Chuviscos do passado

5.1K 342 47
                                    

Quando Dinah se rendeu a um sono leve juntamente a bebê, a qual dormia tranquila sobre a cama, a paz reinou no quarto. Lauren as fitou com calma, da poltrona. Tão lindas e indefesas, era sua função protege-las.
A pequena menina exibia até mesmo um sorriso satisfeito nos lábios rubros. Sorriso de quem agora, sabe quem se é. Uma certeza que ninguém teve a bondade de dar a pequena Lauren
"Quem Mila é?"
A pergunta lhe lembrava ferozmente de uma similar, a qual se fizera por boa parte de sua vida: "Quem eu sou? O quê, eu sou?"
A lembrança dessa pergunta, fez seu estômago revirar lentamente, como em um carrossel infernal. Logo, sentiu seu corpo, suar de forma fria e sua boca secar como se ela estivesse num deserto
Não
Não
Não
E não
Não entre nessa Lauren...
E já era muito tarde, sua mente lhe traiu e as imagens dolorosas se firmaram diante seus olhos

°°°°°°°°°°°°°Flashback ON°°°°°°°°°°°°°°
Os scarpins de pele de alguma pobre cobra, batiam e arrastavam pelo chão de madeira polida e escura do antigo cômodo.
Os olhos escuros, doces por tantas vezes, recaiam sobre a jovem criança, confusos, contudo, pacientes. Aquela era a sua garotinha e independente de quem ela desejaria ser dali em diante, Lauren sempre seria seu primeiro amor. A sua salvação de seus maiores tormentos. Michael era um pai amável e bondoso, seriamente ausente.
Clara, era uma mãe presente, crítica e exigente, contudo amava Lauren acima de tudo e todos. Ela era, a sua, garotinha perfeita. A filha que ela sempre sonhara. E de fato, Clara não ia abrir mão da sua menina, jamais. Direcionou os olhos para a figura pequena que parecia querer sumir daquele sofá e especialmente, daquela conversa.
Lauren falara seu desejo mais profundo entre lágrimas seguradas com esforço e uma coragem recém descoberta. Ela precisava daquilo, bem sabia. Precisava saber que em era, ou melhor, o que, era.
E só Deus e ela sabiam o quão difícil fora falar aquilo. Falar livre e abertamente, que ela não sabia se era um menino ou uma menina. Simplesmente não sabia. E queria largar toda a sua vida para ir a uma escola fundamentalmente masculina, no interior da Escócia.
- Não, não, não! - a mulher exclamou dramáticamente - Oh minha menina linda, por favor, mamãe lhe dá tudo que você quiser mas não...
- Mama - a voz baixa e rouca, lhe interrompeu. Lauren fitava as próprias mãos em meio aos joelhos quase sempre ralados - Eu preciso, ir - enfatizou sua necessidade
- Não Laur! Você não precisa! Você é minha garotinha! - berrou frustada em meio ao escritório
- Basta Clara! - Michael exclamou, erguendo-se da cadeira - Olhe para ela! Lauren só tem 15 anos e está confusa, machucada! Se ela quer ir e ser um menino lá, ela vai! Tem que decidir sozinha!
- Ela não precisa fazer nada sozinha, Michael! Eu sou a mãe dela, vou estar com ela em tudo! É só uma fase! - Clara berrou em desespero quase palpável. Ela não iria perder sua menina
- Deus do céu, mulher! Olhe pra sua filha! Veja como está infeliz! Será que é difícil olhar para teus filhos ao menos uma vez?! - foi a vez de seu marido berrar, se pondo diante dela
- Ohhh você olha muito para eles não? Seria quando está em Saint Tropez com Genevive? - exclamou completamente irônica, nos lábios finos, um sorriso debochado - Ou quando fode Amélie em Verona? Ou seria quando cavalga com os filhos de Diane em Arundel? Você é um pai tão atencioso Michael... - ironizou revirando os olhos castanhos para o marido
- Traga Anthony para casa então Clara! Talvez o Sr. Wraytt saiba cuidar melhor dos meus filhos do que eu hãm? - Michel Jauregui não pretendia deixar barato, por isso, usou todas as cartas que possuía - Não, não! Esqueci-me! Não é mais o querido Thony não é? Oh não! É o Charles Sussex agora! Seu novo e rico amante tão encantador! Será que você também é uma mãe melhor para os filhos dele? Melhor que a Sra. Sussex?!
E eles continuaram ali, se ofendendo com a mesma facilidade que respiravam. Jogando mágoas na mesma veracidade que se jogam facas. Pareciam indolores aos dois, contudo, a filha deles, estava bem ali.
Ela via e ouvia tudo, somando-se com exímia rapidez a sua própria dor
Já que ela não era uma menina, ela tinha que ser um menino, pensando nisso, escolhera por conta própria, ir para Gordonstoun. Aquele lugar, poderia ser sua salvação. E uma fuga segura, de si e de sua adorável família.
°°°°°°°°°°°°°Flashback OFF°°°°°°°°°°°°°

Here Comes the SunOnde histórias criam vida. Descubra agora