XXXVI - Detetive Julieta

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Estava sentada nos fundos de minha casa. Segurava firme o celular entre os dedos, ainda sem ter contado a ninguém sobre as mensagens que havia recebido. Ninguém sabia.

Não dormi mais durante toda a madrugada. Encarei meu aparelho por horas, aguardando qualquer outro sinal, mensagem ou ligação. Nada aconteceu. Permaneci sozinha, atenta à respiração tranquila de Romeu, com o corpo inteiramente tenso.

Quando amanheceu e Romeu acordou, decidi que precisava tomar uma atitude.

Ele tentou me convencer a ficar, óbvio que tentou, afinal se tratava de Romeu. Me ofereceu café da manhã no sofá, me disse coisas bonitas e me tentou com massagem nos pés. Com um ar de riso e com a certeza de que Romeu era um príncipe, permaneci negando.

E tudo isso não adiantou de porcaria nenhuma, porque agora estava sozinha, assustada e em saber o que fazer. Qualquer companhia seria bem aproveitada.

Destravei o aparelho. De tamanha paranoia, a conversa ainda estava aberta. Eu não havia respondido e nada mais havia sido enviado.

Meu cérebro acendeu de repente.

Minha memória me levou até uma cena específica. A mão de James Flynn agarrou meu pulso com violência, forçando nossa aproximação. Seu olhar era cortante e agressivo, as pupilas dilatadas. Ele estava irritado, irritado de verdade, e me doía admitir que estava me assustando.

James vociferava, rosnava e brigava. Dizia que eu devia voltar ao meu país, demonstrando todo seu descontentamento. Usava um tom que sugeria que qualquer estrangeiro era sujo, ao contrário de sua suposta nacionalidade tão pura.

Eu tentava me soltar quando ele explodiu.

Esse não é o seu lugar, de nenhum de vocês! Nem aqueles ambulantes idiotas ou a porra do seu namoradinho terrorista! — gritara, alterado, apertando meu pulso. Para machucar.

Era óbvio. Era tão óbvio que eu estava irritada comigo mesma por não ter percebido antes.

James já havia feito uma vez, me seguindo até o cemitério e me ameaçando com meu próprio caderno. Não seria novidade aquele garoto prepotente assumir que tinha o direito de se infiltrar na minha vida, tendo em mãos o meu mundo pessoal. Ele só estaria novamente colocando suas garras para fora.

Mas agora tinha ido longe demais.

Busquei pela bicicleta escondida atrás das caixas que ficavam nos fundos. Logo, já estava na rua, com o celular pendurado na cestinha da bicicleta e pedalando às pressas. Não tive tempo nem para avisar onde estava indo.

Como não economizei na segurança ao pedalar feito uma maluca, acabei economizando no tempo. Os carros passavam em vultos, os faróis em gigantescos borrões que não me permitiam ter muita noção do caminho. O sol estava se pondo e a noite já estava chegando.

Flynn morava em um bairro nobre da cidade, ao leste. Enormes mansões, portões dourados e majestosos, homens de terno e mulheres loiras passeando com filhotes de poodles ou chihuahuas. Entre tudo isso, estava a enorme casa em que morava, famosa pelas festas antigas de sua família tradicional e respeitada na cidade.

Dobrei a esquina tão rápido que minha bicicleta quase foi na frente. Já conseguia ver a mansão dos Flynn, ao final da rua, e apenas segui reto sem diminuir nem um pouco a velocidade.

Soltei um longo suspiro ao finalmente parar. Ofegante, nem me mexi sobre a bicicleta, apenas tentando fazer com que minha respiração voltasse a assumir um ritmo normal. Meu peito subia e descia como se eu tivesse corrido a maratona do ano.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora