XXVII - O caos de café da manhã

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Não apareci na escola nos últimos três dias. Não estava checando o telefone com muito interesse. Vez ou outra, o assistia vibrar sobre a mesa, enquanto estava deitada no tapete do quarto, trazendo-me informações que eu não queria conhecer.

Meus amigos me ligaram para me contar sobre os acontecimentos que movimentavam o colégio. Agora, mal consigo me lembrar da grande maioria. Respondi com frases curtas e comentários minimamente menos irônicos do que o costumeiro.

Agora, estava sentada nas escadas dos fundos de casa, acompanhada por um cigarro e pensamentos revoltos e intensamente desorganizados. Com a fumaça, as ideias circulavam pelo ar, enrolando-se umas às outras e perdendo-se aos poucos.

Não, isso não é um conselho. Muito menos um incentivo. Passem longe de cigarros. Mas, por favor, sem julgamentos.

Porque isso quer dizer que você é atraído sexualmente por mulheres inteligentes, idiota!

Observei um par de botas de salto alto se aproximar. Aos poucos, os sapatos se misturaram com uma calça escura, das específicas que ficavam boas em uma única pessoa. E então, revelou-se Francine, empurrando os longos fios de cabelo para trás.

Ela abriu um sorriso quando nossos olhos se encontraram. Feliz, mas com um pequeno ar de julgamento, analisando o cigarro em minha mão com o mesmo aspecto de quem julga e compara as mais caras garrafas de vinho da Europa.

Francine sentou ao meu lado. Seu rosto se contorceu em uma careta, a testa franzida e os olhos apertados.

— Gostava mais de quando você dormia para relaxar. — ela confessou. — Ou quando íamos a praia para gritar. Ou até mesmo quando rolava no seu tapete a tarde inteira.

Inclinei o rosto para olhar para Francine. Abri um sorriso que não mostrou os dentes. Estava realmente feliz em vê-la, cansada de precisar fingir interesse pelo colégio Sant Marie e a maioria de seus frequentadores. Não queria mais dar respostas curtas sobre os delírios dos obcecados por teorias da conspiração ou as conquistas frustrantes de James Flynn como capitão do time de lacrosse.

Pelo menos agora, poderíamos falar sobre o que realmente queríamos. Fugir do colégio não era muito difícil, mas fugir de Francine era impossível. Podia ignorar as lições de álgebra por um tempo, mas não havia como fugir de minha amiga, que alguma hora apareceria em minha porta, com três sacolas penduradas nos braços, exibindo um sorriso perfeito e trazendo a promessa de que poderíamos nos divertir.

— É bom ver você. — fui sincera.

— É claro que é. — Francine concordou, deslizando as unhas bem pintadas pela calça jeans. — Sinto muito por ter demorado tanto. Meus pais resolveram redecorar a casa inteira, literalmente inteira, e está tudo de cabeça para baixo. Acho que perderam o gato. — ela coçou a nuca. — Mas como você está?

Larguei o cigarro no chão e o apaguei pisando firme com o tênis. Sob os olhos de Francine, ergui-me da escada e abandonei o pequeno objeto que poderia me matar na lata de lixo dos fundos do quintal.

Andei para trás, fazendo uma careta ao tropeçar em meus próprios pés calçados em botas escuras e velhas que encontrara embaixo de minha cama e pegara para limpar o quintal.

Não tinha muita certeza de onde estavam meus pensamentos. Em um primeiro momento, pareciam estar dentro da caixinha que era meu cérebro. No outro, percorriam as escadas para cima e para baixo como espíritos de natal travessos.

— Espero que o gato ache seus pais. — franzi a testa. — Que seus pais achem o gato. Como é mesmo o nome dele?

— Nevoeiro.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora