Ele percebeu que nem eu e nem o Rô lhe arrumaríamos um lugar para sentar. Assim, resolveu, ele mesmo, retirar uns livros de uma cadeira e por em outro amontoado.
Abriu o paletó que deveria ser mais caro do que a sala inteira e sentou-se.
- Nem precisava se dar o trabalho. De pé mesmo você ouviria minha resposta.
Ele sorriu balançando a cabeça.
- Como vai a Gabriela?
Limpei a garganta e soltei o ar.
- Ora Douglas essa visita não é informal. Poupe-me, não precisa perguntar por ninguém.
Ele coçou o queixo levemente e acomodou o corpo na cadeira.
- Ao contrário do que você pensa, sempre me preocupei com vocês.
Inspirei o ar irritada.
- Me dê uma razão para não te colocar porta a fora com a vassoura.
- Jane... - Rô disse entre os dentes - o olhei torto.
Ele riu. No fundo ele sabe que mesmo sendo mais forte e mais habilidoso, não exitaria em pegar o objeto e fazer de arma para tirá-lo à força dali. Mesmo que eu perdesse a luta, ele sairia com alguma parte do corpo bem machucada.
- OK, não é uma visita informal, mas, não é tão formal assim, é um estender de mão, um apoio, uma ajuda, que estou te oferecendo.
- Como eu disse, me poupe e poupe sua saliva também! Não precisamos de sua ajuda. Deixei isso bem claro com o Pedro.
- Ele me disse. Só confirmou que seria bem difícil, como imaginei.
O Rô estava de braços cruzados olhando de forma séria o advogado em nossa frente.
- Se sabia que a Djeane não mudaria de idéia, o que te trouxe aqui? – o Roque inquiriu.
- Queria ver como estão as coisas de fato. Tem um tempo que não venho aqui na Ponta do Macaco.
- Como você vê, está tudo bem, sem você e sem seus amigos. Estamos bem.
- Não, Jane, não está, você e a ONG estão fazendo a diferença. Está tudo muito melhor.
Engoli seco. Confesso que a ONG é meu orgulho e que mudamos muito a realidade dali. Por outro lado, sustentar isso sem o apoio regular tem me feito reconsiderar algumas coisas, exceto fazer pactos como aqui proposto.
- Obrigada. Então, está vendo que não precisamos de vocês.
- Sim, mas também vejo que a procura por vocês está muito alta. Sua liderança e a do Pepê construíram algo sólido.
Bufei.
- Ao contrário do Pepê, as pessoas me respeitam.
- Medo ou respeito, quando se é líder, não importa as armas que são usadas.
Balancei a cabeça e levantei um sorriso leve.
- Continua cínico, hein?
Ele deu de ombros.
- Diria sobrevivente.
- Com milhões de dólares na conta – completou o Rô de forma irônica - é fácil ser sobrevivente.
- Me julgam muito mal.
- Não é julgamento, passamos por coisas que colaboram com as impressões que temos de você.
- E sua família - completei.
Encostei-me na cadeira velha fazendo um barulho.
- O que você quer Douglas?
- Estabelecer uma parceria.
- Com aqueles termos? – neguei com a cabeça.
- São cláusulas padrões, normais do meio empresarial.
- Mentiroso. Diga a verdade, você quer que formemos soldados, trabalhadores que sirvam cegamente à você e à sua família.
- E onde estariam essas informações? Naquelas páginas?
- Claro, é só ler com cuidado. Ah! Vi também que do jeito como as coisas estão, daríamos legalidade à muita coisa o Pepê anda fazendo. E eu não concordo.
Ele soltou o ar da boca em um claro gesto de impaciência.
- Qual é Djeane, agora sou eu que peço para me poupar dessa falsa hipocrisia, você usous das mesmas armas e caminhos que eu...
- Hey... pare por aí, Dr Douglas. Nossos objetivos eram diferentes.
- Sobreviver era o que tínhamos em comum Djeane – engoli seco – além disso, devo favores à essa comunidade e quero pagar minha dívida.
- Você só tem dívidas com o Pepê para ser mais exato - nos encaramos silenciosamente.
Seus olhos estavam na cor de mel. Senti um arrepio em lembrar as situações as quais encontrei as íris âmbar e como elas acabaram.
Engoli seco.
- Pague-o, então! Siga o seu caminho e nos deixe em paz! – fui firme, tentei não demonstrar que ele estava me intimidando.
- Ele não quer, ele quer que invistamos aqui e achei uma boa idéia. Aliás, nós achamos.
Gargalhei ironicamente
- Quem é "nós"? É família toda? Ou só quem se interessa em enterrar de vez o passado? Como o Samuel, o Marco... Quem mais??? Ah, sua esposa. Como vai a Analice? Aliás, ela sabe toda a sua história?
Ele fechou um pouco a cara. Quer atingir este advogado? Meta a família no meio.
- Estamos todos bem. A Analice sabe o suficiente.. Djeane. E quanto ao Marco e ao Samuel, eles aprovaram, sim, a idéia, mas não pelo motivo ridículo que você acusa.
Fiz um som desaprovação com a boca.
- Me responde uma pergunta – ele balançou a cabeça – agora é que vocês estão são limites, não é?
Ele me deu um breve sorriso.
Levantou-se, limpando a garganta.
- Bem, Djeane, percebi que terei que persuadi-la de outra maneira.
- Persuadir? É a decisão final. Como a parte das decisões administrativas está comigo, assim como registro social.Tomo as decisões.
- Eu sei, sei bem. Bem foi um prazer, Professor Roque Crispiniano? – ele estendeu a mão Rô.
Ele olhou para mim e depois apertou a mão do advogado.
- Eu sei tudo sobre todos que trabalham nessa ONG. Afinal é objeto de desejo nosso.
- Não me espanta que admitas espionagem – o Roque retrucou.
- São armas necessárias que precisamos para dobrar alguns obstáculos.
- Virei obstáculo de sua ambição?
Ele deu de ombros.
- Bem, em breve, nossa conversa vai ser bem diferente. Sei o caminho. Boa noite.
Assim que ele fechou a porta e ouvi o sim do portão batendo, sentei-me na cadeira. Nem tinha prcebido que havia me levantado para discutir com o Douglas e que minha respiração estava alterada.
Orava para mim mesma: "estou tranquila em meu canto, Senhor, não traz esse pesadelo de volta."
- Nossa..!!!!! O dinheiro o deixou mais sexy ou é impressão minha? - olhei para o Rô que descruzava as pernas e relaxa na cadeira à minha fente.
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Tempos de Dança: Renascimento e Redenções
RomansRemissão, era tudo que Djane queria. Ficar em seu canto, cuidando da ONG que criou para ajudar aqueles que como ela, uma dia, precisam de orientação, segurança e paz. Ficar em seu canto, ajudando sua irmã a ser a musicista que sempre sonhou. Ficar...