Memórias Póstumas de Adrian Saint-Clear

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Nome: Adrian Biersack Saint-Clear
Idade: 33 anos
Causa de morte: Parada Cardiorrespiratória
Hora do óbito: 03:30 A.M.
Dia: Sexta-feira (13)

Acordo de um profundo e inconsciente sono. Pergunto-me: onde estou? O que houve? Não sinto meu coração bater em meu peito, nem o suor por conta do nervosismo escorrer em minha testa.

Olho à minha volta e vejo silhuetas femininas e masculinas de preto. Minha cabeça dói muito e minhas costas estão como se houvesse nelas dez toneladas de areia. Mas que raios aconteceu?

  As pessoas choram e secam seus narizes avermelhados em lenços e papéis. Vejo pessoas que nunca vi em minha vida aos prantos. Que escárnio...

Ando por cada centímetro daquele salão. Vejo velhos amigos, alguns primos que nem deveriam estar aqui e que estão tirando sarro. Minha mãe entrou em colapso duas vezes só neste tempo.

  Minha cabeça dói muito e sinto o vazio de meu peito ser coberto pelo manto da morte. Eu nem ao menos lembro como partir desta para melhor.

  Acho que a dor maior vem de todo um sofrimento desnecessário de pessoas que nem ao menos sentem minha falta de verdade. Estou com um terno social preto e que era meu favorito e do qual só minha esposa sabia... esposa?

  As memórias vem à tona como dardos no alvo. Percorro o salão, passando por entre várias e várias pessoas, até que vejo uma mulher ao lado de uma mesa com café e xícaras.

"— Ele está num lugar melhor!"
  É o que eu mais ouço e é o que me machuca. Ou isto: esta alma, ignorando estas perturbações... Caminho em passos lentos e sento-me ao lado da mulher. Com ela, tive os melhores momentos.

Por que a morte tem que ser tão dolorosa e duvidosa? Meus pensamentos estão confusos e ainda há coisas das quais não me recordo. Minha esposa está sofrendo tanto... Será que realmente todo final tem que ser assim...

  Assim, triste? Vejo pessoas tendo histeria e gritando, preciso partir mas não consigo, pois é como se correntes de dor dilacerassem minha alma. Espero que meus filhos não... eu deixei minha família.

  Por quê?! Isto é tão injusto! Os choros e lamentações parecem ficar mais altos. Levanto dali e parece que tudo começa ficar escuro. Cambaleando, vou até o meio do salão e o caixão está prestes a se fechar.

  Será que tudo que vivi valeu a pena? Será que, ao fim de minha vida, só irão restar-me estas memórias? É tanta dor... Será que realmente amei quem deveria amar?!

A vida é muito mais que sofrimento e frustrações. Ela me foi felicidade e só percebi agora...

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