Romeu desviou o corpo para dentro de meu quarto, caminhando a passos cuidadosos enquanto evitava pisar nas coisas jogadas no chão –basicamente roupas–. Sorriu contra minha expressão desconfiada, como o sol se enfiando entre as nuvens.– Sua avó me deixou entrar, acho que ela gostou de mim. –Romeu comentou.
– Deve achar que somos almas gêmeas. –Murmurei, atônita.
Ele abriu um sorriso divertido. Enquanto sentia que havia acabado de acordar de um sonho confuso, Romeu parecia vender disposição, prestes a correr uma maratona a saltos e cambalhotas.
Cocei os olhos preguiçosamente enquanto Romeu sentava em minha cadeira, na mesa onde costumo estudar e escrever. Ele inclinou o tronco para trás, começando a girar na cadeira feito uma criancinha empolgada.
– Foi aqui que você me criou? –Perguntou ele.
– Não criei você. –Retruquei.
Romeu abriu um sorrisinho, erguendo sugestivamente o canto dos lábios.
Meu cérebro acendeu como luzes de natal, me levando diretamente aos fundos de minha antiga casa, na Itália. Romeu Falak chegara correndo de algum lugar distante, as bochechas vermelhas e suando como nunca. Ele dissera que uns garotos mais velhos queriam bater nele e, quando eu o escondi atrás das caixas, abriu aquele sorriso.
Exatamente como o sorriso de Romeu agora.
E mesmo que aquilo tudo parecesse totalmente surreal, ou exageradamente familiar a ponto de parecer loucura, de alguma forma eu sentia que as coisas estavam se encaixando. Que independente de um garoto recém-chegado e quase desconhecido estar dentro de meu quarto, sentado em minha mesa como se fosse meu familiar, tudo parecia caminhar nos trilhos.
– Você sabe que não pode me pedir para acreditar nessa sua história. –Suspirei.
Romeu parou de girar na cadeira como se eu o tivesse estapeado. Os olhos castanhos se arregalaram quando ele se inclinou para frente, o peito contra as costas da cadeira. E lá estava aquele brilho de garoto sonhador, gritando sob os olhos.
– Minha história? –Repetiu, em um tom exasperado. – Sua história, Julieta! Você não acredita na própria história? Foi o que você escreveu, são as suas palavras, o seu coração. É você.
Abri um sorriso, contagiada pela empolgação de Romeu. Era minuciosamente cômico vê-lo assim, um sotaque familiar carregado, os olhos brilhando pela animação e o sorriso estampando seu rosto enquanto tagarelava sem pensar em parar.
– Então –Concluí, bem-humorada –, você saiu do livro.
– Sim, eu saí.
– Não posso esconder você aqui em casa.
– Não precisa. –Romeu sorriu. – Eu tenho um apartamento.
O silêncio se fez presente no quarto.
– Romeu... –Tentei soar educada. – Você pulou do livro feito uma gazela. –Balancei a cabeça, sorrindo ao dizer: – Você não tem um apartamento.
– Na verdade tenho. Olha só.
Romeu enfiou a mão no bolso traseiro da calça, erguendo vitoriosamente uma carteira surrada. Ao abri-la, vasculhou por pouco tempo, até me mostrar um cartão azul.
Ajoelhei na cama, encarando o cartão nas mãos de Romeu como se fosse um colar raríssimo de rubi roubado do museu, tendo pertencido a alguma rainha guerreira que salvou o reino enquanto os homens achavam que venciam as guerras.
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Até breve, Romeu
RomanceJulieta De Angelis é uma jovem escritora italiana que teve um ano difícil. Após vencer a adaptação à um novo país, atolou-se com o trabalho e reprovou no ano da formatura. Seu livro Até breve, Romeu rodou o mundo das plataformas online com tamanho...