Cobra atravessavou a cidade em alta velocidade, sem ligar para faróis vermelhos e radares. Tínhamos acabado de pegar a rodovia e Dom seguia colado atrás de nós.
Eu não conseguia tirar os olhos do retrovisor. Cobra saiu da rodovia e entrou no acostamento diminuindo a velocidade e entrando em um sítio. Ele voltou a correr ignorando as puladas que o carro dava. Logo o farol do carro iluminou um galpão fechado, onde ele entrou dentro e me tirou às pressas de dentro do carro.
Não demorou muito para eu escutar o freio de mão do carro de Dom.
Nessas horas eu já estava sendo refém de Cobra que mantinha o revólver sobre a lateral da minha cabeça.
Dom atravessou a porta do galpão parcialmente escuro com as mãos para cima.
— Que patético! Veio trocar sua vida pela dela? — Cobra zombou e chutou a parte traseira dos meus joelhos me colocando de joelhos. Em seguida, agarrou meu cabelo e manteve o aperto enquanto a outra mão segurava a arma contra minha cabeça.
Eu esperava que Dom tivesse com um revólver escondido atrás da calça, pelo bem dele.
— Se fosse possível, sim — respondeu o loiro imóvel.
Eu não sabia se ele estava sendo sincero, mas a intensidade do seu olhar me fez acreditar nele. Porém, eu não estava aceitando que Dom fosse morto no meu lugar.
— O quê esperava em vir até aqui, desarmado? — Cobra parecia realmente curioso em saber.
— Quero saber o quê você quer em troca da vida dela.
Cobra explodiu em risada feito um lunático.
— Não estou negociando com você. Isso nem é sobre você.
Dom trincou o dente.
— É sobre o quê então?
Ele parecia desesperado.
— Sobre grana, cara. Sempre é por grana, e esse belo rosto vale muita grana! — disse apertando ainda mais os dedos sobre meus cabelos.
Doía...
Dom parecia ligeiramente confuso.
— Quanta grana? Eu te dou mais pela vida dela!
Cobra sorriu sarcasticamente.
— Você é duro. Um ator fracassado. Como pretende pagar pela vida dela?
Dom não se abalou. Ele me lançava uns olhares angustiantes que cortava meu coração.
— Meu pai tem — interrompi. Eu precisava fazer alguma coisa.
— Isso não é um sequestro, gracinha... sua cabeça vale milhões e é isso que eu quero.
Dom aproveitou o momento de distração de Cobra e agiu compulsivamente vindo até mim. Aproveitei os segundos que levou para Cobra tomar uma atitude e chutar sua perna. Não foi o bastante para fazê-lo cair, mas consegui os segundos que precisava para correr de suas garras. Tenho certeza que ficou para trás tufos do meu cabelo em suas mãos nojentas.
Corri mas não o bastante. Escutei tiros, mas não senti nenhum. Dom me protegia com seu corpo enquanto corríamos para fora do galpão. Notei que seu ritmo diminuiu, e então, peguei sua mão e continuamos a correr.
Dom me puxou para atrás de um trator, onde ele recarregou a arma com certa dificuldade. Cobra se tornou inaudível.
Olhei para Dom e me assustei com uma enorme mancha vermelha de sangue em sua costa. Tapei a boca sufocando um grito de pânico.
— Não saía daqui, eu preciso terminar isso — Dom fez menção de se levantar mas eu o puxei pela camisa social branca.
— V-você foi ferido... não pode ir lá, ele vai te matar...
Eu mal conseguia formular uma frase sem gaguejar. Nunca senti tanto medo na minha vida. As lágrimas desciam livremente pela minha bochecha.
— Estou escutando vocês — Cobra cantarolou. Seus passos estavam cada vez mais perto.
O tiro passou de raspão pelo pneu atingindo a grama. Cobra estava jogando com a gente. Dom me segurou pelo braço e rodeamos o trator. Se eu parasse de tremer talvez eu conseguisse salvar a vida de Dom.
Dom levantou o corpo e atirou. Cobra se mexeu e atirou de volta acertando a lataria de cima do pneu. Eu estava agachada atrás do pneu.
— Estou cansando desse jogo de gato e rato. Sei que está ferido, é questão de tempo até você morrer de hemorragia — Cobra disse para Dom que apertava a mão contra o ferimento tentando estancar o sangramento.
Me levantei decidida a me entregar para Cobra. Dom não morreria hoje, não por causa de mim. Rodeei o trator, Dom chegou a me segurar pela blusa, mas eu fui mais rápida.
— Você me quer morta, não ele. Minha vida pela dele, Cobra — propus trêmula de frente com ele.
— Você estragou o jogo — Cobra fez uma careta. Ele parecia realmente decepcionado.
Ofereci meus braços estendidos para ele. Cobra veio na minha direção com a guarda baixa. Seu erro, eu aproveitei para agarrar sua arma e mirar para cima. Chutei sua virilha e ele soltou a arma se ajoelhando de dor.
Corri até a arma, mas Cobra conseguiu segurar minha perna e eu cai. Mas cai perto o suficiente para agarrar o revólver e me virar com tudo para ele. Mirei e atirei, uma, duas, três vezes... descarreguei o pente nele.
Cobra caiu de cara no chão, morto. Me levantei assustada percebendo o quê fiz. Mas eu não tinha tempo para isso. Corri até Dom que respirava com dificuldade. Ele estava pálido e eu tenho certeza que estava como ele.
— Preciso que me ajude a te levantar... — falei segurando embaixo da sua axila tentando levanta-lo. O homem era muito pesado para meus braços magros. — Vo...cê pre...ci...sa levantar — tentei falar em meio aos soluços.
Dom reagiu dobrando os pés para levantar. De pé, consegui arrastar ele até o carro, em meio a tropeços e quase quedas.
Eu estava muito apavorada. O carro era manual e eu estava acostumada à dirigir carros automáticos. Mas isso não foi um empecilho, eu tinha coisas mais importantes para se preocupar; como a vida de Dom.
Se ele morresse... eu não aguentaria... eu preferia a morte do que um mundo sem Dom. No desespero eu percebi o tanto que o amava.
Não respeitei sinal nenhum, e para minha alegria a cidade estava quase deserta. Olhei às horas no painel do carro e me assustei, era madrugada já.
Quase entrei com o carro dentro do hospital. Dom foi levado em uma maca com vários enfermeiros cuidando dele. Tirei um peso enorme do meu coração e me ajoelhei no piso do hospital e orei. Pedi à Deus que não levasse Dom, ele tinha tanto o que viver...
***
É isso, estamos em reta final.
Algum palpite? Estou achando vocês muito quietos :(
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Atração Fatal 🔪
Romance#1 mistério 24/06/2020 #1 aventura 17/06/2020 #1 hot 01/08/2020 Alexia foi sequestrada. Seu sequestrador é quente como o inferno. Mas eles são como água e óleo, não se misturam.