A deixar ser quem ela é

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- Uma voltinha - Dinah pediu, sorrindo grande
Camila deu uma risadinha antes de girar sem muita coordenação, exibindo com orgulho o conjunto de saia e blusa que provava
Fazia mais de uma hora que estavam assim, provando e provando diversas roupinhas na menina, que simplesmente, parecia outra criança 
Camila não parava de sorrir e rir pra Dinah, até já dera alguns sorrisos pra Aly e até mesmo pra vendedora simpática que as auxiliava
Era ela quem corria nas araras entulhadas de roupas e escolhia a sua, correndo de volta a Dinah para saber se ela aprovava ou não
Assim como as duas mulheres loiras imaginavam, todas as peças eram rosas, senão tinham toques sutis ou não da cor.
Quando a sessão de roupas na Carters acabou, as três se dirigiram a uma sapataria para novamente, verem Camila escolher sapatos extremamente delicados e rosas, quase todos na cor rosa
Quando as compras também findaram ali, com Dinah também adquirindo dois saltos, Ally as arrastou até um restaurante para almoçarem juntamente de sua família
Enquanto caminhavam pelo shopping, Camila não pediu o colo da loira. Ela apenas caminhou de mãos dadas com Dinah, sorrindo constantemente para sua acompanhante e orgulhosa por estar trajando um dos vestidos que compraram e uma sapatilha branca com flores rosas desenhadas
A menina parecia outra criança, ou melhor, parecia uma criança. Cheia de vida, personalidade e felicidade
Era como se estivesse descobrindo quem era e o quão divertido era ser, nesse exato momento
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- O que deram a ela? - Normani perguntou enquanto devorava sua salada, repleta de coisas que Dinah jamais havia visto na vida, apontando pra Camila, que sorria para Ayla enquanto a menina tagarelava sobre a Barbie. Ambas com os Mac's lanches felizes pela metade, temporariamente esquecidos em cima da mesa
- Nada - Ally deu de ombros, muito animada com a lasanha em seu prato
- Sério? - Mani questionou a melhor amiga, que não parava de sorrir em direção a garotinha
- Hãm, sim...
- Então se fizer compras com ela, ela fica feliz? Uma pequena consumista! Lauren vai ama-la! - Normani berrou no seu melhor estilo escandaloso lembrando a Dinah que sua esposa era uma consumidora desenfreada, ainda mais no setor automobilístico e imobiliário, é claro que sua Lolo também não resistia a roupas e muito menos a sapatos, tudo nas melhores e mais caras grifes porque ela era Lauren Jauregui
- Não Mani... - a loira mais alta questionou revirando os olhos e com um enorme sentimento de defesa a garotinha berrando em seu peito - Ela não ficou feliz de fazer compras, ficou feliz de ser aceita
- Ser menina? - a negra voltou a questionar, com um raciocínio impressionantemente lento
- Isso, foi só deixa-la ser quem ela é - sorriu orgulhosa, tanto de si quanto da pequena menina
Que lhe olhou e instintivamente, sorriu
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Camila o fitava seriamente, as mãozinhas tocando o rosto de Dinah com cuidado, enquanto os olhinhos não desgrudavam de Leon de jeito nenhum, cada movimento do célebre cabeleireiro sendo filmado por aquela menininha
Estavam no salão preferido de Dinah a um bom tempo, enquanto a loira tentava a todo custo convencer Camila de cortar os cabelos de uma maneira... Normal?
A pequena não aceitava a ideia de alguém mexendo no seu cabelo, até porque isso lembrava Ela e o dia em que ela segurara suas mãozinhas com força e tentara fazer o cabelo longo da menininha ficar igual ao de Alex e Guile, em um perfeito corte masculino, mesmo com ela gritando, esperneando e suplicando para sua tia não lhe cortar os lindos cachos castanhos
"Vai ficar sem jantar Cameron! Fique quieto seu porco! Parado! Vou cortar sim! Merda de cabelo!" 
Camila ainda podia ouvir os gritos dela atrás de si e sentir o aperto de seus braços a prendendo junto ao seu corpo
Ainda sentia todo medo e toda a dor, mesmo sem entender o que era e o que havia se passado nos anos que ficara sobre a guarda de seus tios
Por isso, tremera de medo ao entrar no salão com Dinah, mesmo sendo um lugar tão bonito e cheio de crianças sorridentes
A loira, não a forçaria a nada. Sob hipótese alguma. Por isso, deixou Leon cortar as pontinhas de seu cabelo para assegurar a Camila que não fariam nada que ela não quisesse, nada a força, e somente, no tempo dela
Quando por fim sentiu-se confiante, sem ao mesmo deixar o colo de Dinah, deixou que Leon cortasse seus cabelos, se apertando contra a loira como se ela fosse sua protetora imbatível e inseparável
Sua reação ao ver seu novo cabelo foi simplesmente surpreendente. As mãozinhas dedilharam o espelho que a refletia, como se a menina que ali estava não fosse ela mesma. Quando por fim notou que aquela linda garotinha de franjinha e cachos pesados era ela, tocou a si própria detalhadamente e só então virou-se para a loira que a encarava sorrindo, de corpo e alma, e correu.
Correu pra Dinah, correu pra mulher dos cabelos de sol, correu pra aquela que em apenas um dia, tinha conquistado e cuidado de seu coraçãozinho tão machucado
Quando a loira em fim a pegou nos braços, Camila a apertou com força e lembrou-se da Sra. Dolores, a senhora que morava na casa ao lado, a qual costumava lhe dar doces e lhe proteger dos dias difíceis de seus tios soltos em casa. A Sra. Dolores dizia que existem pessoas que vem a terra e na verdade são anjos, anjos iluminados
"Eles protegem e cuidam dos humanos Kaki... Todos temos um, você também tem um e eu aposto que o seu é muito bonito e muito, muito forte, ele vai te proteger sempre"
Ela podia ouvir em sua mente e em seu coração a Sra. Dolores dizendo isso enquanto colocava uma mamadeira de suco a sua frente em uma tarde de muito calor
E ela sabia, no fundo de seu coração, jovem e inocente, que a moça dos cabelos de sol, era seu anjo iluminado, ele finalmente tinha chegado, pra ama-la do jeito que ela era.
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Clara Jauregui apertou mais o casaco de cashemira verde musgo contra o corpo e fitou o grande jatinho prateado pousar na pista a sua frente
Em sua lateral, um enorme "Jauregui Enterprises" pintado em letras pretas muito elegantes, a fazia recordar de seu amado esposo e da família dele que havia fundado essa empresa, sem ao menos testemunhar o enorme triunfo dela quando a garota prodígio da família assumiu a presidência e a levou as alturas do mundo petrolífero
Lauren era mesmo o seu maior orgulho e a filha que, ironicamente, ela menos colocara fé. Mas quando a garotinha, de hipnóticos olhos verdes tocou Clair de Lune do grande Debussy com perfeição no antigo piano da família durante o aniversário dela, Clara percebeu que embora tivesse no meio de suas pernas algo que não era comum as demais garotinhas, Lauren não era um castigo pelos atos da mãe ou do pai e sim, um presente dos céus.
Ela era única
E não era só a beleza desconcertante, facilmente hipnótica, mas ela era um conjunto de habilidades únicas, como a inteligência para assuntos considerados intoleráveis pela maioria, a sensibilidade musical, a facilidade em línguas distintas e ainda a afinidade alarmante com os esportes
Lauren falava três idiomas fluentemente, o francês, o inglês e o espanhol. Tocava piano, violão e se arriscava na bateria vez ou outra, dançara balé até os 15 anos e praticara todo tipo de esporte, desde o futebol americano até mesmo o polo aquático. Também dirigia e pilotava desde os 16 anos e caçava como ninguém além de ser excelente com armas. Terminara o ensino médio aos 18 com honras no Eton College e com apenas 19, estava no curso de direito na Oxford. Aos 24 assumia seu lugar por mérito e direito na  presidência da empresa do pai e disseminara o domínio da Jauregui pelo mundo. Eles eram a sexta empresa privada mais poderosa da terra, com um patrimônio líquido avaliado em aproximadamente 241,6 bilhões de euros e três filiais, espalhadas pelos EUA, França e China. Tudo isso, graças a menina que Clara jurara ser uma aberração ao nascer, por ser intersexual
Hoje, dos três, Lauren não era só a mais amada, assim como a mais adorada e Clara não fazia questão alguma de disfarçar isso para os outros dois filhos
Ela só não entendia, o por quê do casamento de Lauren com Dinah, uma simples garçonete, mas já desistira de tentar fazer algo contra. A filha, era loucamente apaixonada pela moça que Clara considerava inferior
Sorriu grande quando a porta do avião se abriu e de dentro dele uma figura de preto surgiu
Lauren desceu as escadarias com firmeza, mesmo em cima de seus altíssimos Loubotin's, pretos e clássicos, de bico e saltos extremamente finos. Usava seu usual terno negro sem gravata e um sobretudo também negro por cima, os longos cabelos escuros presos em uma trança enraizada na lateral de seu cabeça.
Sorriu docemente quando viu a mãe parada ali, trajando um casaco grosso e verde, juntamente de uma calça num tom esquisito de marrom e sapatos de bico fino, idênticos aos seus, na mesma cor do casaco dela. Ao seu lado, o comum carro de dona Clara Morgado, e também predileto, um Rolls Royce Phantom na cor uva, réplica do da Rainha Elizabeth II
Caminhou até ela com propriedade e rapidez, percebendo traços sutis de mudanças mínimas, como um degradê mais acentuado em seus cabelos da cor de mel e a sobrancelha mais escura, indicando ter sido feita a pouco tempo
Quando por fim se abraçaram, Lauren sentiu o perfume delicioso e inconfundível de lírios da mãe.
Forçada ou não, estava em casa e ela, amava isso
- Onde está aquela praguinha? - perguntou séria, olhando dentro do carro para se certificar de que Taylor não havia vindo
- Ficou em casa, rezando pra não apanhar - Clara foi categórica em dizer, negando com a cabeça
Foi impossível um sorriso não escapar de Lauren. Mesmo Taylor sendo uma peste na maior parte do tempo, ela amava demais a sua Bunny
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Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora