VI - Quando a parede ganha um presente

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Mulheres que voam.
           Mulheres de fogo.
           Bruxas.
           Vadias.
           Mudam a nomenclatura, mas
O medo ainda é o mesmo:
           Mulheres livres.
                              @sebastianhoyer.

Tudo o que se precisa saber para estudar na Sant Marie é que a escola pode pegar fogo –metaforicamente falando– de um dia para o outro

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Tudo o que se precisa saber para estudar na Sant Marie é que a escola pode pegar fogo –metaforicamente falando– de um dia para o outro. E ocasionalmente, você só descobre isso quando está no meio das chamas.

O incêndio daquele dia começou com a calmaria que vem antes de uma tempestade.

Fui de ônibus para a escola, vinte minutos mais cedo. Dei o play em uma playlist organizada por Lorenzo, repleta de músicas alternativas ou antigas e, às vezes, as duas coisas. Sempre seria minha playlist favorita.

Desci do ônibus embalada por Sing Of The Times, de Harry Styles. Assim como Lorenzo, eu gostava da melodia, do ritmo e da letra. Me fazia pensar em memórias antigas que não podiam ser alcançadas com as mãos, apenas apreciadas de longe.

Assim que me deparei com a singela multidão em frente à escola, tive a sensação de que deveria dar meia volta e caminhar de volta para casa. Mas em prol da minha dedicação a não repetir de ano outra vez, segui andando, decidida a atravessar o riacho de pessoas sem ser notada.

Não fiz questão de tirar os fones ao passar pelos grupos enquanto observava discretamente seu comportamento. Em sua maioria garotos, desfilavam com os celulares nas mãos, mostrando uns aos outros e explodindo em gargalhadas altas que quase atravessavam a música em meus fones.

Decidi que podia ignorar aquilo. Garotos idiotas sendo idiotas, nada de novo sob o céu nublado de Brighton.

Fui vencida pela curiosidade. Tirei apenas um dos fones, deixando a música soar distante, bem a tempo de ouvir: Acho que é a Julieta De Angelis.

Olhei em direção a voz. James Flynn desceu os óculos escuros –e desnecessários–, direcionando os olhos azuis a meu rosto. Quando seus amigos também olharam, o ego do garoto cresceu como um urso feroz e seu sorriso triplicou.

– Belas fotos, Julieta. –Disse James. Apenas. É claro que deixaria uma incógnita.

– Do que está falando, James? –Perguntei, após um suspiro cansado.

Os garotos trocaram um olhar cúmplice com James e me senti uma idiota descompassada, como se todos soubessem um segredo sobre mim, menos eu.

– Das suas fotos, ora. –James disse, finalmente, como se fosse óbvio. – São lindas, se quer saber minha opinião.

– Não quero. –Franzi a testa, arrancando risadas das pessoas que assistiam nossa conversa. – E que fotos são essas?

James soltou um suspiro de falsa comoção. Tirou o celular do bolso e digitou a senha, estendendo em minha direção.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora