Só uma menininha

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- Eu vou só checar como Mani está com as meninas... Você vai indo só? - Ally questionou Dinah, ambas temerosas sobre o que aconteceria dali pra frente, tendo em mente o problema de gênero que Camila tinha
- Claro, te encontro na loja - a loira mais alta forçou o sorriso e rumou novamente para dentro do grande shopping, com Camila firmemente presa em seus braços, completamente a vontade
Tremia secretamente, pois não sabia qual seria a reação da menina ao simples ato de lhe comprarem roupas novas, roupas essas que indicariam seu gênero, seja ele qual fosse o escolhido por Camila
Foi quando entraram na enorme Carters, que Camila desgrudou o rostinho do pescoço de Dinah e olhou timidamente em volta
A loira a sentiu tremer no minuto seguinte e voltar a se esconder em sua pele, choramingando baixinho palavras inaudíveis, se é que eram palavras de fato
Dinah sentiu uma angústia terrível domina-la proviniente da própria angústia que Camila deveria estar sentindo. Ela podia facilmente imaginar o tamanho da luta interna que aquela bebê em seus braços travava consigo mesma, embora com certeza ela não entendesse a complexidade da situação
Ela apenas queria saber se era uma menina ou um menino
A mais velha simplesmente não podia vê-la daquele modo, sua angústia, era palpável. Todo o corpo e mente de Dinah suplicava que ela resolvesse o empasse o mais rápido e da melhor forma possível. Era como se ambas, estivessem...Ligadas
Ao ponto de Dinah sentir sua dor
Avistando um espaço reservado na lateral da grande loja, montado com sofás em tons neutros para o melhor conforto dos clientes frequentantes, se dirigiu para lá o mais rápido que pode e colocou Camila sentada no primeiro que encontrou
- Qual o problema Mila? - perguntou, se pondo ajoelhada na frente da menina, que ainda tremia e chorava silenciosamente com pequenas lágrimas, que desciam sua face linda e sumiam no tecido de sua blusa - Você está com medo? - perguntou, querendo chorar junto a criança
Pela ausência de um toque no nariz, o não foi confirmado
- Está sentindo dor? Fome? - questionou, temendo a veracidade das respostas
Nada
Camila apenas continuou a chorar em silêncio, enquanto seu pequeno corpo tremia visivelmente
Um bolo estava na garganta de Dinah, assim como uma dor terrível em seu coração
- Oh bebê... - sussurrou, deixando de lado seus próprios medos e anseios em relação a maternidade temporária que Camila representava e cedendo a real vontade de seu corpo, e coração, para pegar ela nos braços, e aperta-la com força, como se quisesse fundi-la a si
Camila, se apertou contra ela de volta, com força, aspirando o cheiro doce daquela moça tão boa, que tinha os cabelos de sol
Foram apenas minutos a ninando, sentindo o calor delicioso que emanava uma da outra, as respirações tocando ambas as peles e a sincronia de dois corações batendo juntos, ao mesmo compasso, com o mesmo sentimento
- Mila, eu sei que você já passou por isso antes e que te machucaram por ter escolhido ser menina ou ser menino... Mais eu prometo a você meu amor, que comigo, você pode ser o que quiser princesa... Qualquer um, e prometo que eu jamais vou brigar com você por isso... - a loira sussurrou, afagando os cabelos castanhos com delicadeza e tentando esconder a voz embargada pelo choro que ameaçava jorrar a qualquer segundo
Sentiu o pequeno corpo se afastar do seu e logo, aquele par de intensos e expressivos olhos castanhos lhe fitava
De uma maneira tão crédula, tão confiante, que por alguns segundos, roubou o ar dos pulmões de Dinah
Ela acreditava
Acreditava em Dinah
Ela sentia, sentia que estava segura e quem era a provedora de toda essa segurança, era justamente a mulher a sua frente
Como para confirmar, como para selar, como para confessar que realmente acreditava, Camila ergueu o dedo mindinho na direção de Dinah
A loira sorriu com os olhos marejados e por fim, agarrou o pequeno dedo mindinho com seu
E por fim, era uma promessa, e promessas de dedinho, não podem ser quebradas nunca, ambas acreditavam
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Dinah não pode dizer que foi uma surpresa quando viu a clara divisão em um corredor, de um lado, o rosa brilhava, do outro, o azul chamava
Meninos e meninas
Colocou Camila no chão, de frente as duas seções e passou a mão em seus cabelos, a incentivando
Também não foi uma surpresa, quando a menina seguiu instintivamente para o lado rosa, em passinhos confiantes. Mas então parou, virou-se e indagou, com os olhinhos, a mais velha, como se a perguntasse se aquela era a decisão correta a ser tomada
Dinah sorriu grande antes de seguir atrás dela pela seção feminina da grande loja, a vendo caminhar cabisbaixa por entre as inúmeras peças... Qual era o problema agora?
A loira se questionou sobre qual sentimento estaria passando por aquele pequeno e inocente coração... Talvez estivesse com vergonha? Medo? Dúvidas?
- Olha Mila - chamou, agarrando o primeiro vestido rosa que achou e caminhando até Camila - Não é lindo? - perguntou sorrindo
Camila olhou o vestido rodado e de um tom forte de rosa, de ceda
Seus olhinhos brilharam e ela levou uma das pequenas mãos a peça
Nunca vira um vestido tão lindo em toda sua vidinha
- Acho que ficaria lindo em você... - Dinah falou, arrancando um sorriso maravilhado da menina que ainda fitava a peça estonteantemente rosa - Quer experimentar? - perguntou animada
O toque no nariz, foi imediato
Não foi preciso de mais nada, logo as duas estavam numa cabine de provador muito bem arrumada, e mais logo ainda, Camila se encontrava somente de calcinha, ansiando pelo momento em que Dinah lhe vestisse com aquele vestido tão lindo 
Quando a peça finalmente deslizou por seu corpinho magro, lhe vestindo com perfeição, a menina suspirou, fitando- se pelo grande espelho que se erguia a sua frente. As mãozinhas deslizando sob o tecido e os olhinhos percorrendo cada detalhe minimo da menina que lhe olhava pelo espelho... Aquela era uma imagem que ela nunca tinha visto, e sonhara um dia poder ver 
Seus olhos se encheram de água, como quando ela queria chorar, mas aquilo era uma surpresa para Camila, já quê, ela não queria chorar, ela queria rir, rir alto, rir feliz. Ela era uma menininha, só uma menininha com um vestido rosa muito bonito 
Virou-se para a moça dos cabelos de sol, que assistia sua felicidade com um lindo e enorme sorriso e então... Sorriu, muito, grande, feliz.
Sorriu como uma garotinha de sua idade deveria sorrir
E gargalhou, quando Dinah, num impulso, a pegou nos braços e encheu seu pescoço de beijos barulhentos que a levaram a gargalhadas.
 Ambas riram e tudo que a vendedora que as atendeu, ouviu do lado de fora da cabine, foram gargalhadas felizes e unidas.
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Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora