Capítulo 2: meu canto tranquilo

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Ele percebeu que nem eu e nem o Rô lhe arrumaríamos um lugar para sentar. Assim, resolveu, ele mesmo, retirar uns livros de uma cadeira e por em outro amontoado.

Abriu o paletó que deveria ser mais caro do que a sala inteira e sentou-se.

- Nem precisava se dar o trabalho. De pé mesmo você ouviria minha resposta.

Ele sorriu balançando a cabeça.

- Como vai a Gabriela?

Limpei a garganta e soltei o ar.

- Ora Douglas essa visita não é informal. Poupe-me, não precisa perguntar por ninguém.

Ele coçou o queixo levemente e acomodou o corpo na cadeira.

- Ao contrário do que você pensa, sempre me preocupei com vocês.

Inspirei o ar irritada.

- Me dê uma razão para não te colocar porta a fora com a vassoura.

- Jane... - Rô disse entre os dentes - o olhei torto.

Ele riu. No fundo ele sabe que mesmo sendo mais forte e mais habilidoso, não exitaria em pegar o objeto e fazer de arma para tirá-lo à força dali. Mesmo que eu perdesse a luta, ele sairia com alguma parte do corpo bem machucada.

- OK, não é uma visita informal, mas, não é tão formal assim, é um estender de mão, um apoio, uma ajuda, que estou te oferecendo.

- Como eu disse, me poupe e poupe sua saliva também! Não precisamos de sua ajuda. Deixei isso bem claro com o Pedro.

- Ele me disse. Só confirmou que seria bem difícil, como imaginei.

O Rô estava de braços cruzados olhando de forma séria o advogado em nossa frente.

- Se sabia que a Djeane não mudaria de idéia, o que te trouxe aqui? – o Roque inquiriu.

- Queria ver como estão as coisas de fato. Tem um tempo que não venho aqui na Ponta do Macaco.

- Como você vê, está tudo bem, sem você e sem seus amigos. Estamos bem.

- Não, Jane, não está, você e a ONG estão fazendo a diferença. Está tudo muito melhor.

Engoli seco. Confesso que a ONG é meu orgulho e que mudamos muito a realidade dali. Por outro lado, sustentar isso sem o apoio regular tem me feito reconsiderar algumas coisas, exceto fazer pactos como aqui proposto.

- Obrigada. Então, está vendo que não precisamos de vocês.

- Sim, mas também vejo que a procura por vocês está muito alta. Sua liderança e a do Pepê construíram algo sólido.

Bufei.

- Ao contrário do Pepê, as pessoas me respeitam.

- Medo ou respeito, quando se é líder, não importa as armas que são usadas.

Balancei a cabeça e levantei um sorriso leve.

- Continua cínico, hein?

Ele deu de ombros.

- Diria sobrevivente.

- Com milhões de dólares na conta – completou o Rô de forma irônica - é fácil ser sobrevivente.

- Me julgam muito mal.

- Não é julgamento, passamos por coisas que colaboram com as impressões que temos de você.

- E sua família - completei.

Encostei-me na cadeira velha fazendo um barulho.

- O que você quer Douglas?

- Estabelecer uma parceria.

- Com aqueles termos? – neguei com a cabeça.

- São cláusulas padrões, normais do meio empresarial.

- Mentiroso. Diga a verdade, você quer que formemos soldados, trabalhadores que sirvam cegamente à você e à sua família.

- E onde estariam essas informações? Naquelas páginas?

- Claro, é só ler com cuidado. Ah! Vi também que do jeito como as coisas estão, daríamos legalidade à muita coisa o Pepê anda fazendo. E eu não concordo.

Ele soltou o ar da boca em um claro gesto de impaciência.

- Qual é Djeane, agora sou eu que peço para me poupar dessa falsa hipocrisia, você usous das mesmas armas e caminhos que eu...

- Hey... pare por aí, Dr Douglas. Nossos objetivos eram diferentes.

- Sobreviver era o que tínhamos em comum Djeane – engoli seco – além disso, devo favores à essa comunidade e quero pagar minha dívida.

- Você só tem dívidas com o Pepê para ser mais exato - nos encaramos silenciosamente.

Seus olhos estavam na cor de mel. Senti um arrepio em lembrar as situações as quais encontrei as íris âmbar e como elas acabaram.

Engoli seco.

- Pague-o, então! Siga o seu caminho e nos deixe em paz! – fui firme, tentei não demonstrar que ele estava me intimidando.

- Ele não quer, ele quer que invistamos aqui e achei uma boa idéia. Aliás, nós achamos.

Gargalhei ironicamente

- Quem é "nós"? É família toda? Ou só quem se interessa em enterrar de vez o passado? Como o Samuel, o Marco... Quem mais??? Ah, sua esposa. Como vai a Analice? Aliás, ela sabe toda a sua história?

Ele fechou um pouco a cara. Quer atingir este advogado? Meta a família no meio.

- Estamos todos bem. A Analice sabe o suficiente.. Djeane. E quanto ao Marco e ao Samuel, eles aprovaram, sim, a idéia, mas não pelo motivo ridículo que você acusa.

Fiz um som desaprovação com a boca.

- Me responde uma pergunta – ele balançou a cabeça – agora é que vocês estão são limites, não é?

Ele me deu um breve sorriso.

Levantou-se, limpando a garganta.

- Bem, Djeane, percebi que terei que persuadi-la de outra maneira.

- Persuadir? É a decisão final. Como a parte das decisões administrativas está comigo, assim como registro social.Tomo as decisões.

- Eu sei, sei bem. Bem foi um prazer, Professor Roque Crispiniano? – ele estendeu a mão Rô.

Ele olhou para mim e depois apertou a mão do advogado.

- Eu sei tudo sobre todos que trabalham nessa ONG. Afinal é objeto de desejo nosso.

- Não me espanta que admitas espionagem – o Roque retrucou.

- São armas necessárias que precisamos para dobrar alguns obstáculos.

- Virei obstáculo de sua ambição?

Ele deu de ombros.

- Bem, em breve, nossa conversa vai ser bem diferente. Sei o caminho. Boa noite.

Assim que ele fechou a porta e ouvi o sim do portão batendo, sentei-me na cadeira. Nem tinha prcebido que havia me levantado para discutir com o Douglas e que minha respiração estava alterada.

Orava para mim mesma: "estou tranquila em meu canto, Senhor, não traz esse pesadelo de volta."

- Nossa..!!!!! O dinheiro o deixou mais sexy ou é impressão minha? - olhei para o Rô que descruzava as pernas e relaxa na cadeira à minha fente.

Tempos de Dança: Renascimento e RedençõesOnde histórias criam vida. Descubra agora