Quinze horas antes do acidente.

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Lá estava eu na varanda da casa. Era tarde, o sol ainda brilhava forte no céu. O vento calmo, as arvores quietas.

Calebe estava melhor, o ferimento estava cicatrizado.
Eu ainda estava confuso quanto a isso, um dia antes ele estava à beira da morte e agora, ainda desacordado, parecia muito bem.
Calebe era diferente de qualquer outra pessoa, isso era fato. Seu corpo se recuperava rápido, a ponto de cicatrizar um grave ferimento em apenas uma noite.

Eu tentava digerir tudo o que aconteceu, mas era tanta informação que decidi deixar de pensar sobre e esperar ele acordar. Com certeza sabia muito mais do que eu.

Foi um dia inteiro de viagem desde que saímos da fazenda de Catarina. Eu queria tê-lo levado a um hospital, mas meu rosto estava estampado em todos os canais de televisão do país.

Estavam me caçando.

Jeremy cometeu um crime grave. Ele incendiou uma escola com centenas de alunos. A maioria conseguiu escapar a tempo, alguns feridos, porem propositalmente ele fechou a porta da biblioteca impedindo a fuga de varios colegas.

Todos morreram.

Mais cedo enquanto eu acompanhava uma reportagem sobre o assunto, consegui entender toda a historia.

Jeremy havia sido flagrado pelas câmeras internas do colégio. Então as imagens eram rodadas continuamente sempre frisando aquele rosto. O rosto dele. O meu rosto.

Catarina chorava sentada de frente a repórter que a entrevistava  de forma curiosa.
A minha mãe fez questão de dar uma entrevista para esclarecer os fatos.
Segundo sua historia fajuta, Jeremy era apenas uma vitima.

-- Ele apareceu em nossa casa há algumas semanas. – Dizia ela com voz chorosa. – Jimi parecia ser um bom rapaz, se mostrava prestativo.

-- Vocês não tinham contato antes disso? – Pergunta a repórter.

-- Não, quando eu me separei do pai dele nunca mais nos vimos, eu tentei saber noticias sobre ele, mas nunca consegui encontrar.

-- Você imagina o motivo de ele ter feito isso?

-- Não. – Ela limpou os olhos e ficou em silencio, respirou fundo. – Eu o recebi de braços abertos, ele é meu filho. Mas, ele é diferente... Perigoso. Não sei. Ele matou o irmão Jeremy e mais essas outras pessoas, depois fugiu. Até minha casa ele incendiou. Jimi Vanguide é perigoso. E eu quero justiça.

A entrevista prossegue com mais mentiras.

Era isso, agora eu era o grande monstro. O país inteiro e talvez até o mundo me quisessem ver morto. Eu não tinha pra onde ir além da casa de Ed. Era o único lugar seguro, por enquanto.

Eu não sabia os reais motivos de Catarina. Talvez vingança, afinal o filho dela realmente estava morto agora, mas havia algo mais. Eu podia sentir que ainda não estava acabado.

Meu peito estava apertado, cada móvel, cada objeto, e até o ar me lembrava Ed. Por que ele tinha que ir? Por quê?

Como as coisas ficariam agora? Sem meu pai, me senti perdido e foi Ed quem me deu a base que eu precisava, no momento em que eu precisava. Ele cuidou de mim até o final e isso lhe resultou a morte.

Como você foi capaz de ser tão tolo Ed? Você não deveria ter voltado. Não deveria ter ido atrás de mim, estaria vivo agora. Por que não fugiu?
A resposta era obvia.
Por minha causa.
Eu era o culpado.

Agora eu não tinha mais ninguém além de...

Diógenes.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora