Porta retrato

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A porta foi aberta com certa dificuldade e a loira entrou sorrindo enquanto segurava a bebê
- Estamos em casa bebê! Em casa! - vibrou baixinho, balançando animadamente a garotinha em seus braços
- Em casa mama! - Camila comemorou, sorrindo com uma das mãozinhas na boca
A mais velha fitou o grande cômodo da sala intacto e perfeitamente limpo, sorrindo, a luz do fim de tarde novaiorquino entrando com calma pelas janelas abertas
Era maravilhoso estar em sua casa e mais maravilhoso ainda, era saber que Lauren deveria estar no trabalho e logo chegaria, sem ter noção de que ela estava ali
Um miado alegre e característico se fez presente e logo o grande Bengal se aproximou feliz
- Olha quem tá aqui Mila! - Dinah sorriu colocando a menina no chão que agarrou o pobre gatinho no seu melhor estilo "Felícia"
- Oi Lic! - cumprimentou Alaric que silvou, contente até mesmo com o carinho de pouco cuidado
Dinah riu feliz antes de levantar os olhos de dar de cara com uma Madalena parada na porta da cozinha, lhe olhando chocada
- O que foi Lena? - questionou sorrindo confusa enquanto se livrava de seu sobretudo
- Oh... Oh... Dinah querida é que eu não imaginava que alguém fosse voltar assim tão cedo... - murmurou nervosa e confusa
Dinah ergueu uma das bem feitas sobrancelhas
- Cedo? Como assim? - questionou e então se deu conta de algo importante - Onde está Draco, Lena? - perguntou pelo bichano antipático que sempre vinha olhar a movimentação por entre as pernas dos móveis, e não estava ali
Pela boca aberta de Madalena, sua ausência notória de palavras e a confusão que a senhora demonstrava, Dinah não precisava mesmo ouvir nada
Largou a bolsa e a bebê na sala e correu desesperada para seu quarto, passando direto para o closet
Fitou em desespero as inúmeras gavetas e prateleiras vazias
Não havia nem mesmo uma cueca de Lauren ali
Nada
Absolutamente nada
Virou-se com um último lampejo de esperança e correu até o escritório dela sabendo que a sua Lauren jamais iria embora sem levar, Aquela, foto.
Mas para sua completa infelicidade, o porta retrato dourado e antigo, que ficava em cima da mesa de sua esposa, com a foto mais amada do casamento de ambas, não estava lá
Lauren havia ido embora e isso era tudo culpa de Dinah.
Em desespero, a força lhe faltou e ela caiu sobre os próprios joelhos, chorando desesperadamente.
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- Vamos amor, se concentra - Allysson pediu pela vigésima vez a Holly, que fazia tudo, menos concentrar-se na sua atividade de francês 
A loira bufou exasperada quando a gêmea mais velha tentou colar pelo da sua irmã que escrevia as últimas linhas
- Sem olhar pelo da sua irmã! - gritou irritada - Mani! Me ajude aqui, sim? - pediu cansada
Fora um longo dia e o escritório sem Lauren tornava-se uma louca direcionada a ela, que diga-se de passagem, não era formada para lidar com a empresa, sendo advogada financeira. E ainda tinha uma Ayla manhosa e uma Holly frustada por detestar o francês 
Normani desceu a longa escadaria da casa delas e sorriu doce, diferentemente de sua esposa, ela tivera um dia adorável na profissão que tanto amava, era uma excelente professora de dança, dominando tantas categorias que mal podia contar 
- Vem Loly - chamou, pondo a mais velha no colo antes de fitarem juntas a lição mal tocada da garota - Como se diz mesmo, Ally? - perguntou, virando o caderno na direção da única pessoa da casa que falava e amava a língua de Paris 
- Je vais  - murmurou cansada e com uma Ayla pedindo colo quase que desesperadamente 
Normani voltou os olhos para a loirinha pequena e a esperou conjugar o verbo "vamos"
Vous allez... - Holly soltou, olhando a sua mommy - Nous allons... E... E... Hãm... - embaçou, apertando os olhinhos negros em confusão
Ally bufou novamente, exausta
- Preciso de férias - sussurrou fazendo Mani rir baixo - Ils vont, filha - deu a resposta se levantando com Ayla em seus braços - Amor, você faz o mamá dela? - pediu, se referindo a Holly que lhe olhou furiosa
- Não é mais mamá mommy! - exclamou contrariada - É só leite. Eu não tomo mais mamá, isso é pra crianças - sentenciou com o peito estufado e um orgulho evidente na fala
As mães sufocaram a risada
- Pode deixar meu amor - Normani sorriu pra sua esposa - Eu faço o leite dessa jovem adulta - brincou ganhando um sorriso de Holly
Ally lhe deu um rápido beijo antes de deixar a cozinha e subir as escadas com a caçula agarrada em si
- Mommy... - Ayla chamou, brincando com o colar de sua mommy - Eu não quero ser uma jovem adulta como a Holly... - confidenciou
- Não? - a mãe questionou achando graça, em sua mente, todas as crianças queriam sempre ter mais idade do que realmente tinham, sem saber o quão ruim isso é na realidade
-Hunhun - murmurou intertida com o pingente dourado de duas menininhas - Quero ser bebê mommy, seu bebê - sorriu fofa pra mãe que a deu um beijo
Ally a colocou sobre sua cama e se concentrou em achar algo na Netflix que prendesse a atenção daquela manhosa e energética garotinha
- Mommy? - Ayla a chamou
- Sim bebê?
- Bebês podem namorar? - questionou arteira e a mãe ergueu uma das bem feitas sobrancelhas, confusa
- Não querida, bebês não namoram... - garantiu com os olhos na tela
- Por isso que Loly quer ser uma jovem adulta... - a menina pensou alto sobre a cama e Ally sentiu o ar faltar
Ayla não poderia estar falando sério!
A sua Holly, a sua menininha, queria namorar?!
Respirou fundo e quando ousou abrir sua boca, o sonoro toque de seu discreto iPhone rosa, soou
Grata pela distração temporária, a loira correu até o aparelho e sorriu ao ver o nome brilhando na tela
- Oi - saudou animada - Como vocês estão? - perguntou se referindo a ela e a bebê
- Ally... - seu nome foi quebrado por um soluço, o bastante para a advogada se desesperar
- Oh meu Deus Dinah! O que houve?! - berrou preocupadíssima
- Ela... - outro soluço do outro lado da linha - Me deixou, Ally...
E devagar, Allysson entendeu o que era e sorriu mais calma
- Oh DJ... Ela que acha que você a deixou
E ouve silêncio por parte da loira maior
- Jesus... E onde ela está Ally? - questionou confusa
- Arundel - foi categórica ao contar a verdade
- Sabe Ally... - Dinah falou, calma, sua voz com um toque de vida - Preciso muito da sua ajuda
Allysson deu uma risada baixa, imaginando o que era
- Em que posso ser útil Dinah? - questionou, animada
E ambas, sorriram.
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O pano era passado com exímio cuidado e calma sobre o longo cano. Ela se esquecera brevemente do quão vasta e encantadora era a coleção de armas de seu pai. Iam desde pistolas antigas e clássicas, aos mais modernos rifles Spiner lançados antes do falecimento do duque de Arundel. Lustrava a Savage 64, seu rifle preferido enquanto fitava aquela enorme quantidade de armas dispostas em prateleiras bem lustradas, as mais especiais ou antigas, protegidas por vidros trancados. Michael era mesmo fã da caça esportiva, e embora Lauren não fosse a mais adepta ao esporte, ela tinha que admitir que havia sim seus encantamentos e prazeres.
Fora justamente pensando assim, que levantara aquela manhã de sexta feira, pouco antes das cinco da matina, limpara toda a sujeira de seu quarto e se arrumara para caçar o que quer que aparecesse na mata próxima ao castelo. Se dirigira a cozinha e sob os protestos de uma Helga sonolenta, ela fizera seu próprio café e o tomara com calma, o apreciando. Em seguida, lustrara algumas armas e escolhera a sua, antes de carrega-la e agarra-se com a pistola Colt Python preta fosca com cabo de madeira, a preferida de seu papa. 
Calçou suas botas de montaria e vestiu o pesado casaco, antes de sair para a chuva fina e densa que cobria toda a Arundel, ideal para um dia inteiro, caçando.
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Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora