Eu já estava dirigindo a algumas horas.
Sentia-me cansado. A adrenalina da agitação anterior se foi. Meus olhos pesavam. Eu precisaria rodar por mais algum tempo naquela estrada até chegar a casa de Ed.Deixei o policial na saída da cidade, em um posto de gasolina, o influenciei a mentir sobre os acontecimentos. Ele diria a todos que foi rendido por mim e que eu roubei o carro e a arma dele, que levei comigo para caso houvesse algum encontro indesejado.
O policial me ensinou a usar a pistola, enquanto ainda estava sobre o meu... Feitiço. Continuei caminho rumo a casa de Ed, sozinho dali em diante.
Eu ainda sentia o estomago embrulhado, devido a possessão. Eu realmente tinha sido possuído? Jeremy entrou no meu corpo, o que foi um processo um tanto doloroso. Ele me machucou, mas salvou a minha vida, e sinceramente, apesar de assustador, foi fantástico o que aconteceu. Foram segundos, mas mergulhar naquelas ferragens sendo contorcidas e rangendo, faiscando, partindo-se, foi extraordinário, além de tudo o que eu imaginava ser possível.Por que ele me salvou? Até então a minha hipótese era que eles estavam tentando se vingar de sua morte, sendo assim ele apenas poderia ter me deixado ser esmagado pela força da batida. Havia algo mais nisso tudo. Meu corpo estremeceu ao imaginar o que estava acontecendo. Jeremy estava agindo igualmente como quando estavam na fazenda, assustando Jimi, ferindo, enlouquecendo-o, agora com mais intensidade e frequência. Seria este mais um plano para trazer Jeremy de volta?
Eu afastei estes pensamentos tentando me concentrar em Calebe. Eu não queria ficar perdido em perguntas e acabar sendo surpreendido por uma aparição do meu gêmeo e sofrer outro acidente.
Foi inútil a tentativa.Dez minutos depois e lá estava eu, tentando entender essa repentina capacidade de influenciar as pessoas. Afinal o que eu era? Humano ou algo mais?
Aquela energia que me fazia ficar quente enquanto a ponta dos meus dedos formigava e com um olhar, tudo a minha vontade. De onde vem isso? A inexplicável capacidade de enxergar fantasmas, ou seja lá o que fosse todas aquelas coisas. Eu sentia falta da época em que a minha única preocupação em relação a eles, era com o horário em que eu iria ver o Steve, o meu fantasma predileto.
Sorri ao lembrar dele. Um sorriso que logo se desfez com a recordação da dor que senti semanas atrás, ao ver o meu pai parado em minha frente, totalmente sem vida. Depois uma revolta tomou o meus pensamentos, quando a imagem dos Rily veio a minha cabeça, seguida por uma pontada de culpa ao reviver mentalmente o momento em que o fantasma de Ed me arrastava em direção ao carro, na tentativa de me tirar daquele pesadelo.O sol da tarde estava quente e a estrada mais movimentada, eu não podia perder o foco. Eu precisava me concentrar no transito. Chega de acidentes.
Mais uma tentativa inútil.
Involuntariamente uma imagem surgiu em minha memoria me fazendo esquecer tudo ao meu redor. Enquanto meu corpo dirigia o carro de forma automática, eu sorria com aquilo.-- Eu sinto que não ficou bom o projeto. - Ed falava enquanto enrolava o macarrão espaguete no garfo.
-- Ed eu já falei pra você. - Meu pai dizia sorrindo, achando besteira o que Ed falava repetidas vezes. - O projeto esta ótimo.
-- Não... - Ed pensou. - Falta alguma coisa.
-- Grama no teto. - Falei interrompendo a conversa dos dois, que simplesmente ignoravam a minha presença ali.
-- Jimi. - Ed me olhou impaciente. - Nem toda casa precisa ter grama no teto.
-- Então se não vai por grama no teto. - Falei com a mesma impaciência. - Esta perfeita do jeito que está.
-- Jimi... Você não entende nada sobre isso.
Meu pai ria me vendo ficar vermelho, e azul, e roxo... Eu estava me sentindo muito incomodado com todas aquelas reclamações. Ed era um bom arquiteto, e ele sabia disso, mas insistia em achar que todos os seus projetos não eram bons o suficiente.
-- Eu entendo que você é um grande idiota. - Falei irritado.
Ele franziu a testa.
-- Cara, olha só... - continuei - O seu trabalho é impecável. Nunca vi cliente algum reclamando de você, mas você insiste em se inferiorizar e achar que outros são melhores. Eles não são.
-- Jimi... - Meu pai me olhou com uma sobrancelha erguida, reprovando alguma coisa que eu fiz. - Olha as palavras na mesa.
"Tudo bem, vamos para o sofá e eu repito que ele é um idiota." - Pensei.
Revirei os olhos.-- O que eu quero dizer é que... - Volteio a falar. - Depois do meu pai, você é o melhor arquiteto que eu conheço. Então para de se id... Bobo.
-- Eu e seu pai somos os únicos arquitetos que você conhece Jimi. - Ele revirava os olhos.
Meu pai riu.
"Vocês são os melhores arquitetos que eu conheço" realmente saiu como uma piada vinda de mim.
Acabei rindo também, consequentemente provocando o humor de Ed, e em segundos estávamos os três gargalhando a mesa.Olhei para ele indignado. Poxa vida, eu estava tentando ajudar ali, mas ele simplesmente não facilitava nada.
-- Idiota! - Falei sorridente.
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O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)
Mistero / ThrillerHá duas crianças sentadas sobre o gramado em uma tarde de sol. São idênticos, a não ser os olhos. Ambos têm três anos e meio. Ambos possuem cabelos loiros e pele clara. Estão usando as mesmas roupas, um macacão jeans e camisa amarela. O de olhos azu...