VIII - Fragmentos de família

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A aula de ginástica, meu terrível e prolongado tormento, finalmente havia acabado. Estirei-me sobre o banco, encarando o teto do vestiário, balbuciando frases sem sentindo enquanto suava feito um porco. Tudo que eu queria naquele momento era deitar em uma banheira com água quente, fechar os olhos e fugir de todas as aulas restantes.

Abri os olhos e respirei fundo, expirando tão profundamente que desconfiei que o ar liberado pudesse varrer o ambiente inteiro, fechando portas e janelas. Precisava criar coragem para levantar, tomar um banho e sair dali.

Escolhi uma playlist aleatória entre as várias que criei, muitas com participação de Lorenzo. Então arrastei-me corajosamente até um dos chuveiros, aproveitando a solidão de um jeito que raramente era possível na escola. Todas as meninas já haviam ido embora, decididas a chegar no horário das aulas.

Abri o chuveiro e fiz uma careta com a água gelada caindo sobre meus ombros, praguejando baixinho em minha língua natal uma série de palavrões que, se minha nona ouvisse, seguraria em minha orelha e sairia me puxando pelo vestiário enquanto me mandava limpar a boca com sabão.

Sorri ao imaginar a reação de dona Antonella, assim como sorri por sentir a água esquentando, aos poucos tornando-se agradável. O colégio Sant Marie não era nenhum paraíso tropical, mas aquilo teria de servir.

Foi um banho rápido. Desliguei o chuveiro e puxei uma toalha, enrolando-me enquanto caminhava para o armário em que havia deixado as roupas para voltar para a sala.

Fiz uma careta ao abrir meu armário, dando de cara com uma bagunça da qual eu não lembrava. Roupas espalhadas, um casaco pendurado, cremes, toalhas e pentes. Havia um espelhinho na porta do armário, o qual usei para ver minha imagem enquanto inclinava a cabeça. Nada de novo: Cabelos encharcados grudados em meu rosto, olhos sonolentos, pele pálida e...

Arregalei os olhos, soltando um grito de susto e me virei sem nem pensar, pronta para arremessar um pote de creme na figura sentada no banquinho em que eu estava minutos atrás.

– Não joga! –Diana gritou.

Parei na metade do caminho, os olhos arregalados e o pote de creme em minha mão.

Você sai do além! –Disparei.

– Do além não, docinho. Respeite o meu departamento.

Estreitei os olhos em sua direção. Diana sorriu e ergueu o dedo indicador, desenhando um círculo no ar e apontando para meu armário.

– Você precisa se vestir. –Disse ela. – Tenho uma coisa para mostrar.

Rolei os olhos ao me virar para o armário, organizando minimamente as peças de roupa. Precisava sair dali para escapar de Diana ou segui-la em direção a só Deus sabe o que ela queria me mostrar.

Já seria a segunda vez que eu acompanharia uma pessoa desconhecida para um lugar também desconhecido. Estava abraçando com amor e carinho as chances de ir direto para uma encrenca tão grande quanto um elefante.

Escondi-me por trás das divisórias dos chuveiros, vestindo as roupas o mais rápido que pude. Mesmo vestida, ainda tinha a sensação de que algo estava faltando ou que alguma peça estava de trás para frente.

Diana estava me esperando feito guarda costas na porta do vestiário, os braços cruzados elegantemente e um sorriso convidativo no rosto. Assim que me viu pronta, bateu palminhas aos pulinhos feito uma criança empolgada no parque de diversões.

– Estamos prontas! –Diana comemorou e, em seguida, apontou para o corredor. – Vamos, apresse-se, rápido!

Revirei os olhos uma segunda vez ao acompanhar Diana pelo corredor. A garota caminhava elegantemente, como uma princesa, com os braços sutilmente próximos do corpo. Parecia ter treinado anos de etiqueta, os passos transparecendo leveza enquanto exibia um sorriso para o corredor praticamente vazio.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora