De jaleco branco aberto e mãos no bolso da calça, o Dr. André sorria por ter me pego no fraga.
- Momentos de fraqueza – ele pegou o isqueiro em seu bolso e acendeu o cigarro para mim.
Dei um trago e ofereci à ele.
Ele pegou e deu sua tragada. Sorriu e me devolveu o veneno.
- 10 meses.
- 8 – balancei a cabeça – e porque anda com um isqueiro no bolso?
- Ossos do ofício.
Ele é traumatologista e atualmente chefia área de emergência do hospital próximo à nossa comunidade.
Antes, o morro era um cenário de guerra e frequentemente usávamos os serviços do hospital.
- Vi a ficha de Dona Madalena e sua filha, desconfiei que você estava por perto.
- E eu nem queria – sorri irônica.
- O que houve? – sua expressão era preocupada - não me diz, o marido dela....
- Ex-marido da Helena... na verdade - dei de ombros - ela vai ficar bem?
- Sim, com uma cicatriz no braço e um olho roxo por um tempo. Masss... Deram queixa? E onde ele está?
- Essa é minha agonia. Sem queixa, sem polícia, só o Pepê... O Pedro – limpei a garganta – o Pepê....
- e o Alto da Ponta?
- Não preciso falar mais nada, né?
Ele cruzou os braços e soltou o ar.
- Pensei que isso tinha terminado, com os acordos, principalmente depois que ele salvou a Juíza.
Joguei a fumaça do cigarro no ar e junto com a baforada um som de sorriso irônico.
- Só que não, né?
- Ok, Djeane – descruzou os braços e pôs as mãos no bolso – se me lembro bem, e se as coisas continuam na mesma, ele não dará entrada aqui.
Neguei com a cabeça.
- Merece outro cigarro então.
Peguei a baga joguei no chão e apaguei com o pé.
- Outra hora, André. Tenho que ir.
- Alguém vem te pegar? - disse olhando para os lados.
- Não – soltei um leve sorriso – e sai de casa tão louca, que deixei a carteira em casa.
- Entendi.... hey... Espera vai andando?
- Não se preocupa, não é tão longe e preciso andar e espairecer as coisas em minha cabeça.
- Não, nada disso – olhou o relógio em seu pulso – meu turno termina em 15 minutos. Me espera, ok?
- André... não..
- Jane, por favor?
- Certo.
Ele tirou uma nota de cinco reais do bolso. Pediu duas garrafas de água, me ofereceu uma e levou a outra consigo.
Abri a garrafa e sentei num banco próximo à recepção observando o vai e vem de pessoas no hospital. Rezava para que o Henrique tenha tido sucesso na intervenção junto ao Quirino.
Em 20 minutos o André apareceu em seu carro que estava com um acento infantil na parte traseira e alguns itens de crianças espalhados.
- Bia?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tempos de Dança: Renascimento e Redenções
RomanceRemissão, era tudo que Djane queria. Ficar em seu canto, cuidando da ONG que criou para ajudar aqueles que como ela, uma dia, precisam de orientação, segurança e paz. Ficar em seu canto, ajudando sua irmã a ser a musicista que sempre sonhou. Ficar...