XXIV - Acorde, Julieta, temos visitas

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Romeu era um ótimo ouvinte, uma de suas qualidades que eu mais admirava. Poderia não entender uma vírgula, mas permaneceria a sua frente, acenando com a cabeça para que continuasse e fazendo poucas perguntas.

O que veio muito a calhar quando precisei de alguém para contar o que vira na noite anterior, sem criar alarme de nível nacional entre Francine e Nicholas.

Esclareci tudo que foi possível, pulando alguns detalhes, como a afirmação incorreta de Nicholas ou minha queda nada gloriosa em um jardim repleto de glamour. Contei sobre estar em um bairro caro e sobre explorar o jardim, até a parte onde encontrei James Flynn e uma figura misteriosa.

Mestre.

Poderia mesmo ser o –ou a?– traficante noticiado nos jornais na última semana, agindo diretamente nas escolas do sul de Brighton? Se Flynn estava envolvido com alguém assim, estaria encrencado até o pescoço e faria qualquer coisa para livrar a própria barra.

Os olhos de Romeu estavam fixos nos meus, as pupilas tendendo a se dilatarem, atencioso como o melhor aluno da classe. Toda a atenção me incentivou a falar, falar e falar até cansar.

— E então? — perguntei, a agitação me transformando em uma criança saltitante. — O que você acha?

— O que? — a expressão alerta de Romeu deu lugar a uma careta confusa.

— Como assim o que?

Encarei o rosto de Romeu com tanta confusão quanto ele encarou o meu. Forcei meu cérebro a raciocinar mais rápido, para pelo menos perguntar, o que estava acontecendo.

A lâmpada se acendeu, iluminando meus neurônios. Abri um sorriso e perguntei:

— Você não prestou atenção em uma palavra do que falei, não é?

— Nas cinco primeiras. Depois fiquei pensando em como você fica bonita assim, toda empolgada com algo. — Romeu confessou. — E aí pensei em beijar você. Desculpe.

Pisquei os olhos devagar. Não esperava aquela resposta, então não foi surpresa quando senti minhas bochechas se aquecerem, certamente vermelhas como tomates.

Era inaceitável que ele ainda conseguisse me pegar de surpresa!

Um murmúrio ilegível deixou meus lábios. Balancei a cabeça, antes de dar a Romeu a chance de perguntar, e virei o rosto na intenção de observar qualquer ser humano que passasse por aquele corredor e me permitisse fugir daquela conversa.

Savanah Young estava do outro lado do corredor, remexendo o próprio armário, enfiando as mãos entre casacos, livros e fotos amassadas. Ao seu lado, estava James Flynn, a lateral do corpo apoiada em um armário qualquer. Poderia estar conversando com a garota ao seu lado, mas tinha os olhos praticamente em cima de mim.

Não tive escapatória a não ser olhar para Romeu. Ele também havia notado e balançava a cabeça em negação, incomodado. Não havia pessoa no mundo capaz de convence-lo a se entender com Flynn.

— Ele vai me vigiar. Deve saber que eu vi. — agora era eu quem estava incomodada, passando os dedos pelos cabelos que mal chegavam aos meus ombros. — Estou ferrada.

Cacete.

Inclinei o rosto, sem entender.

— Cacete. Dane-se Flynn, Julieta. — frisou Romeu.

Comecei a negar com a cabeça. Poderia parecer uma pateta, mas ainda não estava entendendo onde chegaríamos com o rumo da conversa mudando tão de repente.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora