Um quarto dourado e um talvez

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- Você foi perfeita! - exclamou assim que a garotinha correu para seus braços abertos ao fim da aula
Camila escondeu o rosto no pescoço de Dinah, que estava agachada a sua altura
- Cadê a tia Laulen, Jay? - perguntou com a voz embargada
Dinah não teve outra reação senão ergue-se com ela em seu colo
Não sabia onde estava a esposa e tampouco ela atendia o celular. Lauren havia sumido dali sem mais nem menos
E embora Camila tivesse sido brilhante na aula, fazendo quase todos os passos iguais ao de sua professora, Dinah observara que já perto do fim, ela olhara em busca de alguém e sua expressão denunciara o quão triste a pequena havia ficado por não encontrar
Ela queria que Lauren estivesse ali, lhe olhando dançar o balé que ela tinha falado tanto... Ela queria a Tia Laulen
- Eu não sei meu amor - a loira falou, enquanto caminhava com ela em seus braços para a fora da escola e tinha o celular, no meio de mais uma ligação para sua esposa, no ouvido
Fitou o Audi parado na outra ponta da movimentada rua e perto dele, viu uma morena sentada em um banco de madeira
Lauren fumava um cigarro, e se Dinah a conhecia bem, e ela conhecia, era um Djarum Black, o preferido de sua daddy, ela também sabia que a esposa só fumava quando algo estava muito errado
Se aproximou quase correndo de Lauren, e quanto mais próxima, mais notava a expressão de dor dela
- Daddy o que você tem? Onde esteve? Por que não atende o celular? - disparou no segundo que parou enfrente a britânica
Lauren se ergueu devagar do banco público, ainda tonta
- Me senti mal, desculpe, acho que foi o café da manhã - mentiu calmamente
- Oh Deus - a loira murmurou manhosa só com a ideia de sua Lauren doente
- Eu perdi muita coisa? - forçou um sorriso enquanto olhava pra Camila, que assim como a loira, lhe fitava com preocupação estampada no lindo rostinho
- Camila fez tudo direitinho, foi perfeita - Dinah babou
- Eu sabia que você era uma bailarina maravilhosa, gatinha - a maior elogiou fazendo a bebê corar e imediatamente, lhe perdoar por não ter estado lá - Escuta Sweetie, eu vou pra casa... Você pega a chave do carro e vai almoçar com as meninas okay? Eu vou de táxi
- O quê?! Não amor! Não vou te deixar sozinha doente! - a loira se alarmou
- Baby eu tô bem, vou chegar em casa, tomar um comprimido e ir dormir, não tem pra quê vocês perderem esse sábado lindo só porque a comida do Mack me pegou hãm? Vão e divirtam-se por mim também - soltou com calma
- Lauren...
- Eu quero ficar sozinha Honey - a maior contou
- Tem certeza que foi só a comida? - Dinah a questionou, estranhando o "sozinha" e o fato da esposa estar fumando
Lauren sorriu doce
- Só saudades - indicou o prédio da escola de balé e sorriu, arrancando um sorriso compreensivo da loira
- Se cuida e qualquer coisa Lolo, me liga por favor - pediu temerosa
- Relaxa e divirtam-se - a maior deixou um beijo na testa de cada uma e se dirigiu ao ponto de táxi próximo
Quando o motorista lhe deixou em frente ao Empire, lhe cobrando absurdos 30 dólares pela viajem, a britânica saiu cambaleante do carro amarelo e com o coração apertado
Mais tarde, de banho tomado, agarrou um Cardhu que trouxera da Escócia a muito tempo, e se dirigiu a sala de vídeo sabendo exatamente o que ia assistir. Depois de algum tempo procurando o velho dvd, o colocou no antigo reprodutor e esperou os créditos iniciais de O Exorcista começarem na enorme tela de sua casa
Bebeu e assistiu o mesmo filme de sempre, como a muito não fazia
E depois de longas duas horas de filme, uma garrafa do antigo whisky acabada e outra recém aberta, Lauren  se deixou levar pelo sono, atormentada por demônios do seu passado, cuja força para reprimi-los lhe havia sido roubada esta manhã, quando tivera a brilhante ideia de levar aquela estúpida garotinha ao inferno disfarçado em púrpura e ouro.
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- Você é a única amiga de infância da Lauren... Sabe alguma coisa do balé dela? - Dinah perguntou enquanto assistiam as meninas brincarem no Central Park depois de um almoço delicioso em um restaurante familiar
Allysson a olhou confusa
- Digamos que não sou amiga de infância DJ, mas de adolescência. Conheci Lauren quando tínhamos 17, no segundo ano do Eton, ela já não dançava mais balé naquela época...
- Ah - foi impossível que o muxoxo de frustração da maior na escapasse de si
- Por que? Aconteceu alguma coisa? - a Brooke a questionou confusa, a Sra. Jauregui apenas havia dito que Lauren não se sentira bem, decorrente disto, não vira almoçar com elas, assim como contara feliz o quão boa estava a relação da britânica com a bebê
Dinah lhe contou o que ocorrera esta manhã e o quão desconfiada estava
- DJ - a menor sorriu - Ela apenas ficou com saudades do tempos que fazia balé... Queria que você tivesse visto como Lauren era popular, mandava no Eton College inteiro, aposto que era do mesmo jeito no balé
Dinah sorriu se confortando, talvez fosse mesmo isso
Voltou a fitar Camila, rindo e brincando do pega com as gêmeas Brooke - Kordei
Ela estava muito feliz
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Dinah estacionou o carro na garagem e notou que o Aston Martin negro, o preferido de Lauren, não estava ali, indicando que a esposa também não
Desceu sem ânimo algum do veículo azul e pegou a bebê sonolenta nos braços, cansada depois de um dia cheio e animado
Subiram para o apartamento em completo e delicioso silêncio, assim como o banho que compartilharam foi ao mesmo compasso
- Tetê Jay? - ouviu a garotinha pedir já de pijama sobre a grande cama de casal
Dinah sorriu, simplesmente amava a ouvir pedindo peito assim
- Já vou dar bebê - prometeu, terminando de se vestir
Depois de pronta, ligou a televisão de seu quarto em um desenho bobo e olhou a menininha que chupava sua chupeta quietinha e com os olhinhos pesados de sono na sua cama, toda esparramada enquanto fitava a telona
Se deitou ao lado dela com calma e a encarou
Como podia ser tão linda?
Os cabelos agora bem cortados, iam até abaixo de seus ombros em cachos suaves, a franjinha que Leon fizera, deixava seu rosto ainda mais infantilizado
Ela jamais pareceria ter a idade que tem, Dinah sabia, seja lá qual fosse
Camila notou os olhos sobre si e devolveu o olhar, corando ao encontrar a maior lhe observando
Dinah sorriu encantada
Era fato que se havia algo que Camila sabia fazer bem, era lhe deixar boba
- Vem, vem mamar - chamou abrindo os braços fortes
A garotinha se jogou rapidamente neles, rindo sapeca e feliz, ela amava mamar na Jay
Amava o tetê, que era melhor que todas as chupetas do mundo todinho
Amava o cheiro de Jay, que era mais doce que todas as flores do jardim
Amava os olhos de Jay, que lhe faziam sorrir sempre e tinham a cor e o brilho mais bonito que a garotinha já vira em toda a sua pequena vida
Amava os toques de Jay, que faziam a bebê se sentir bem, segura
Amava também os sorrisos que Jay lhe dava, que faziam os seus sorrisos saírem de si sem ela nem poder escolher
De fato, ela queria mamar pra sempre, e pra sempre, na Jay
Fechou os olhinhos e agarrou o bico manhosa, cheirando a pele macia da loira para dar um sorrisinho ao final
Dinah sorriu também, nunca experimentara nada melhor na vida e mesmo sabendo que Lauren poderia chegar a qualquer minuto e a pegar amamentando Camila na cama das duas, ela não se importava
Camila importava ali, agora, sempre. Mais ninguém.
A arrumou em seu colo e fechou os olhos em paz, sentindo os puxões leves e ritmados no bico de seu seio e o barulho adorável que Camila fazia ao sugar
Era um bálsamo, um paraíso, uma utopia, para ambas.
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Colocou as sacolas em cima da mesa da cozinha estranhando todo o silêncio no apartamento
Escondeu as duas garrafas de whisky que ela tomara mais cedo e subiu as escadas em busca das duas garotas
A primeira coisa que viu foi a porta de seu quarto aberta, completamente iluminado pela luz do fim de tarde nova iorquino, entrando pela enorme janela que ia do chão ao teto
Caminhou até a porta, já vendo dois corpos no grande colchão
Ao entrar, sentiu aos poucos, algo quente correr em suas veias
Dinah estava deitada na cama delas, os cabelos loiros espalhados pelo travesseiro branco, brilhando conforme a luz do sol os tocava, sua pele parecia dourada, também pela luz. Sua face esculpida e doce, tão feminina e linda, era o retrato perfeito da paz, até mesmo um sorriso singelo brincava em seus lábios. O lindo corpo estava escondido em um pijama leve, de cetim amarelo, com uma das alças abaixadas, alça essa que cedia a blusa e revelava seu seio direito, exposto e sugado... Por Camila
Ela respirou fundo ao fitar a garotinha que mamava com tanto carinho, mesmo que inconscientemente, sua esposa. Camila se encontrava encolhida junto ao corpo da mais velha, dava para perceber o quão a vontade estava só pela forma como os pequenos bracinhos se encontravam espalhados na cama, a luz solar não lhe tocava tanto já que o corpo de Dinah estava em frente o seu, mais ainda assim, ela parecia um pequeno anjinho
Tudo naquele quarto tinha um tom dourado
Era tão... Mágico
E exalava paz
Lhe trazia paz
Paz e algo quente, doce e energético
Diferente de tudo que aquela britânica já havia sentindo
Seria por ver Dinah amamentando? Imaginar a bebê delas ali?
Ou seria... Por ser Camila ali? Agarrada ao seio da esposa?
Seria por Camila?
Balançou a cabeça tentando afastar tais pensamentos, Camila não era parte do futuro delas, já estava decidido há muito tempo
Lauren até mesmo queria ter ficado com raiva por Dinah lhe contradizer e amamentar a menininha, mas a cena a sua frente era tão linda, íntima e reconfortante, que a britânica apenas sorriu grata
Foi até ambas e as cobriu, abaixando a temperatura do ar condicionado no quarto
Ao fitar Camila mamando, via o quão feliz ela estava, tanto, que parecia dar pequenos beijinhos no bico ao invés de suga-lo. Talvez a morena não se opusesse mais a um ato tão lindo... Talvez.
Fechou a porta do quarto e desceu a escadaria até o andar de baixo
Estava na hora de compensar o acontecimento da manhã, de um jeito que só Lauren sabia fazer.
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Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora