IV - Você acredita em magia?

364 34 21
                                    




Estava sentada em um degrau das escadas, nos fundos da padaria, batucando distraidamente com a caneta sobre uma folha vazia do caderno. Dali, era fácil ver o sol se pondo, escondendo-se por trás dos mais altos edifícios da cidade e sumindo finalmente no oceano.

Voltei as folhas do caderno, observando boa parte das anotações que fiz para o livro Até breve, Romeu. Tudo estava ali, desde o começo. A construção dos personagens, cada inspiração, a descrição dos lugares –das ruas, das escolas, dos parques– e tudo o mais.

Romeu estava naquelas páginas. Havia uma parte, cheia de rabiscos de marcadores de texto e desenhos com lápis de cor, só sobre ele. Tudo estava escrito ali, até mesmo as tatuagens e seus planos e sonhos. Algumas ideias que ainda não haviam aparecido no livro, que ainda eram apenas hipóteses. Aquilo tudo construíra Romeu.

Agora havia um garoto real, que se encaixava perfeitamente nas características escritas, que tinha o mesmo olhar que lembro de descrever e até a maldita tatuagem de corvo. E a cereja do bolo: Esse garoto alegava ser Romeu Javadd, não o Romeu que conheci na Itália, não um Romeu qualquer, mas o Romeu que eu escrevi.

Muitas coisas absurdas podiam ser reais. OVNI'S, o Papai Noel e a Barbie Fascista. Tudo isso parecia mais próximo da realidade do que a existência de Romeu Javadd.

Bocejei alto, esticando o pescoço para trás e uni as sobrancelhas ao voltar ao normal.

Lorenzo estava de pé a minha frente, vestindo o uniforme da padaria, tendo um pano pendurado no ombro esquerdo. Franziu a testa, cruzando os braços e inclinou levemente a cabeça.

– Se me perguntar sobre fofocar com a vovó no café da manhã, sou completamente inocente. –Ergui as mãos.

– Tenho minhas dúvidas. –Lorenzo abriu um breve sorriso. – Sei muito bem o que a nona pensa. Ela acha que não reparo nos cochichos.

– Dona Antonella acredita que é discreta. –Comentei, com uma risadinha. – Vamos deixar ela acreditar nisso.

Lorenzo afirmou com a cabeça, os cantos dos lábios segurando uma risada. Ergueu as sobrancelhas, lembrando-se de algo repentinamente e apontou o dedo em minha direção.

– É isso! –Exclamou. – Não, espera, não é isso. Eu vim porque tem um gibi humano procurando por você na padaria.

Inclinei a cabeça.

– O que?

– Ele pediu pão de queijo. E café amargo. –Lorenzo franziu o nariz, balançando a cabeça e murmurou para si mesmo: –Mio Dio, che strano bambino. –Suspirou. –Você vai?

Não tinha ideia do que Lorenzo estava falando. Até a imagem surgir em minha cabeça perfeitamente nítida: Os braços tatuados, a timidez seletiva e o gosto por café amargo.

– Romeu? –Perguntei, ficando de pé imediatamente.

– Não. –Lorenzo me fitou, espantado. – Está maluca? Romeu ficou na Itália.

Pelo menos alguém ainda estava mentalmente são.

– Você devia ir ver antes que a nona veja. Ele parece um chefe da máfia. –Disse Lorenzo.

Arregalei os olhos e puxei meu caderno do degrau, disparando em direção a padaria.

– Julieta! –Lorenzo chamou.

– O que? –Virei-me abruptamente, segurando-me nas caixas velhas para não cair.

– Vocês garotas acham mesmo caras que parecem mafiosos... Hum... Sexy?

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora