriso.

Lindo.

Fiquei completamente petrificado, sem saber o que pensar. Em um segundo sentir o alivio de ver ele ali, foi muito bom, mas ai de repente veio a mente aquela velha pergunta de sempre: Como?

Ele deixou sobre a mesa os biscoitos e o copo de leite e veio em minha direção. Eu claramente permaneci na mesma posição sem mover um musculo e com aquela típica expressão de confusão no rosto.
O que era Calebe?

Ninguém conseguia se recuperar de um ferimento como aquele assim tão rápido, mas ali estava ele, vindo todo sorridente a passos largos até mim. Calebe era um ser humano?

Ele me abraçou de forma amigável, eu praticamente desapareci entre os seus braços, afinal minha estatura era mínima perto dele.

A principio não retribui o abraço, minha mente não conseguia acompanhar muito bem os acontecimentos, mas depois de dois ou três segundos, o abracei meio sem jeito.

Ele se afastou um pouco e bagunçando os meus cabelos ensebados disse:

-- Você conseguiu rapazinho.

Sobre o que ele estava falando?
Eu deveria me preocupar sobre ele estar ali de pé?
E se fosse Jeremy dentro daquele corpo?

-- Calma sou eu em carne e osso desta vez, ok? – Falou ao notar a minha expressão de duvida.

-- É você mesmo Calebe? – Perguntei tentando encontrar as palavras, que se misturavam em minha mente.

Ele assentiu comicamente.

-- Em carne e osso.

-- Jeremy... Ele esteve aqui?

-- Não. – Ele franziu a testa, mas manteve o sorriso. – Do que você esta falando?

-- Eu consegui o que? – Perguntei me referindo a primeira frase dita por ele.

-- O que? – Ele fez cara de confuso.

-- Você disse que eu consegui... Não sei sobre o que você estava falando. – Expliquei já conseguindo pensar melhor.

-- Sobreviver. – Ele disse naturalmente. – Pensei que morreria lá na fazenda.

Me afastei dele e fui até a geladeira. Eu precisava de água.

Depois de alguns exagerados goles, o olhei ainda confuso. Ele se sentou na cadeira prevendo que eu iria fazer perguntas. Eu precisava entender o que ele era?

-- Como você se recuperou tão rápido?

Ele suspirou.

-- A historia é bem mais longa do que você pensa Jimi. – ele apontou com os olhos a cadeira a minha frente. – sente-se. Eu vou te contar tudo.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora