XXII - Mestre de volta à ativa

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O oficial fez um gesto com a cabeça.

— Não há nada aqui. — constatou.

Não fui capaz de acreditar no alívio que caiu sobre meus ombros, mas não o compreendia. Meu coração permanecia acelerado e ainda não fazia ideia do motivo para o medo, que corroía minhas entranhas a segundos atrás. Tudo voltava ao normal aos poucos, como o processo de respiração, o qual quase acreditei que não lembrasse.

Tentei mostrar ao diretor e ao oficial Wood que estava calma e não prestes a sair gritando pelos corredores, jogando os braços para o alto e perguntando às pessoas o que elas tanto olhavam. Precisava conter o impulso de voltar a arremessar celulares contra a parede.

Duvido que todos ali tivessem a grana de James Flynn para não precisar se preocupar.

O que não lhes esquentava as cabeças, na hora de julgar alguém e agir como sanguessugas para não perder a chance de estarem presentes em uma grande humilhação.

— Sinto muito pelo transtorno. Espero que entenda. — o oficial Wood me direcionou um sorriso amargo antes de se retirar.

Sr. Stevens marchou em retirada, no encalço do policial, sem me dizer sequer uma palavra. Saiu aos gritos, gesticulando com os alunos para que voltassem a circular e cuidar de suas vidas. O show já acabara.

— Você está bem? — Nick perguntou, em voz baixa.

Apenas sacodi a cabeça. Ainda podia sentir o calor dos olhares voltados para mim, de todos os corpos apoiados em paredes e armários sedentos por algo sobre o que fofocar, para compartilhar, divulgar e desdenhar.

Com apenas alguns cliques, eu seria a traficante mais perigosa da região. Ou a namorada de um deles. Ou teria assassinado um policial e fugido da cadeia. Quem sabe o que alguns compartilhamentos de notícias falsas podem fazer, aumentando e piorando cada vez mais?

Me senti presa em um momento em câmera lenta ao observar James Flynn desfilar pelo corredor, acompanhado de Savanah Young.

A garota não me viu. Alheia ao que estava acontecendo e os adolescentes se dispersando pelos corredores, gesticulava com animação, falando e falando sobre o que quer que fosse enquanto exibia um sorriso animado. Devia acreditar que Flynn estava prestando atenção.

Para a tristeza de alguns, o idiota não parecia sequer ouvir o que Savanah dizia. Ao passar, enfiou ambas as mãos nos bolsos do glorioso casaco de capitão do time de lacrosse e olhou direto e especificamente em meus olhos. Abriu um sorriso que mostrou boa parte dos dentes, malicioso feito Lúcifer, o gato cruel da madrasta da Cinderela.

Minhas sobrancelhas se ergueram por instinto assim que Flynn e Savanah deixaram o corredor. Meu subconsciente pulou por meu cérebro, acendendo todas as luzes e gritando a todos os neurônios que já era hora de acordar. 

O cigarro de maconha no chão. Romeu sorrindo para mim. Todos os alunos gritando e correndo em desespero. Uma denúncia anônima e o cigarro encontrado. E agora mais uma denúncia, diretamente focada em meu armário.

Alguém estava determinado a me colocar em uma encrenca. E minhas apostas iam direto para James Flynn.

— Acho que Flynn quer cavar a minha cova. — contei a Nick, em um sussurro falho.

— Provavelmente. — devolveu Nick. — Mas por que?

— Não sei o que alguém com o cérebro dele considera um motivo justo — desdenhei — para incriminar alguém assim.

Nick e eu ficamos em silêncio. Lembrava do episódio Eragon Club, onde acreditei que mofaria na cadeia sem ter ingerido uma gota de álcool. Assim como quando James levara um soco no próprio corredor da Sant Marie e eu, feito uma idiota, estava lá. E então o cemitério, onde não pude engolir a saliva e rebati todas as ameaças, estufando o peito com a coragem camuflada.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora