Capítulo 5 - raiva, paixão e lucidez

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O dia começou agitado.

A polícia civil estava na porta da casa de Dna Madá atrás do Quirino. Bando de urubus, quando ligamos nunca aparecem, só quando tem certeza de alguma morte ou algo bem trágico, aparecem como umas aves da morte.

Um dos agentes me reconheceu e veio trocar uma "ideias" comigo.

Notou minha indisfarçável falta de paciência e disse a verdade que eu impediria que um homem assassinasse a mãe dos seus filhos e quando retornei do hospital, eu não o tinha visto mais naquela noite.

Encontrei o Pepê no final da escada, muito bem vestido conversando com outro agente.

Espero que o delegado não queira fazer acareação entre a gente. Com a paciência que estou corro o risco de contar tudo, sobre ontem, semana passadas, mês passado, ano passado...

O olhei de cima abaixo, não posso negar que ele não chame atenção. Mais de 1,85 m, negro, muito forte, usando um cavanhaque que deixava seu rosto mais angular.

Ele tinha tatuagens que representam a sua religião, o candomblé. Ele é filho de santo da mãe Eugênia. Isso significa que mais protegido que ele só o presidente dos EUA.

Passei reto por ele, não lhe dando tempo para falar nada. Não queria ouvir nem um bom dia.

Andei pela rua meio asfaltada, meio em terra, em direção ao pequeno largo da Ponta do Macaco que abrigava as principais coisas que havia na comunidade: alguns comércios, uma escola de ensino fundamental, o posto de saúde, uma oficina com borracharia...

No entanto quando chegava ao portão da escola municipal que dava aula no período da manhã ele segurou meu braço.

- Fugindo de mim? – soltei-me dele.

- Bom dia em primeiro lugar. E só quem teme algo, foge.... Assim, não estou fugindo de você. Só tenho que chegar cedo ao trabalho.

- Djane – falou meu nome pausadamente.

Isso me lembrou da época fomos casados e quando o contrariava, ele me encurralava no canto, me chamando desse mesmo jeito. Assim, ele conseguia o que queria de mim, meu corpo. Não nos amávamos, mas não nego que o sexo era bom prá cacete. Até hoje seu olhar arrepia meus pelos.

- O que você quer Pedro?

Passou a língua nos lábios.

- Quando você vai deixar de se meter em meus assuntos?

Bufei.

- Não me arrependo de nada sobre ontem.

- Eu sei que não. Mas pôs o Henrique em uma situação complicada.

- Complicada?

- Você não sabe né? Ele e o Jorginho tiveram uma conversa bem animada. Tive que segurar o Henrique....

- Meu Deus, Pedro. Ele é só um menino, porque o pôs nesse seu negócio?

- Eu não queria, ele insistiu.

- Não sabe dizer não?

- Era isso, ou ele se entraria para o Bando das Docas. Eles não são malucos, você sabe, sem controle....

- É, você tem controle de tudo.

- Tento fazer um trabalho consciente com meu grupo – quase ri, mas isso o tiraria do sério.

- O que você quer?

- Eu vim para te pedir duas coisas. Uma, pela enésima vez que não se meta mais em meus assuntos.

Tempos de Dança: Renascimento e RedençõesOnde histórias criam vida. Descubra agora