Capítulo 4 - orgulho sem preconceitos.

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De jaleco branco aberto e mãos no bolso da calça, o Dr. André sorria por ter me pego no fraga.

- Momentos de fraqueza – ele pegou o isqueiro em seu bolso e acendeu o cigarro para mim.

Dei um trago e ofereci à ele.

Ele pegou e deu sua tragada. Sorriu e me devolveu o veneno.

- 10 meses.

- 8 – balancei a cabeça – e porque anda com um isqueiro no bolso?

- Ossos do ofício.

Ele é traumatologista e atualmente chefia área de emergência do hospital próximo à nossa comunidade.

Antes, o morro era um cenário de guerra e frequentemente usávamos os serviços do hospital.

- Vi a ficha de Dona Madalena e sua filha, desconfiei que você estava por perto.

- E eu nem queria – sorri irônica.

- O que houve? – sua expressão era preocupada - não me diz, o marido dela....

- Ex-marido da Helena... na verdade - dei de ombros - ela vai ficar bem?

- Sim, com uma cicatriz no braço e um olho roxo por um tempo. Masss... Deram queixa? E onde ele está?

- Essa é minha agonia. Sem queixa, sem polícia, só o Pepê... O Pedro – limpei a garganta – o Pepê....

- e o Alto da Ponta?

- Não preciso falar mais nada, né?

Ele cruzou os braços e soltou o ar.

- Pensei que isso tinha terminado, com os acordos, principalmente depois que ele salvou a Juíza.

Joguei a fumaça do cigarro no ar e junto com a baforada um som de sorriso irônico.

- Só que não, né?

- Ok, Djeane – descruzou os braços e pôs as mãos no bolso – se me lembro bem, e se as coisas continuam na mesma, ele não dará entrada aqui.

Neguei com a cabeça.

- Merece outro cigarro então.

Peguei a baga joguei no chão e apaguei com o pé.

- Outra hora, André. Tenho que ir.

- Alguém vem te pegar? - disse olhando para os lados.

- Não – soltei um leve sorriso – e sai de casa tão louca, que deixei a carteira em casa.

- Entendi.... hey... Espera vai andando?

- Não se preocupa, não é tão longe e preciso andar e espairecer as coisas em minha cabeça.

- Não, nada disso – olhou o relógio em seu pulso – meu turno termina em 15 minutos. Me espera, ok?

- André... não..

- Jane, por favor?

- Certo.

Ele tirou uma nota de cinco reais do bolso. Pediu duas garrafas de água, me ofereceu uma e levou a outra consigo.

Abri a garrafa e sentei num banco próximo à recepção observando o vai e vem de pessoas no hospital. Rezava para que o Henrique tenha tido sucesso na intervenção junto ao Quirino.

Em 20 minutos o André apareceu em seu carro que estava com um acento infantil na parte traseira e alguns itens de crianças espalhados.

- Bia?

Tempos de Dança: Renascimento e RedençõesOnde histórias criam vida. Descubra agora