Possessão

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Acelerei o carro.

O que faltava pra tudo se complicar ainda mais? Já não bastava o fantasma do meu irmão psicopata, a minha familia louca, ter de lidar com a morte das três pessoas mais próximas a mim e agora até a policia.
Catarina conseguiu fazer um ótimo trabalho, fazendo todos acreditarem que eu era um assassino. O que mais eu podia esperar desses loucos?
Minha respiração ainda estava acelerada. Meu coração batia loucamente, eu estava suado. Por mais idiota que fosse o plano, saiu melhor do que eu pensei que fosse possível.

Olhei ao redor.
Era uma cidade grande.
Eu não sabia onde estava.
Sirenes.

Ao olhar pelo retrovisor, pude ver três viaturas se aproximando.

-- Droga!

-- Pare o carro agora. – Disse um deles em um alto-falante.

Acelerei. Eu não iria parar por nada, havia muita coisa em jogo, o meu futuro, a minha vingança, a minha sobrevivência... Calebe.

Eu tinha que chegar até ele. Calebe estava sozinho e Jeremy prometeu encontra-lo. Por quanto tempo eu estive desacordado? Ele ainda estaria bem?

Um tiro.

-- Que droga!

Vi as viaturas mais próximas. Virei na primeira esquina que encontrei e quase bati em um carro que vinha na direção contraria.
Virei em outra esquina, mas eles ainda estavam no meu encalço.
Eram muitos carros na rua, eu tentava não bater, apesar de já ter quebrado alguns retrovisores. As pessoas paravam nas calçadas curiosas. O que veio a seguir foi rápido demais, mas eu lembro como se tudo tivesse se passado em câmera penta.

Jeremy surgiu na rua, na frente do carro. Ele estava perfeito, suas roupas elegantes, um terno preto ajustado ao corpo. Pude ver os seus olhos brancos, sua pele pálida, seus cabelos loiros. Eu não freei o veiculo. Ele era um fantasma, não fazia diferença atropela-lo, e afinal eu queria muito atropelar ele.

O carro atravessou o corpo de Jeremy. Ele não era carne, não era físico, então isso era compreensível. Mas quando eu achei que iria atravessar o seu corpo, aconteceu diferente. Jeremy se encaixou perfeitamente em mim, senti como se algo estivesse esmagando as minhas entranhas, a dor foi tão intensa que a minha visão escureceu de imediato. Ele estava dentro de mim. Era uma possessão. Deixei escapar um grito enquanto meus ossos pareciam estar quebrando, meus músculos pareciam rasgar, minha pele queimava e a cabeça parecia querer explodir.
Em poucos segundos eu já não controlava mais minhas ações.

-- Não tenha medo. – Falou a voz dele em minha cabeça. – Eu vim aqui salvar você. Não resista.

A visão voltou repentinamente. Meus dedos estavam cravados no volante e o pé apertava o acelerador com toda a força possível. Um ônibus surgiu na frente do carro. Tentei me mover para frear, mas Jeremy estava ali. Estávamos em uma briga interna pelo controle do corpo. O veiculo gigantesco a minha frente ficava cada vez maior ao ficar cada vez mais próximo. Pude ver as expressões de medo que faziam os passageiros, ao olhar pela janela. Estavam gritando lá dentro.

O motorista buzinou esperando que eu reduzisse a velocidade, mas eu não conseguia me mover. Era tarde demais. Eu iria morrer ali.

O carro bateu.

As ferragens foram amassando e vindo em minha direção, os vidros estilhaçaram. O meu corpo foi lançado para frente, contra o painel. Porem não houve impacto.
Ao bater contra as ferragens que rangiam com o impacto ainda acontecendo, passei pelo painel. Literalmente. A sensação era de que tudo o que era solido fosse de repente liquido.  Era como pular de muito alto dentro de uma pcina. Dói, mas você afunda rápido. E foi exatamente isso, eu afundei no painel, passando pelo motor, entrando no ônibus, passando pelos passageiros, e saindo do outro lado.

O Túmulo de Jeremy Rily (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora