X - Bosque de coincidências (Atenção no aviso!)

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O intervalo na Sant Marie era um caos. O que poderia ser um momento de descanso, era na verdade a reunião de tudo que é de catastrófico no colégio: adolescentes com raiva, adolescentes tristes e adolescentes felizes demais, o que tornava tudo muito suspeito. Dezenas de grupos seletivos reunidos em suas respectivas mesas, como clubes fechados.

Por ironia do destino, um de meus grupos favoritos era o que reunia as líderes de torcida por um simples motivo: haviam deixado o ridículo padrão estético para trás a muito tempo. Haviam garotas baixinhas, magras, altas, consideradas acima do peso e de todas as descendências e origens possíveis.

O respeito à diversidade que o colégio fazia questão de enfatizar era admirável. Mas, como nem tudo é um mar de rosa, ainda havia uma grande quantidade de alunos que prefere acreditar que o mundo é apenas preto e branco e que segue um único curso. E, vez ou outra, esses alunos achavam que tinham o direito de diminuir alguém –como o caso das fotos íntimas vazadas–.

Eu me orgulharia sempre de viver constantemente acompanhada por Francine e Nicholas, pessoas que jamais permitiriam injustiças no ambiente em que pisassem.

– É aí que está a questão. –A voz de Francine me trouxe de volta a realidade. – Por que não temos um clube de dança?

– As líderes de torcida tem projetos praticamente o ano inteiro. –Nicholas inclinou a cabeça. – Por que agora você quer dançar?

Lancei um olhar de curiosidade a Francine. Ela já tentou futebol, tênis, pintura, ciclismo, escalada e finalmente descansara no vôlei. Porque na quadra, descarregava toda a raiva que os sapatos de salto não permitiam.

– Porque não tenho a paciência da bonitona aqui –Francine apontou a unha cor de rosa para mim – para acordar cedo, pegar uma garrafa de água e caminhar na praia. Preciso descarregar raiva.

Nick abriu a boca para falar, mas o interrompi com toda a gentileza que fui capaz de reunir:

– Isso porque não está no meu quarto quando estou com bloqueio criativo. –Fiz uma careta com as lembranças se tornando mais claras. – Eu descarrego bastante raiva. Tudo voa lá dentro. –Arqueei as sobrancelhas. – Acho que tem uma calcinha minha em cima do armário.

Nicholas e Francine me encararam por longos segundos que passariam facilmente por minutos. Ele, com a testa franzida e a cabeça inclinada para o ombro direito. Ela, com os olhos castanhos arregalados como o guaxinim totalmente enérgico e alvoraçado de Pocahontas.

– É bonitinho quando você solta essas filosofias... –Murmurou Francine.

– Quando elas não envolvem calcinhas em cima do armário. –Acrescentou Nick. – Aí é meio assustador.

Dei de ombros, voltando a entreter-me com minha pequena tigela repleta de frutas. As cores vibrantes das frutas me divertiam tanto quanto o sabor, uma explosão de cores dentro da minha boca.

Não fumei hoje. Posso provar.

Ergui a cabeça, deixando o som da conversa de Nick e Francine e a falaçada caótica do refeitório embalarem meus pensamentos. Bem a tempo de ver Romeu desviando das mesas, seguindo seu caminho sem olhar para os lados e segurando uma bandeja vermelha repleta de comida.

Não posso negar minha surpresa. A última vez que vi uma bandeja daquele tamanho, estava encarando minha própria bandeja após uma prova de cálculo avançado. Depois de enfrentar uma hora e meia de puro desespero, eu só precisava comer.

Romeu negou com a cabeça um convite para se sentar com as líderes de torcida, exibindo um sorriso gentil. Uma delas arregalou os olhos para sua bandeja, acompanhando-o com os olhos e cochichando para a amiga ao lado. Em seguida, as duas estavam rindo.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora