Promessas de dedinho

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Dinah tamborilava os dedos no balcão de mármore negro de sua moderna cozinha. Era cômico como, tudo parecia estar cooperando com a catástrofe que se desenrolava diante de seus olhos. Não havia nenhum funcionário no apartamento, nem Lena e nem mesmo Janka, era justamente a quinta feira mensal de folga das duas. Então não podia correr pra elas como socorro. Regina estava em Amsterdã junto da pequena Emma, algo sobre os pais biológicos da loirinha. Então ela também não podia pedir ajuda para a vizinha e amiga juíza. Allysson deveria estar a essa hora, comandando a Jauregui Enterprises Holdings Inc. No lugar de sua esposa, cujo Dinah soubera a apenas alguns minutos, através de uma mensagem em seu WhatsApp, que estava indo "ali" na Inglaterra, dar uma bronca em sua travessa irmã mais nova, já que Clara não controlava a filha mais nova e Christopher estava mais interesado em fotografar garotas peladas surfando do que ajudar a própria mãe com a terrível Taylor. É claro que isso a deixava furiosa. Parecia que além do sufocante trabalho, a família de Lauren, fazia questão de ser sufocante também. Era menos Lolo pra si. E quando se tratava da esposa, o inferno podia congelar, mas Dinah era egoísta ao extremo. Com Ally muito ocupada comandando uma empresa, não restava mais nenhuma mãe na sua lista de mãe exemplares para se inspirar. Havia é claro, a melhor amiga. Mas Normani estava muito longe de alguma categoria como mãe exemplar. Pelo contrário, ela agia mais infantilmente que as gêmeas em muitos dos casos. Mas mesmo assim, amava Holly e Ayla com todo o seu ser. Lembrando-se disso e de como, estava desesperada por ajuda, desde que Wendy Harkins deixara sua casa essa manhã, se viu ligando para Mani.
Ela precisava de ajuda, simplesmente, porque não sabia o que fazer com aquela menininha sentada em seu sofá. Assistindo comportadamente, como um anjinho.
Que maldição ela tinha cabeça?
Aceitar cuidar de uma criança! Sem Lauren saber?! Oh Deus, quando a Jauregui soubesse... Iria pôr a casa a baixo.
Ela literalmente odiava não ser avisada de algo consideravelmente grande. E uma criança, sob a responsabilidade da duas, era algo muito, mais muito, grande.
E convenhamos que aquela menina bebê ali não era uma criança comum
Ela tinha uma carga de vida que nem um adulto conseguiria lidar facilmente, quanto mais uma menininha
Dinah sentia algo tão estranho e tão bom por aquela garotinha em seu sofá.
Queria a por nos braços, afastar suas dores e tremores. A garantir que estava segura. Ninguém a machucaria novamente. Nunca.
Empoderada por esse sentimento, se viu largando o iPhone e caminhando até Camila
- Está com fome, Camila? - perguntou, se pondo diante da garotinha, que rapidamente, abaixou os olhos de volta a seus próprios pés
A loira a viu tremer
E isso acabou com ela
Camila estava com medo
Com muito medo
De Dinah
- Tudo bem Mila... - falou com aquela sua voz doce, de longe, maternal, se ajoelhando diante da menina - Eu não vou te fazer mal - prometeu - Juro de dedinho - tentou novamente, erguendo um dedo mindinho na direção da menina
Camila continuou a fitar o chão, imóvel e prendendo forte a própria respiração
A mais velha sentiu um suspiro doloroso rasgar sua garganta e não o reprimiu.
Não. Não seria fácil e bonito, muito menos indolor.
- Sabe Mila... - começou, tocando com gentileza o bracinho fino, que recuou ao toque a princípio, mas deixou-se acariciar quando viu que não havia dor, era somente um carinho, coisa a qual ela não estava acostumada a receber - Minha esposa, a tia Lauren, me ensinou que promessas são coisas muito importantes e que uma promessa de dedinho, é a mais poderosa que existe, não pode ser quebrada - falou com calma - Eu sei que você já passou por isso... E que já falaram que não iam machucar você e machucaram. Mas eu prometo a você, pequena, ninguém vai te fazer mal aqui, okay? - perguntou erguendo o dedo mindinho novamente em direção a criança
Seu medo foi de Camila não ter entendido uma palavra
Mais sua surpresa, foi vê-la enrolar, timidamente, o pequeno dedo mindinho, no seu e em seguida, levantar aqueles olhos lindos pra Dinah
Foi impossível conter o sorriso maravilhado
- Muito bem Mila - elogiou vendo um tom vermelho passar rapidamente pelas bochechas da menina - Agora, eu entendendo que não queira falar e sei que tem motivo... Mais, a gente precisa arrumar um jeito de se entender... Então, se eu perguntar alguma coisa, e a resposta for sim, você toca no seu nariz tá bem? Se for não, não precisa fazer nada... Tudo bem Mila? - questionou a garotinha, rezando internamente para seu fajuto plano dar certo
Como um ímã, Camila ergueu a pequena mão e tocou seu próprio nariz sem coordenação motora certa
Era um claro, sim
Dinah, deixou escapar uma risada feliz e quase viu, a sombra de um sorriso nos lábios de Camila
Contudo, só a sombra mesmo
- Está com fome? - perguntou e viu a menina tocar rapidamente o pequeno nariz - Ótimo! Vem, vamos na cozinha - chamou animada, erguendo a mão direita para a garotinha que a encarou e devagar, colocou sua mão na dela, num gesto cauteloso de efêmera confiança
Caminharam com calma até a grande cozinha, onde Dinah pôs-se a tagarelar sobre não saber cozinhar muito bem, enquanto fazia um café da manhã rápido para as duas
Camila a olhava fixamente, seguindo cada movimento dela, sentada de forma ereta e desconfiada na cadeira
A moça de cabelos de sol a havia prometido que não ia fazer dodói nela e a menina, não sabia se isso era de verdade. Já passara pelo mesmo antes. Mas a moça, tinha um sorriso tão bonito, e falava tão doce e ainda tinha feito carinho no braço dela... Camila gostava dela, do seu jeito, mais gostava da moça de cabelo de sol que ela não sabia dizer o nome. Era difícil e doía sua cabecinha pensar coisas muito difíceis. Ela gostava, gostava sim. E talvez ela não fizesse mal a Camila. Talvez.
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Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora