Meu irmão era tão ruim que Krampus o levou.

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Londres, 1853.

P

apai e mamãe, apesar de suas riquezas, nos ensinavam o melhor da educação e humildade e conseguiam nos manter bem e saudáveis, com comidas boas, médicos que vêm nos ver mensalmente. E assim, vão mantendo cinco filhos em pleno século dezoito.

Adam era o mais teimoso, e por ser mais velho, dava exemplo nenhum, somente queria tudo e não se importava com ninguém — bem típico —, e nos maltratava. Só Madelaine que saía em socos com Adam, pois ambos tinham entre quinze e dezesseis anos e, apesar dele ser alto e ter o corpo esguio, ele não poderia bater numa mulher.

— Tomara que Krampus te leve! — agorou minha irmã, empurrando-o, e os dois caindo em cima um do outro.

Véspera do dia 24.

A

dam acordou assustado, com medo, e tão esbranquiçado que parecia que tinha visto um fantasma. Suava demais e repetia palavras como "Medo" e "Saia". O médico foi chamado e verificou que estava com escoreações e o peito marcado, então citou bruxaria. Mamãe duvidou, realmente não mexiam com ninguém, quase não falavam nada.

Madrugada para o dia 25.

E

stava, ainda, acordado lendo um livro de Shakespeare, profundo demais e dotado de uma tristeza descomunal. Com a luz da lamparina em meu quarto e a porta aberta, o sono veio. Ouvi um barulho fraco de sinos e, logo após, uma pancada. Deveria estar alucinando... só podia ser!

Parecia cascos pesados no telhado de casa. Guardei o livro no criado-mudo e assoprei a lamparina ao meu lado. No corredor havia duas lamparinas, o assoalho rangeu e as luzes piscaram

Fui me encolhendo debaixo dos cobertores de couro e pele selvagem, então vejo uma sombra grande, corcunda e de chifres endomoniados... Eu conseguia até sentir seu cheiro podre, mas não consegui ver claramente, porque senti ele me olhar. Segurei minha respiração, logo em seguida ouvi um grito, barulho, correria e depois... o mais profundo silêncio.

Incrivelmente, senti a mão de alguém dizendo: "Boa noite, seja sempre um bom menino." e caí no mais profundo sono.

Assim que acordei, vi neve no quarto. Sem pensar, corri para o quarto de Adam, mas ele não estava mais ali... só tinha alguns respingos de sangue no chão. Caminhei lentamente pelo perímetro, e vi um pedaço de papel no chão:

"Você foi um mau menino novamente, não me escutou 23/12/1853.
Santa Claus."

Ouvi passos correndo e um choro trêmulo ao fundo, eram meus pais e meus outros dois irmãos. Nunca vi algo tão nojento... a perna de minha Irmã estava decepada e estrunchada, dando para ver seus nervos; seus belos cabelos, cortados; seu rosto inchado e um rasgo na sua barriga, que mostrava, escrito com sangue suficiente, "+1". Aquilo foi um marco, e essa história passou adiante. Krampus pode não ser cruel como antes, porque ele só existe para os que temem.

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