Cantando na chuva

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- Então você ficou com raiva? - Regina perguntou calma, enquanto as duas andavam pelo Central Park olhando suas garotas que corriam felizes a frente, aproveitando o início da noite
- Claro que fiquei! Lauren não tinha o direito de viajar e me deixar só com a bebê! - esbravejou frustada
Regina apertou mais o casaco negro contra seu corpo, o inverno novaiorquino finalmente estava no começo. Checou sua garotinha a frente, com medo dela adoecer
- É o trabalho dela Dinah, sei que tem o direito de estar com raiva, mas... Lauren precisava ir não é? Se ela não for, quem vai? Você sempre soube o quão importante é sua esposa - Regina falou de maneira compreensiva e até mesmo doce
A loira apenas concordou, sabia que sua amiga estava correta como sempre
Lauren fazia o que podia.
- Acho que vai chover - a juíza falou observando o céu encoberto de nuvens e o vento trazendo o cheiro inconfundível da chuva
- Tomara - Dinah sorriu alegre
Ela adorava chuva, e talvez estivesse mesmo precisando de um banho de chuva no momento
Ambas entraram numa conversa conhecida que vinham tendo a alguns dias: Filhas
E se apossaram de um banco de madeira próxima a grama, armadas com dois copos de café puro e bem quente enquanto observavam as bebês brincarem na relva verde ali próximo
Dinah admirava muito a mãe e a mulher que Regina era. A primeira vista, detestara a vizinha carrancuda de sua namorada, mas após a juíza lhe salvar de ter que explicar a Lauren uma batida em um dos seus carros enquanto Dinah estacionava, elas viraram boas amigas e a Jauregui presenciara toda a luta que fora ter a guarda e todo amor que Regina mantinha por Emma.
Ela era uma mulher incrível, e Deus, como se parecia com sua Lauren.
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Quando as primeiras gotas de chuva tocaram a terra, Regina Mils já tinha a pequena Emma nos braços, e insistia para irem embora. Após muito insistir e ver que a tempestade se aproximava cada vez mais, Regina fora embora com sua filha, advertendo a amiga sobre os perigos de uma bebê como Camila tomar chuva
Dinah realmente, não queria ouvir
Ela queria tomar um autêntico e poderoso banho de chuva de Nova York, dançando e cantando em meio ao Central Park como ela sabia que muitas almas amantes como a sua faziam. No seu décimo terceiro encontro com Lauren, elas haviam dançado e trocado beijos debaixo de um enorme temporal, em plena Times Square. E era justamente por Lauren que ela iria tomar um banho de chuva, pra livrar-se de toda a raiva e frustração que a esposa lhe trazia com sua sede incontestável por dinheiro
Quando a chuva engrossou aquela noite, muitos correram e outros muitos, ficaram. Brincando alegres como verdadeiras crianças pela grama do enorme park de Manhattan
- I'm singing in the rain... Just singin' in the rain - as velhas caixas de som dos postes de luz começaram a tocar o clássico dos clássicos, enquanto os americanos riam felizes e cantavam juntos a canção, até mesmo alguns faziam os passos de sapateado do filme - What a glorious feeling.... I'm happy again

(Eu estou cantando na chuva... Apenas cantando na chuva
Que sentimento glorioso... Estou feliz novamente)

Dinah segurou Camila pelas mãos enquanto as duas dançavam e riam
A bebê não poderia estar mais feliz, tudo aquilo parecia um sonho encantado e ela desejava que jamais acabasse
- I'm laughing at clouds... So dark up above - foi a vez de Dinah cantar junto o grande sucesso Hollywoodiano - The sun's in my heart... And I'm ready for love

(Estou sorrindo das nuvens... Tão escuras lá em acima
O sol está em meu coração... E estou pronto para o amor)

Fitou a garotinha que ela girava pela grama com suas mãos. As gotas de chuva inundavam sua face, contudo, seu sorriso, era tão grande e tão lindo, que parecia o próprio sol
Camila jogava a cabeça pra trás enquanto dava sonoras gargalhadas felizes
Era um dos sons mais lindos que Dinah já havia ouvido
A pequena, assim, rindo alegre debaixo de um temporal, era sem dúvida, a imagem mais bela deste universo
Capaz de ofuscar o brilho da própria Monalisa, o quadro mais famoso da história humana
E em meio a sua cantoria, percebeu como aquela música, se encaixava com perfeição sob o que estava sentindo nesse exato momento, sob o que estava vivendo, e sob o pequeno sol que girava pela relva com ela
- Let the stormy clouds chase... Everyone from the place... Come on with the rain - cantou dessa vez, com todo o coração

(Deixe as nuvens perseguirem... Todos do lugar... Vamos com a chuva)

Era certo, ela estava cantando na chuva, com um pequeno e radiante sol entre as mãos
Camila era o sol
Camila, era o seu, sol.
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O Laraki desfilava com calma e segurança pelas ruas tranquilas de Bengasi, longe de toda a polêmica e atenção que ocorrera nesta tarde em Trípoli, quando a companhia britânica Jauregui Enterprises chegara a capital da Líbia, remetendo a população dos tempos de dominação inglesa em todo o continente
É claro que o discurso encorajador e pacífico da bela proprietária, diante todos os proprietários da antiga Sun Oil e os civis que se acumulavam perto do grande prédio que servia como sede, acalmou os ânimos do povo e até mesmo os deu esperança de mudanças financeiras com a chegada da bilionária multinacional a um país tão podre.
Agora, longe de toda a multidão, flashs e atenção, Lauren agradecia em silêncio.
Estava no continente a menos de oito horas e podia se dizer encantada por tudo na África, desde as comidas deliciosas a hospitalidade do povo que sequer sabia quem a estonteante mulher era
Ganhara de Hadaj, o antigo sócio majoritário da empresa, um belo Laraki Borac V2 cintilante de tão branco, o qual, ela não sabia como faria para enviar aos EUA, já quê viera no seu jatinho. Havia fugido de Trípoli assim que o jantar acabara, agradecendo a Deus pelos costumes africanos de jantarem extremamente cedo. Em seguida, voara junto de seus melhores e mais confiáveis empregados, para a cidade que havia outro aeroporto seguro, Bengasi, só então descansaria e partiria às 02:00 da madrugada de volta a sua casa, enquanto todo o resto de sua companhia ficaria para estabelecer definitivamente o domínio da empresa. Estava feito, Lauren conseguira.
E fora justamente para comemorar outra vitória, que a inglesa havia saido hotel e ido testar seu novo carro pelas ruas da tranquila e bela cidade. Fora justamente nessa sua volta, que encontrara uma joealheria aberta mesmo tarde da noite. Para sua infelicidade, as atendentes da requintada loja, sabiam perfeitamente quem ela era, começando a baba-la e paparica-la de todas as formas possíveis, as quais, deixavam Lauren extremamente envergonhada. Contudo, se Clara sonhasse que ela achou uma joalheria africana aberta e não saiu comprando todos os belíssimos e afro diamantes, era capaz de não falar com a filha pelo resto do ano.
Para Clara Jauregui, diamantes, jóias em geral, eram um magnífico e lucrativo investimento. Para Lauren Jauregui, era tudo uma grande bobagem em que se gastavam milhões.
Mesmo assim, fazendo os gostos de sua mama e tentando manter sua paz interior, entrou na joealheria e fez a festa das vendedoras ao escolher inúmeras peças de beleza inquestionável e preço inacreditável de tão barato, afinal, ali era a terra dos diamantes. Tudo isso para aumentar o grande acervo da família Jauregui, que contava com jóias datadas até mesmo do século 17, para a total felicidade de Clara. Em meio às peças belíssimas, achou algo que realmente, valia-se a pena gastar toda a sua fortuna. Algo que era absolutamente a cara de sua amada mulher.
- Ouça - interrompeu a alegre vendedora que terminava de embalar todas as 22 peças - Tem algo... Infantil? - questionou curiosa
Os olhos escuros da moça se voltaram para ela confusos
- Infantil, madame?
- Hãm, sim... É para... Minha filha - disse com calma
Quando mais tarde, o presente adorável de Camila já estava em sua mala e Lauren já se encontrava vestida para voltar a sua casa, pensou no que dissera a vendedora
Sua filha
Sua filha
Filha
- Minha filha - sussurrou sozinha e então, gostou de como aquilo soava
É
Ela gostava
Gostava de chamar a pequena Camila de filha.
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Passava das 04:00 da manhã quando Dinah acordou com murmúrios
A bebê ao seu lado, falava frases desconexas e inteligíveis, parecia delirar
Assustada, a loira colocou sua mão sobre a pequena testa, retirando no segundo seguinte tamanho calor
Camila estava pegando fogo
Ela estava delirando de fato, delirando de... Febre
E só então, a loira permitiu-se ficar apavorada.
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Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora